O padre Pedro Leandro Ricardo, reitor da Basílica Santo Antônio, de Americana, e o bispo da Diocese de Limeira, Dom Vilson Dias de Oliveira, são investigados em inquéritos abertos na semana passada pela Polícia Civil, sob suspeita de apropriação indébita de pelo menos R$ 1,2 milhão em recursos da igreja.
Além da suspeita de desvio de recursos, contra o padre Leandro, especificamente, pesam ainda diversas acusações por supostos crimes de assédio sexual contra menores de idade – adolescentes que seriam acólitos (coroinhas) da igreja.
As denúncias de assédio, inclusive, já teriam sido levadas ao conhecimento do bispo há anos, mas teriam sido ignoradas. O padre nega as denúncias e a Diocese se recusa a comentar.
No último sábado, em meio às primeiras notícias sobre o caso, o padre pediu afastamento de suas funções à frente da Basílica de Americana, alegando problemas pessoais e de saúde. O relato era de um forte stress sofrido por padre Leandro, que teve seu pedido aceito pelo bispo.
No dia seguinte, domingo, o bispo Dom Vilson decretou o afastamento do padre Leandro por tempo indeterminado de suas funções paroquiais e diocesanas, e nomeou o padre Edmilson José da Silva administrador paroquial da Basílica.
INQUÉRITO
Os detalhes do caso constam do inquérito policial instaurado em Americana no dia 23 de janeiro, a pedido da Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público (MP) Estadual. O inquérito, registrado sob o nº 2022503-24.2019.070370, corre em segredo de Justiça.
O MP foi acionado pela deputada estadual Leci Brandão (PCdoB), que remeteu ao órgão um “dossiê” de 74 páginas relatando os supostos crimes cometidos pela dupla de religiosos.
A assessoria da deputada disse ter recebido as denúncias de forma anônima, em outubro do ano passado, na Assembleia Legislativa.
Os crimes imputados aos representantes do Clero teriam ocorrido entre 2008 e 2014 em Americana, com reflexos em Limeira e Araras, onde o padre já atuou antes de assumir seu posto em Americana.
A parte dos crimes sexuais, inclusive, já teria sido apurada em inquéritos anteriores, em Araras e Limeira, e os casos arquivados por falta de provas.
Diante do dossiê da deputada, que traz novas acusações, o MP orientou a abertura de novos inquéritos nas três cidades.
Os inquéritos e ações judiciais anteriores, que já tinham sido arquivados e outros ainda em trâmite, atual serão anexados ao novo processo.
Nesse novo procedimento de investigação, a Polícia Civil apura indícios de crimes contra o patrimônio (por conta das denúncias de desvio de recursos), contra a dignidade sexual, contra a liberdade individual e a honra.
O inquérito apura ainda se, em fevereiro de 2013, quando padre Leandro assumiu a paróquia Santo Antônio, de Americana, a igreja – que na época ainda não era Basílica – tinha um saldo de R$ 1,2 milhão em caixa.
Meses depois, segundo denúncia, o padre teria começado a pedir recursos para a paróquia, que segundo ele estaria com o caixa “zerado”.
O delegado assistente de Polícia de Americana, José Luiz Noveli, determinou a pesquisa dos antecedentes criminais do padre e do bispo, mandou ouvir todas as pessoas citadas nas denúncias, inclusive as vítimas supostamente molestadas sexualmente, desde que maiores de 18 anos, além dos representantes legais dos menores.
Diversos padres, testemunhas e ex-funcionários da Igreja Católica estão entre as testemunhas a serem ouvidas.
A SSP (Secretaria de Segurança Pública) se negou a divulgar mais detalhes, já que o inquérito está sob segredo de Justiça. Confirmou apenas a existência de três inquéritos em andamento em Americana, Limeira e Araras.
Já a Diocese de Limeira, à qual a Basílica responde, informou que não foi notificada pelo MP e só poderá se pronunciar após tomar conhecimento dos fatos.
O TODODIA não conseguiu contato, desde segunda-feira, com o padre.
DENÚNCIAS ‘REQUENTADAS’
Paulo Henrique de Moraes Sarmento, advogado de defesa do padre Leandro Ricardo, afirmou ontem que as denúncias de caráter sexual contidas no inquérito policial são “mais do mesmo”, por já terem sido veiculadas antes (e nunca provadas).
Segundo o advogado, a defesa vai provar, com documentos, que também nunca houve desvios de dinheiro da igreja. “Nós acreditamos na inocência do padre Leandro. Todas estas denúncias são mais do mesmo, denúncias requentadas que já foram investigadas e arquivadas”, declarou Sarmento.
O advogado diz ainda que “a defesa provará documentalmente que nunca houve desvios de recursos e o Padre Leandro, através de seu advogado, se coloca integralmente à disposição da justiça”, explicou.
IGREJA DEFENDE
No domingo, a assessoria de imprensa da Basílica emitiu nota em favor do sacerdote. “É imprescindível ressaltar que essas acusações foram feitas de maneira apócrifa, com o único intuito de denegrir sua imagem e manchar os seus 19 anos dedicados à Igreja Católica. Confiando plenamente na justiça de Deus e dos homens, Padre Leandro irá responder pronta e tranquilamente assim que lhe for solicitado. Cabe salientar que o reitor da Basílica conta com apoio integral da comunidade, expresso em carta do Conselho de Pastoral”, informou a Basílica.
O Padre Leandro divulgou um vídeo falando sobre seu afastamento alegando motivos de saúde, além de convidar aos fiéis para combater “a onde de boataria que vem tentando atacar a todo custo a minha dignidade, a minha honra e minha fidelidade ao Ministério”. Veja o vídeo divulgado: