quinta-feira, 20 fevereiro 2025
NATUREZA

Mudanças climáticas e expansão urbana forçam migração de animais silvestres em Santa Bárbara d’Oeste

No último mês, pelo menos três animais silvestres foram encontrados em áreas urbanas em Santa Bárbara d'Oeste
Por
Diego Rodrigues

No último mês, pelo menos três animais silvestres foram encontrados em áreas urbanas de Santa Bárbara d’Oeste. Especialistas destacam que a urbanização e as mudanças climáticas podem estar entre as causas desse fenômeno na fauna local. Prova disso foram os alagamentos registrados recentemente na cidade.

Em 27 de janeiro, um tatu foi visto na Rua da Ervilha, no Jardim Pérola. Agentes da Guarda Municipal (GM) o conduziram até uma área de mata próxima.

Na primeira semana de fevereiro, um macaco-prego foi filmado por uma moradora na Rua São Marcos, na Vila Dainese.

O terceiro animal encontrado foi uma capivara com sinais de disparo de arma de fogo. Ela foi resgatada pelo Corpo de Bombeiros em 13 de fevereiro, dentro da Igreja Sagrado Coração de Jesus, na Rua Floriano Peixoto, no bairro Santa Cruz. Ela não resistiu aos ferimentos e morreu um dia depois.

Macaco-prego foi flagrado por moradores em área urbano. Foto: Reprodução/Redes sociais

O QUE LEVA OS ANIMAIS SILVESTRES ÀS ÁREAS URBANAS?

O professor de Biologia da Rede Pública de Ensino do Estado de São Paulo, Leandro Pontes, explica que diversos fatores contribuem para esse deslocamento.

“A urbanização é uma das principais razões. À medida que a cidade se expande, o habitat natural dos animais diminui”, afirma Pontes.

Ele ressalta que essa expansão ocorre de duas formas: pelo crescimento imobiliário e pela ocupação irregular de áreas verdes, frequentemente associada a queimadas ilegais que destroem o ambiente natural.

Em 2025, segundo o professor, as mudanças climáticas se tornaram um fator preponderante nesse fenômeno migratório.

Resgate de Capivara que buscou abrigo em igreja de Santa Bárbara d’Oeste. Foto: divulgação

“Períodos prolongados de chuva podem modificar o habitat das espécies silvestres, levando-as a buscar novos ambientes. O mesmo ocorre em estiagens prolongadas. Para muitos animais, o meio urbano se torna atrativo pela facilidade de encontrar alimento”, explica.

Segundo Pontes, essa oferta de alimento ocorre de duas formas: pelo lixo orgânico descartado pela população e pela alimentação direta feita por pessoas, o que pode ser prejudicial aos animais.

“Embora muitas vezes seja bem-intencionado, alimentar animais silvestres pode comprometer sua saúde e até torná-los agressivos”, alerta o biólogo.

Além disso, o contato com esses animais pode representar riscos sanitários. “Doenças transmitidas por animais silvestres podem se tornar problemas de saúde pública, como ocorreu com a Covid-19, resultado da interação entre humanos e animais”, observa Pontes.

POSSÍVEIS SOLUÇÕES

Entre as alternativas para mitigar o problema, o professor aponta a necessidade de um planejamento urbano eficiente e maior fiscalização das áreas verdes.

“É fundamental que a expansão das cidades ocorra de forma vertical, reduzindo o desmatamento. Na nossa região, queimadas frequentes causam impactos significativos, como a recente fuligem que alterou a cor do céu”, destaca.

RESGATE E CUIDADOS COM OS ANIMAIS

A médica veterinária Thaisa Pardini, que atende animais silvestres resgatados em sua clínica em Americana, cita algumas das espécies que recebe com frequência.

“Atendemos diversas aves, como maritacas, papagaios, urubus, gaviões e corujas, além de gambás e cágados-de-barbicha, encontrados em córregos”, relata.

A veterinária Thaisa Pardini, especialista em animais silvestres. Foto: Arquivo pessoal

Os animais chegam à clínica por meio da Guarda Municipal ou por resgates independentes realizados por moradores. Ao dar entrada, é necessário registrar um boletim de ocorrência para formalizar a internação.

Thaisa alerta que muitas dessas espécies podem transmitir doenças aos humanos, como raiva, febre maculosa, candidíase e clamidiose.

“O manuseio desses animais exige precaução. É fundamental o uso de luvas, máscaras e outros equipamentos de proteção”, orienta.

Ela também ressalta que alguns animais chegam à clínica em estado crítico e não podem mais retornar à natureza.

“Recebemos um urubu que perdeu uma asa após ser baleado. Ele terá que viver para sempre na clínica”, lamenta.

Por outro lado, quando possível, os animais passam por um processo de reabilitação para que possam ser reintegrados ao ambiente natural.

ANIMAL SILVESTRE NÃO É PET

A vereadora Roberta Lima (PRD), de Americana, que tem como principal bandeira o bem-estar animal, reforça a importância de diferenciar animais silvestres de animais domésticos. Recentemente, uma onça-parda foi flagrada na cidade.

“Um animal silvestre não é um pet. Se um macaquinho ou outra espécie aparecer, não tente domesticá-lo”, enfatiza.

A vereadora de Americana Roberta Lima durante entrevista à TV TODODIA.

Ela orienta que a população só deve intervir se o animal estiver ferido. “Caso encontre um animal silvestre machucado, entre em contato imediatamente com a Guarda Municipal e registre um boletim de ocorrência”, recomenda.

Entre os ferimentos mais comuns tratados na clínica, estão lesões causadas por fios elétricos ou linhas de pipa, ataques de cães e disparos de arma de fogo, que afetam principalmente corujas, gaviões e urubus.

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