Depois de décadas em silêncio, um patrimônio histórico de Santa Bárbara d’Oeste voltará a receber fiéis. A antiga capela da Usina Santa Bárbara foi adquirida pela Diocese de Piracicaba e será reaberta para missas e celebrações. O espaço, que permaneceu fechado por muitos anos, guarda parte da memória religiosa e cultural do município.
Acordo viabilizou retomada
A retomada das atividades é resultado de um acordo firmado no fim de setembro. Uma negociação que envolveu a Diocese, os proprietários da área e também a prefeitura. Foram pelo menos três anos de conversas até que o entendimento fosse possível. Depois de uma tentativa de comodato, a compra da dívida da área, no valor de aproximadamente R$ 800 mil, acabou se tornando a forma viável de garantir que o local passasse a pertencer à Igreja.
Com o acordo, a Igreja Católica passa a ser proprietária de uma área de pouco mais de 9 mil m², que inclui a histórica capela.
Local histórico
O bispo de Piracicaba, Dom Devair Araújo da Fonseca, determinou que a capela terá São Pedro como padroeiro, em memória ao nome da fazenda onde o templo foi construído. Porém, em seu auge, na década de 1960, a Capela da Usina Santa Bárbara teve Nossa Senhora de Fátima como primeira padroeira.
Para contar um pouco dessa história, é preciso retornar à década de 1940, quando foi construída a primeira capela da fazenda em homenagem ao Coronel Luís Alves, o homem que adquiriu a Usina Santa Bárbara em 1922 e esteve à frente das ações da companhia até falecer em 4 de dezembro de 1936.
Essa primeira capela levou o nome de São Luís para cumprir a homenagem dos familiares, mas, segundo o historiador Antonio Carlos Angolini, acabou ficando pequena e, por isso, foi necessária a construção da nova igreja para atender à comunidade.

“O pessoal das colônias frequentava a Capela de São Luís. Mas era muita gente, a usina Santa Bárbara era efervescente. O que acontece é que resolveram depois, no final dos anos 50, construir uma nova capela, maior, que pudesse atender. Então, nos anos 60, foi lançada a Pedra Fundamental”, contou o historiador.
Os anos de 1960 foram o auge das missas na capela, até então Nossa Senhora de Fátima, com celebrações de primeiras comunhões e até de casamentos, segundo relatos de antigos moradores da cidade.
Mas o período de atividades da capela acabou durando pouco, chegando ao fim ainda antes dos anos 70, por divergências com a Diocese e, posteriormente, com a venda da Usina.
Expansão da cidade
Após iniciar a história no século passado e permanecer fechada por décadas, começa agora uma nova era para a Igreja Católica em Santa Bárbara d’Oeste, com a reabertura da capela.
A área da Usina Santa Bárbara está localizada em um ponto da cidade que vem passando por um processo de expansão nos últimos anos, com a construção de casas, condomínios e diferente tipos de comércios, por isso muitas pessoas têm escolhido morar nesta região.
“Percebemos realmente uma expansão da cidade naquela direção. Em outra parte, a cidade já se encontra com Americana, e ali não tem muito como expandir. Mas essa região tem projetos de aumento de bairros, de condomínios. Então, a igreja precisa estar atenta a essas realidades”, disse Dom Devair.
No futuro, a Diocese não descarta que a capela possa se tornar uma paróquia, justamente por contar com estrutura, espaço e localização favorável.

Capela pertence a Paróquia São Paulo Apóstolo
Quem estará à frente das decisões da nova capela é o padre Agnaldo Moreira da Silva, que desde 9 de fevereiro de 2013 é pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo, localizada na região do Jardim das Laranjeiras, em Santa Bárbara.
“O padre Agnaldo foi o primeiro padre que mostrou interesse naquela capela. Desde que eu cheguei aqui, em 2021, o padre Agnaldo sempre falava dessa capela. O padre Aguinaldo tem uma visão pastoral bastante diversificada”, explicou o bispo de Piracicaba.
A primeira missa da Capela São Pedro já foi celebrada. No dia 3 de outubro, o padre Agnaldo utilizou a estrutura, ainda improvisada, para conduzir a celebração que marcou o início de uma nova era para a igreja. O momento reuniu muitos fiéis, que participaram da missa e fizeram uma oração especial pelo local.

Segundo padre Agnaldo Moreira, a celebração foi necessária para reiniciar a história da capela. “Eu precisava rezar uma missa lá. Ali eu encontrei pino de cocaína, corotinho de bebida, preservativo. As pessoas iam lá para se drogar, para se embriagar, para fazer sexo. Dentro de uma igreja, uma igreja que no passado as pessoas tiveram a primeira experiência de Deus”, contou.
O padre ainda lembra que, na primeira vez em que surgiu a possibilidade de assumir a capela da Usina, há sete anos, ele fez uma oração no local e deixou um terço. Anos depois, o objeto foi encontrado por um membro da paróquia durante a limpeza do espaço, realizada antes da primeira missa.
Para o religioso, o reencontro com o terço foi um sinal de confirmação da missão. “Foi o dia em que eu consagrei a Capela São Pedro à Nossa Senhora Desatadora dos Nós”, recorda.
Planejamento sobre os próximos passos
Neste primeiro momento não há programação de novas missas e celebrações na capela São Pedro. Será necessário um projeto de restauração da capela, que é patrimônio histórico da cidade e, por isso, não pode ser derrubada ou reformada.
Com uma área superior a 9 mil m², o projeto é considerado ambicioso para o espaço disponível. O padre Agnaldo, que está em viagem pela Bósnia e por Portugal, informou que as decisões sobre os próximos passos serão definidas após o retorno. Durante a viagem, ele pretende rezar pela capela São Pedro diante de Nossa Senhora de Medjugorje.
O padre garante, no entanto, que o projeto é grande e tem a Casa de Maria como inspiração. “A minha ideia, por ser uma área muito grande, é claro que nós vamos ter que falar com arquiteto, ter que falar com engenheiro, é colocar em torno de uma área um centro de evangelização. Tanto é que eu já chamo ali de Beracá, que significa Vale de Bênção”, adiantou.