
A sessão desta quarta-feira (29) na Câmara Municipal de Campinas foi marcada por segurança reforçada e clima tenso entre parlamentares e público. O motivo era a votação do pedido de Comissão Processante (CP) contra a vereadora Mariana Conti (Psol), apresentado por Nelson Hossri (PSD). O parlamentar questionava as atitudes da vereadora durante o período em que esteve licenciada para participar de uma missão humanitária com destino à Faixa de Gaza.
Apoio e manifestações
Grande parte do público presente acompanhava a sessão em apoio à vereadora. Antes do início dos trabalhos, Mariana se mostrou confiante e destacou o significado do apoio recebido. “Significa que eu não estou sozinha, significa que tem muita gente apoiando o nosso mandato, tem muita gente, a parcela mais generosa da humanidade, tem solidariedade com a Palestina, condena o genocídio em curso que não acabou com essa mentira do cessar-fogo. Então significa que tem muita gente que apoia a solidariedade internacional e que não vai aceitar essa provocação da extrema-direita, que nada mais é que uma perseguição política machista contra o meu mandato e contra todos aqueles lutadores que se colocam do lado certo da história.”

Queriam a abertura
Também havia no plenário apoiadores de Hossri, que defendiam a abertura da CP. “Eu, pelo menos, estou com a consciência tranquila. Se vai passar ou não, vai depender da consciência de cada vereador. Eu fiz o meu papel, apresentei a Comissão Processante para investigar. Trata-se de uma parlamentar que foi a mais votada da cidade, disse fazer uma ação humanitária que não ocorreu, foi presa, deportada. Então eu acho que isso precisa ser investigado. Nós precisamos ter uma resposta através da CP, se teve uso do dinheiro público, quem pagou a passagem dela para ir para a Palestina, por que ela não chegou, por que não tinha alimento. A gente sabe que quem manda em Gaza é o grupo terrorista Hamas, então a gente precisa saber se tem essa ligação ou não. Até porque o governo de Israel a colocou na lista de terroristas, e isso nos preocupa. Eu não quero estar do lado de uma terrorista que tem na Câmara Municipal”, afirmou Hossri.

Sessão acalorada
Durante mais de uma hora e meia, os vereadores se revezaram em discursos que misturaram o debate sobre o pedido de CP e temas ideológicos, como o conflito Israel–Palestina e a recente ação policial no Rio de Janeiro que deixou mais de 100 mortos, segundo o governo fluminense.
Enquanto os vereadores discursavam, militantes das duas correntes se manifestavam de forma ruidosa, transformando o plenário em um ambiente comparado a um estádio de futebol. Apesar do clima de tensão e de algumas discussões mais acaloradas, não houve registros de agressões físicas.
Desentendimento
Durante o recesso antes da votação, o ambiente também ficou pesado entre os próprios parlamentares. Um desentendimento entre Vini Oliveira (Cidadania) e Guida Calixto (PT) chamou atenção no plenário.

Presença inesperada
Entre o público, uma presença se destacou: Padre Kelmon, candidato à Presidência da República em 2022, que acompanhou a sessão a convite de Hossri. Em entrevista à TV TODODIA, ele comentou a movimentação. “Nós temos muitos problemas para resolver em Campinas, muitos problemas para resolver no Brasil, e o vereador está tumultuando, causando todo esse alvoroço para discutir problemas que talvez ele até desconheça, que são os problemas do povo palestino. O povo palestino já tem os seus líderes para resolver os seus problemas, e não precisamos que o povo eleito aqui por Campinas gaste o seu tempo tentando resolver questões que desconhece. Nelson pede uma CP justamente para que haja uma investigação dos atos dessa vereadora por ter ido à Palestina. Me parece que é para isso aí. Isso é legítimo.”

Vereador empossado
Por ser o autor da denúncia, Hossri precisou se licenciar para a votação, sendo substituído pelo suplente Cabo Muller (PSD), que foi empossado durante a sessão.
Pedido de abertura recusado
O resultado final foi 21 votos favoráveis ao arquivamento e oito pela abertura da CP. Após o resultado, Mariana Conti agradeceu o apoio e reagiu à decisão. “Olha, eu me sinto como eu sempre estive: tranquila, com a certeza de que eu estou do lado do justo, do lado certo da história. Quando passa um tempo, a história é implacável. A história vai mostrar que o genocídio na Palestina é uma coisa vergonhosa para a nossa sociedade e para a humanidade. Então eu quero agradecer a todos os vereadores que votaram contra [a abertura da CP], os vereadores que impediram que essa perseguição política acontecesse. Na verdade, isso é falta do que fazer, é macho recalcado que não tem coragem de fazer o que eu fiz e aí fica aqui enchendo o saco.”

Pauta segue com votações
Com o pedido de Comissão Processante arquivado, a Câmara prosseguiu com a 66ª Reunião Ordinária, que incluiu a aprovação definitiva do Plano Plurianual (PPA) 2026–2029.





