A represa do Salto Grande foi, nas décadas de 70 e 80, um dos pontos turísticos mais importantes de toda a região de Campinas, mas com o crescimento populacional das cidades de seu entorno, acabou sendo bastante afetada pelo descarte de esgoto
O gerente de Meio Ambiente da CPFL Renováveis, que administra a barragem da Represa do Salto Grande, em Americana, Daniel Daibert, foi sabatinado na Câmara nesta quinta-feira (24) e, durante o encontro com os vereadores, admitiu que a empresa “enxuga gelo” com o trabalho de remoção das plantas macrófitas, conhecidas como aguapés, que proliferam no reservatório.
Ele apresentou dados alarmantes sobre a qualidade da água e disse que somente um trabalho de interrupção no descarte de esgoto no Rio Atibaia ao longo de 18 cidades acima de Americana é que poderá solucionar o problema do reservatório.
A represa do Salto Grande foi, nas décadas de 70 e 80, um dos pontos turísticos mais importantes de toda a região de Campinas, mas com o crescimento populacional das cidades de seu entorno, acabou sendo bastante afetada pelo descarte de esgoto.
Segundo estudos da CPFL Renováveis, o esgoto gerado por aproximadamente 260 mil pessoas – mais que a população inteira de Americana – é descartado no Rio Atibaia ao longo de 18 cidades. Com isso, nos últimos anos, a qualidade da água chegou a níveis inclusive impróprios para banho.
De acordo com Daibert, na medição de qualidade feita em janeiro deste ano, a qualidade da água foi considerada a segunda pior possível, com concentração “elevadíssima” de nutrientes.
No começo deste mês, em outra análise, foi constatada a presença de cianobactérias.
A alternativa tem sido o manejo das plantas macrófitas, que têm o poder de filtrar a água, diminuindo a concentração de matéria orgânica.
No entanto, as plantas têm alto poder de proliferação e, em excesso, também são prejudiciais ao uso da represa.
Por isso, a CPFL tem trabalhado constantemente na remoção de parte das plantas para manter apenas a quantidade necessária para o tratamento da água.
“As plantas são um efeito desse desequilíbrio ambiental. A ocorrência dessas plantas é um efeito, não a causa. É uma resposta ambiental para equilibrar o ecossistema. Nossa preocupação é não erradicar as plantas, porque se erradicar, vai voltar aquela mancha verde que ocasionou aquela situação de 2014, o famoso episódio do pato verde”, explicou o gerente.
Atualmente, cerca de 40 hectares dos quase 1,2 mil têm macrófitas e, segundo a CPFL, a quantidade limite saudável é de 80 hectares. Esse processo, no entanto, tenta apenas controlar o problema.
“O que a CPFL faz é enxugar gelo. A gente tira a planta, a planta cresce. Enquanto não se atacar a causa, a origem, que é o lançamento de esgoto, a gente vai continuar fazendo esse trabalho, e a população nunca vai voltar a ter a situação de décadas atrás, que as crianças nadavam ali. Hoje, qual pai vai ser irresponsável de colocar uma criança naquela água? Eu não tenho coragem de colocar meus filhos ali, de jeito nenhum”, afirmou Daibert.
A solução, segundo o gerente, está na interrupção do despejo de esgoto no Rio Atibaia.
“O principal ponto é de fato a gente buscar um em conjunto, empresa, Câmara, prefeituras, Estado, Agemcamp, Ministério Público e comunidade. Mas trabalhar em prol da solução do problema, que é saneamento. Se não houver solução no saneamento, nós nunca vamos resolver o problema do reservatório”, disse.