Bruno Covas (PSDB), 40, foi reeleito neste domingo (29) prefeito de São Paulo, para o mandato 2021-2024.
Com 98,18% dos votos apurados, ele tem 59,34%, contra 40,66% de seu adversário no segundo turno, o líder de movimentos de moradia Guilherme Boulos (PSOL).
Por volta das 18h45, o candidato do PSOL ligou para o prefeito reeleito o parabenizando pela vitória.
Neste domingo, ao votar pela manhã, Covas prometeu cumprir o mandato de prefeito até o fim caso fosse eleito. “Quero ser reeleito para entregar o cargo no dia 1º de janeiro de 2025”, afirmou.
O tucano, que era vice de João Doria (PSDB), chegou ao cargo em abril de 2018, com a renúncia do então prefeito para concorrer ao governo do estado. Embora os dois ainda sejam aliados, o candidato à reeleição escondeu Doria de sua campanha por causa da alta rejeição a ele na cidade.
Dos quatro prefeitos que tentaram um novo mandato após a lei que permitiu a reeleição, de 1998, só um até hoje havia conseguido o feito, Gilberto Kassab (à época no DEM, hoje no PSD), em 2008. Covas é o segundo a ser reconduzido ao cargo.
Marta Suplicy (então no PT, hoje sem partido), em 2004, e Fernando Haddad (PT), em 2016, saíram derrotados das respectivas campanhas pela reeleição.
E há aqui uma coincidência: Kassab também havia recebido a cadeira do ex-titular, José Serra (PSDB), que deixou o posto após 15 meses para concorrer à Presidência da República, em 2006. Com a vitória nas urnas, ele permaneceu no Edifício Matarazzo, sede do poder público municipal, durante seis anos.
Explorando a ideia de que representa segurança e alguma previsibilidade, Covas se vendeu ao longo da campanha como um político habilidoso e gestor eficiente, em contraponto à inexperiência de Boulos, que construiu sua trajetória em movimentos sociais e nunca ocupou cargo público.
Sem marcas de governo, o tucano, neto do ex-prefeito e ex-governador Mário Covas (1930-2001), aproveitou o segundo turno mais curto da história para martelar o discurso de que era o mais preparado para o cargo e que já fez muito pela cidade, mas queria “continuar fazendo mais”.
Ele conseguiu manter a dianteira conquistada no primeiro turno, do qual saiu com 32% dos votos válidos, ante 20% de Boulos.
Apenas duas semanas separaram os dois turnos, naquele que foi o intervalo mais reduzido da história, em razão da pandemia do novo coronavírus. A crise sanitária da Covid-19 alterou todo o calendário eleitoral e também postergou a votação de outubro, tradicional mês do pleito, para novembro.
Com 15 dias, em vez das três ou até quatro semanas de outras disputas, a campanha de Covas administrou a vantagem, neutralizou o avanço de Boulos sobre fatias do eleitorado e conseguiu se desvencilhar de percalços como as denúncias contra o candidato a vice, Ricardo Nunes (MDB).
O companheiro de chapa se tornou uma pedra no sapato, com as suspeitas que pesam sobre suas relações com creches conveniadas com a prefeitura e o registro de violência doméstica feito em 2011 pela esposa de Nunes, revelado pelo jornal Folha de S.Paulo.
A jornada de Covas rumo à reeleição foi o tempo todo marcada pela pandemia. Ele próprio contraiu o vírus na pré-campanha, em junho –o que inspirou preocupações pelo fato de que trata um câncer na região do abdome desde outubro de 2019–, mas ficou assintomático e se recuperou rapidamente.
Boulos também foi contaminado, só que em momento mais impróprio, na reta final da campanha. O candidato do PSOL recebeu o diagnóstico positivo na sexta-feira (27), mesmo dia em que ocorreria o debate na TV Globo, tido por seus assessores como uma oportunidade para ele virar o jogo.
As regras para evitar a disseminação da doença alteraram a campanha, mas não tanto quanto se imaginava previamente. A expectativa de que tudo se desenrolaria majoritariamente no ambiente virtual caiu por terra à medida que a disputa apertou. O modelo tradicional foi dando as caras.
No momento em que as internações por Covid voltavam a crescer, no segundo turno, tanto Covas quanto Boulos promoveram atos com aglomerações de militantes e distanciamento inadequado.
Cenas de multidão e empurra-empurra, que já tinham sido vistas na etapa anterior da eleição, ocorreram em caminhadas, encontros com apoiadores e nos atendimentos à imprensa, em entrevistas coletivas improvisadas.
Os dois candidatos, quando questionados, diziam que suas equipes estavam tomando os cuidados necessários, exigindo o uso de máscara, incentivando o distanciamento e oferecendo álcool em gel.
Muitas das agendas de rua não eram divulgadas previamente, para evitar tumultos, e não houve convocações para grandes atos, como em outros anos.
Apesar disso, Covas teve, entre seus compromissos nos últimos dias, caminhadas em vias de grande circulação de pessoas, visitas a bairros de diferentes regiões, almoços em restaurantes, cafés em padarias e participações em celebrações religiosas.
A pandemia foi ainda utilizada como justificativa para a escassez de debates na TV, já que as principais emissoras cancelaram os programas sob a justificativa de obediência aos protocolos de saúde. O excesso de candidatos no primeiro turno (13) também foi apontado como pretexto.
Durante os debates, Covas e Boulos tentaram focar nas propostas e os embates foram em padrões elogiados pelo grau de civilidade. Houve dois debates no segundo turno, o da CNN Brasil e da Band –este último mais quente, com discussão sobre coronavírus, associação de Boulos por Covas ao ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e, da parte do líder de movimento de moradia, mais questionamentos sobre o vice.
Os temas relativos ao vice, revelados pela Folha de S.Paulo, acabaram gerando uma operação de redução de danos de Covas, que comprou anúncio do Google na tentativa de repassar informações positivas sobre Nunes.
O assunto fez com que o prefeito se irritasse, acusasse a imprensa de perseguir o vice e depois tentou atrelar o adversário a Cuba.
Covas também se esquivou de críticas sobre a atuação da prefeitura durante a crise do coronavírus, uma vez que Boulos insistiu em citar a possibilidade de uma segunda onda e também bateu na tecla de que o governo Doria marcou reunião para anunciar novidades na política do estado contra a doença para um dia depois da eleição.
No primeiro turno, adversários já haviam criticado sua dobradinha com o governo estadual, que impôs medidas restritivas de funcionamento de comércios e serviços e de circulação de pessoas, relaxadas conforme os casos foram diminuindo.
A dupla Covas e Doria fez de São Paulo uma trincheira ideológica contra a postura negacionista e anticientífica do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) diante do problema. No pano de fundo da guerra, que se estendeu para o tema da vacina, está a ambição do governador de disputar o Planalto em 2022.
Se, por um lado, a conduta trouxe dividendos políticos aos tucanos entre eleitores contrários ao governo federal, por outro despertou a ira de bolsonaristas, que elegeram Doria o inimigo número um a ser combatido, para supostamente impedir que ele se torne uma ameaça à reeleição do presidente.
Fora esse enfrentamento no campo administrativo, Covas conseguiu, de modo geral, manter sua campanha longe da nacionalização do pleito, como calculou desde o início. A expressão “a cidade de São Paulo” era repetida à exaustão em suas falas, com o intuito de trazer o debate para questões locais.
O prefeito logrou êxito também, aparentemente, na tarefa de descolar sua imagem da de Doria. Foi reconduzido ao cargo mesmo com um cenário em que seis de cada dez moradores da capital se diziam propensos a rejeitar um candidato apoiado pelo governador.
Pesquisa Datafolha feita às vésperas do segundo turno mostrou que 61% dos eleitores não votariam de jeito nenhum em um nome endossado pelo titular do Palácio dos Bandeirantes.