
As investigações começaram em 2023, após um roubo de carga em Cajamar, na Grande São Paulo. Desde então, a Polícia Federal identificou ao menos 50 roubos ligados à mesma organização criminosa, que atuava em três frentes: roubo de caminhões, desmanche e receptação de peças e motores.
As primeiras ações miraram os assaltantes, resultando nas operações Aboiz, em 2023, e Cacaria, em 2024. Apesar das prisões, os crimes continuaram, o que levou à Operação Hammare, que teve como foco os responsáveis pelos desmanches e pela distribuição das peças roubadas. Segundo o delegado-chefe da Polícia Federal em Campinas, Edson Geraldo de Souza, os líderes do grupo criminoso não acreditavam que a PF chegaria até eles.
“Nós percebemos que, enquanto nos aplicávamos aos roubadores, eles continuaram tranquilamente acreditando que a operação não iria se desdobrar ou se desmembrar para níveis mais altos. Mas aí foi algo que a Polícia Federal levou com tranquilidade e serenidade. E, considerando que havia parado a atividade violenta, principalmente contra os caminhoneiros, nós pudemos trabalhar na análise de dados telemáticos, de dados bancários, financeiros e de toda a relação para identificar com exatidão quem eram os integrantes desses dois outros níveis.”
Mandados
Foram cumpridos 16 mandados de prisão temporária, mas uma mulher, alvo de um dos mandados, não foi localizada. Também foram cumpridos 24 mandados de busca e apreensão, e um homem, alvo de um desses mandados, foi preso em flagrante, após uma arma de fogo de calibre restrito ser localizada durante a busca. Os mandados foram cumpridos em quatro estados: São Paulo, Paraná, Rondônia e Rio Grande do Sul.
O dinheiro era usado para financiar a estrutura da quadrilha e também para manter um alto padrão de vida dos líderes, que não faziam a menor questão de ser discretos. O homem apontado como líder da organização tinha uma Ferrari, avaliada em mais de R$ 3 milhões. Ele foi preso na operação, e o carro foi apreendido.
“Nós identificamos uma movimentação mínima de R$ 54 milhões, mas acreditamos que tenha chegado até R$ 70 milhões. E esse foi o pedido de bloqueio de bens feito hoje pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, pelo GAECO, junto à Justiça de Cajamar”, contou o delegado.
A investigação apontou que os desmanches operavam principalmente em Osasco, onde havia um galpão e uma empresa ligados à quadrilha. Outras bases funcionavam em Itapecerica da Serra, Guarulhos e Jandira, facilitando a distribuição das peças roubadas para diferentes estados do país. As peças eram geralmente vendidas em lojas que pertenciam ao próprio grupo criminoso.
“Todos os caminhões, ou a grande maioria dos caminhões de empresa, pelo valor do caminhão e pelo valor da carga, são rastreados via satélite. Para bloquear esse sinal, de forma que possam retirar esse caminhão da rodovia e levá-lo para o local de desmanche, há duas hipóteses. Primeiro, eles chamam de esfriar o caminhão, deixando-o estacionado em algum lugar, e, se aquele caminhão não for recuperado em dois ou três dias, eles sabem que aquele caminhão está livre de sinal. Outra questão é quando eles têm certeza do sinal, então eles usam um bloqueador de sinal chamado ‘jammer'”, explicou o delegado-chefe.
Além das prisões e buscas, a Justiça determinou o bloqueio de bens e valores ligados à quadrilha. A PF segue com as investigações para identificar outros envolvidos e desmantelar completamente a organização criminosa.
PF em Campinas
Mesmo sem relação direta com a região, a Polícia Federal em Campinas é a encarregada de realizar esse tipo de investigação em boa parte da região Sudeste.
Nome da operação
O nome da operação, Hammare, significa “martelo” em sueco. A operação tem esse nome porque a quadrilha focava no roubo de caminhões das marcas suecas Scania e Volvo, e os criminosos usavam um martelo para quebrar o vidro e acessar a cabine do veículo no momento de descanso do motorista.