
A Câmara Municipal aprovou, em primeira discussão, o projeto de lei do Executivo que institui o Serviço Público de Loteria Municipal em Piracicaba. Com conflitos entre entendimentos divergentes de vereadores e manifestação do público, a propositura levantou temas como vícios, o polêmico “jogo do tigrinho” e livre arbítrio. O projeto visa a permissão para captação de apostas e comercialização de bilhetes para incremento de recursos financeiros aos cofres públicos.
Tigrinho
O polêmico “jogo do tigrinho” citado pelos vereadores contrários ao projeto, é uma espécie de cassino online que promete ganhos altos de dinheiro. O jogo é muito divulgado entre influenciadores digitais, que acumula casos de pessoas que perderam muito dinheiro, se endividaram e tiveram problemas de saúde mental, entre elas o suicídio.
Pastores
O vereador Laércio Trevisan Júnior (PL) questionou os demais vereadores, principalmente os que são pastores e obreiros, sobre a aprovação e comparou o projeto com o incentivo ao uso de drogas e a inflamação da saúde pública para tratar dependentes de jogos. “Vai viciar a população e a responsabilidade é dos vereadores que aprovaram, principalmente dos pastores que tem um compromisso moral e religioso com a população. É a mesma coisa que regularizar as drogas em Piracicaba”, argumentou Trevisan. O vereador ainda confrontou questionando os colegas parlamentares que estão aprovando uma desgraça para a vida das pessoas.
Adiamento negado
O vereador André Bandeira (PSDB) pediu adiamento da votação, pois o requerimento feito questionando a propositura não foi respondido e deixou muitas dúvidas.
Vício
A vereadora Rai de Almeida (PT) votou contra e explanou sobre a exploração de um vício na cidade. “O jogo vicia e traz doenças, não tem benefício para a sociedade. É uma inversão do que privamos para a saúde mental e vai afetar ainda mais os postos de saúde, já temos uma sociedade doente em jogos. O município deveria ter a responsabilidade e parar de brincar de fazer política e brincar com nosso povo”, apontou.
Silvia Morales – Mandato Coletivo (PV) disse que é lamentável o que ocorreu. “É um risco esse incentivo ao vício”, completou. A vereadora alertou sobre a ludopatia, um transtorno de comportamento caracterizado pela incontrolável vontade de jogar, mesmo com a consciência dos riscos e prejuízos financeiros, sociais, familiares e profissionais.
Edson Bertaia (MDB) lembrou que como ele, quem trabalha com atendimento de pessoas com vícios, sabe dos problemas causados. “Nos atendimentos pastorais tínhamos como vícios a serem tratados o álcool e drogas, hoje o provedor tem gastado todo o salário com jogos. Votar contrário nesse projeto é sinalizar que nenhum jogo é favorável, só um ganha e várias famílias perdem”, alertou.
Favorável
Renan Paes (PL), que votou a favor, disse que é preciso chegar a solução para um mundo possível, já que existem Loterias Federais e Estaduais e que esse dinheiro arrecadado é para o município. “Eu acho melhor que jogue na loteria do município do que no jogo do bicho, que serve para lavagem de dinheiro e causa tanta violência. Eu, todo mês, faço uma ´fézinha´, então seria contraditório eu votar contra”, declarou.
Josef Borges (Progressistas), líder de Governo na Câmara, disse que não foi entendido o projeto. Enfatizou que haverá fiscalização da Secretaria de Finanças e que estarão proibidas o jogo para crianças e adolescentes, entre outros apontamentos que regularizam as apostas, prevenindo danos à sociedade. “Esse recurso do jogo ficará no município, diferente dos outros que vão para fora da cidade. O Governo do Estado já está implantando sua própria loteria”, defendeu.
Pedro Kawai (PSDB) disse que entende que de fato existe esse perigo com os jogos. “Mas temos que entender que não é só esta loteria que tem pra jogar e esses recursos vão para outras esferas”. Felipe Gema (Solidariedade) disse que as pessoas têm livre arbítrio para escolher se jogam ou não.
Votação
O projeto foi aprovado, em primeira discussão, por 12 votos favoráveis e 8 contrários. Os vereadores que foram contra a Loteria são: André Bandeira, Edson Bertaia, Gesiel de Madureira, Laercio Trevisan Junior, Marco Bicheiro, Rafael Boer, Rai de Almeida e Silvia Morales.
Sessão Extraordinária
A noite de quinta-feira (11) se estendeu pela madrugada com mais duas sessões extraordinárias, tendo duração de quase seis horas de reunião. O projeto polêmico sobre a lei complementar que altera a composição do Comdema (Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente), foi retirado da pauta pelo presidente, o vereador Rerlison Rezende, para atender uma recomendação do Ministério Público do Meio Ambiente.