quarta-feira, 3 dezembro 2025
DIA INTERNACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Busca pela independência revela a luta de mulheres com deficiência para conquistar direitos

A data foi criada pela ONU, em 1992, para promover conscientização, direitos, acessibilidade e inclusão das pessoas com deficiência em todo o mundo
Por
Nicoly Maia
Maria Genoveva Strapasson (esq) e Fabiana de Paula Silva (dir). Foto: Ana Machado/TV TODODIA e Arquivo pessoal

No Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, celebrado nesta quarta-feira (3), as trajetórias de Maria Genoveva Strapasson e Fabiana de Paula Silva mostram como a falta de acessibilidade ainda marca o cotidiano de muitos brasileiros. Moradoras de Santa Bárbara d’Oeste, elas enfrentam barreiras no trabalho, no estudo e no transporte público, mas encontraram na autonomia e no esporte caminhos para seguir em frente. 

As histórias dão rosto aos dados do Censo 2022 e evidenciam que os desafios vão muito além das estatísticas. Na região de cobertura da TV TODODIA, a maior parcela de pessoas com deficiência apresenta dificuldade para enxergar. São 27,3% da população das cidades atendidas que declararam esse tipo de limitação. Em seguida aparecem as dificuldades para andar ou subir escadas (21,1%); pegar pequenos objetos ou abrir garrafas (11,4%); ouvir (11%); e limitações nas funções mentais (10,8%). Os dados são do IBGE, com base no Censo 2022.

Percentuais elevados 
Sumaré é a cidade com maior proporção de pessoas com dificuldade para enxergar, com 3,5% da população nessa condição. Nova Odessa concentra a maior taxa de moradores com dificuldade para ouvir, com 1,5%. Em Hortolândia, 2,6% dos habitantes têm dificuldade para andar ou subir escadas. Nova Odessa também lidera em dificuldade para pegar pequenos objetos ou abrir garrafas, com 1,4%.

No indicador de limitação das funções mentais, Santa Bárbara d’Oeste e Cosmópolis aparecem empatadas, ambas com 1,3%.

Gráfico elaborado com os dados do senso de 2022 do IBGE. Foto: TV TODODIA

Histórias de superação e autonomia
“A primeira dificuldade que eu passei foi quando eu quis começar a trabalhar. Isso foi aos 18 anos. Fiz um concurso público, passei em 30º lugar no estado de São Paulo, mas não consegui assumir por causa da minha deficiência”, conta Maria Genoveva Strapasson, hoje com 70 anos.

Segundo ela, naquela época o governo impunha inúmeros empecilhos. Mesmo após realizar todos os exames exigidos, acabou impedida de assumir o cargo em um posto de saúde.

As dificuldades de Geno se aproximam das vividas por Fabiana de Paula Silva, paratleta de 38 anos, medalhista em nível estadual. No ensino superior, também enfrentou barreiras.

“Eu faço faculdade, mas no começo precisava ir de ônibus, porque o transporte para pessoas com deficiência não era garantido. Eles achavam que PCD só tinha que estudar até a escola. Para a faculdade, não precisava. Precisei entrar com ação judicial e esperar todo o processo para conseguir”, relata. Após decisões judiciais, Fabiana passou a ter acesso ao transporte adequado.

Independência no dia a dia
Ambas moradoras de Santa Bárbara d’Oeste, Geno e Fabiana conquistaram autonomia ao longo da vida, desde tarefas simples até grandes mudanças.

Geno lembra que dirigir sempre foi um desejo do pai. “Ele falava que ia ser uma independência para mim. E realmente é. Faz 50 anos que tenho carta. Na época, precisei tirar em São Paulo, fazer exames e aulas lá. Foi uma dificuldade imensa, mas eu consegui.”

Para Fabiana, o esporte foi o caminho para a independência. Ela mora sozinha há sete anos e cursa Gestão Empresarial. “O que me motivou mesmo foi buscar um emprego. Estava difícil, ninguém contratava. Então pensei: vou fazer faculdade para tentar um serviço melhor.”

Geno participando dos Anjos da Alegria. Foto: Arquivo pessoal

Apoio e preconceito velado
Geno mantém uma rotina ativa, trabalha pela manhã, cuida da casa, participa de atividades em organizações sociais e busca autonomia diariamente. Ela afirma que já enfrentou preconceito de forma velada, principalmente na juventude. “Eu percebia que as pessoas tinham receio de pegar no meu braço. Eu nunca era escolhida para fazer atividade em dupla. Isso deixava a gente chateada. Depois, nunca mais tive problemas.”

O esporte como caminho
Fabiana integra a equipe SB Atletismo, treinada por Carlos Alberto Sachetto e Leandra Piveta. No início, competia em provas longas (5.000 m, 1.500 m e 800 m). Após um AVC em 2018, passou a disputar provas curtas — 100 m, 200 m e 400 m.

Em 2024, ficou entre as três melhores atletas do Meeting Paralímpico, competição criada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e patrocinada pelas Loterias Caixa, que visa ampliar e qualificar o paradesporto no país.

“Se você ficar entre os três melhores do ranking brasileiro, você consegue a Bolsa Atleta. Todo ano você participa, e se entrar no ranking, recebe até o fim do ano. Tento sempre melhorar para garantir a bolsa.”

Fabiana em competição. Foto: Arquivo Pessoal

Mensagens das protagonistas
Para Fabiana, apesar dos desafios, o esporte transformou sua vida, “Pode ser difícil, mas se você tiver foco, força e coragem, você conquistará o que quiser. Meu desejo é que ninguém desista dos seus sonhos.”

Geno reforça a importância do respeito, “hoje muitos deficientes têm carro. Mas a falta de respeito nas vagas é enorme. Você chega e nunca encontra vaga. As pessoas não estão nem aí. Sempre se coloque no lugar do outro. Isso é respeito.”

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