A polêmica tomou conta de novo das redes sociais e da programação da TV. A bandeira confederada – símbolo cultuado pelos descendentes dos sulistas norte-americanos que imigraram para a região no século 19 – passou a ser associada ao ódio contra os negros e defesa da supremacia branca.
Mas a avalanche de informações – quase sempre sem embasamento – não vai afetar os valores de quem defende que o estandarte representa um símbolo da saga enfrentada por centenas de famílias que deixaram a terra natal para construir a vida muito longe de casa, a duras penas.
Para o presidente da Fraternidade Descendência Americana, o publicitário João Leopoldo Padovese, o culto à bandeira confederada – manto vermelho com “X” azul e estrelas brancas – hoje remete à memória das famílias. Não existe hoje nenhuma apologia à escravidão.
PADOVESE | Diz que não há qualquer apologia à escravidão (Foto: Divulgação)
Padovese aposta. Passada a pandemia, com o retorno da festa confederada no Cemitério do Campo, em Santa Bárbara d’Oeste, a bandeira vai estar lá, decorando o ambiente.
O evento é tradicional: há apresentações de danças e músicas, além de comidas típicas do Sul americano. “Lembramos com orgulho dos ancestrais que morreram na Guerra da Secessão, e dos que lutaram para sobreviver por aqui, trabalhando muito e criando os filhos”, disse.
FESTA CONFEDERADA | Local do tradicional evento que acontece no Cemitério do Campo, em Santa Bárbara (Foto: Ernesto Rodrigues | TodoDia Imagem)
A causa de toda confusão é que a bandeira confederada era usada, naquele conflito, para identificar os estados do Sul, que tentavam impedir a abolição da escravatura e buscavam independência em relação às 13 colônias do Norte.
Com a derrota do Sul no conflito, a bandeira não saiu de cena. Ela ainda é ostentada com orgulho por muitos grupos e alimenta discussões sobre o que ela representou ou ainda supostamente representa na sociedade.
Existem, até hoje, grupos extremistas que, nos Estados Unidos, a usam como um símbolo da “supremacia branca”.
Um evento violento este mês, na cidade de Charlottesville (Virginia), acalorou a polêmica. Naquele dia, um grupo de direita fazia uma passeata de protesto contra a iniciativa de representantes de esquerda, que planejavam remover de um parque uma estátua do general Robert Edward Lee, líder das forças militares sulistas. A esquerda o considera racista. Os rivais políticos se enfrentaram na rua: houve feridos e até um morto na confusão.
Padovese explica que os estados sulistas eram sim, na guerra civil, contrários à abolição, por conta de um contexto cultural, social e econômico de momento. Mas a escravatura, diz, era apenas um dos tópicos de uma pauta muito maior de reivindicações políticas sulistas, reprimidas com armas pelo Norte.
O próprio militar Lee, observa, não era extremista, nem defensor da superioridade dos brancos ou da escravidão dos negros. Para Padovese, Lee não pode ser visto como representante, hoje, das causas defendidas por grupos extremistas de direita.
Os radicais, enfim, na visão dos descendentes, se apropriam de um símbolo que de fato não é deles.
SAIBA MAIS
A bandeira confederada – símbolo maior dos estados separatistas do Sul – de onde vieram as famílias que se estabeleceram, na região durante a segunda metade da metade do século 19 – era lembrada no brasão do município de Americana até o fim da década de 90 (abaixo à esq.). Além da cruz-de-santo-andré estrelada, o escudo era guardado por dois soldados vestidos com indumentárias sulistas. O escudo foi mudado (abaixo à dir.) ainda no governo do então prefeito Waldemar Tebaldi que, oficialmente, via no desenho anterior referência a um único grupo de imigrantes. Para Tebaldi, no caso, o brasão tinha de representar, igualmente, todos os povos que ajudaram a construir a cidade. Mas, mesmo na época, já havia estudiosos e líderes sociais que associavam o símbolo confederado a valores racistas do passado, e defendiam a mudança no brasão.
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