sábado, 5 julho 2025
'DOENÇAS DE INVERNO'

Cidades da região somam 278 mortes por síndrome respiratória aguda grave em 2025

Municípios analisados foram Americana, Santa Bárbara d’Oeste, Campinas e Piracicaba
Por
Nicoly Maia

Desde o início do ano, 278 pessoas morreram em consequência de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) nas cidades de Americana, Campinas, Piracicaba e Santa Bárbara d’Oeste. Juntas, as quatro cidades acumulam 3.560 casos e 913 internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Os dados são do painel de casos de SRGA. Com o início do inverno, especialistas alertam para os cuidados em relação à condição.

Segundo o Ministério da Saúde e os protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS), a SRAG é uma condição clínica com critérios bem específicos. Ela se aplica a adultos e crianças com suspeita de infecção respiratória grave. Os principais sintomas da síndrome são febre alta, tosse, falta de ar, baixa saturação de oxigênio e, em alguns casos, desconforto respiratório intenso.

Cidades acumulam 3.560 casos e 913 internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) | Foto: Tony Winston/Agência Brasília

As quatro cidades analisadas registraram 218 casos de COVID-19, com 72 internações em UTI. A influenza contabilizou 386 casos e 106 internações. Já o vírus sincicial respiratório (VSR) teve 915 casos e 280 internações em UTI.

Pesquisadora do Programa de Computação Científica da Fiocruz e do Infogripe, Tatiana Portella explica que a SRAG representa o estágio mais grave das doenças respiratórias. “Essas infecções do trato respiratório são causadas por vírus como influenza, Covid-19 e VSR, e podem atingir níveis mais graves. Geralmente, o paciente tem uma saturação de oxigênio baixa, dificuldade para respirar, pode ter febre ou não e requer hospitalização.”

Tatiana Portella, pesquisadora do Programa de Computação Científica da Fiocruz e do Infogripe | Foto: Arquivo/TV TODODIA

A especialista ressalta que as síndromes gripais são casos leves, com sintomas como coriza, dor de garganta ou febre, que geralmente não requerem internação. “Quando o quadro evolui para uma forma mais grave e o paciente precisa ser hospitalizado, classificamos como síndrome respiratória aguda grave”, afirma.

Algumas faixas etárias concentram mais casos. O vírus sincicial respiratório, por exemplo, geralmente causa internações em crianças pequenas e é um dos principais agentes da bronquiolite em menores de dois anos. Já a influenza tem maior incidência de hospitalizações em idosos a partir de 65 anos, embora também afete adultos jovens e crianças. A maior taxa de mortalidade por influenza e Covid-19, no entanto, ocorre entre os idosos.

Tatiana lembra que a vacinação é uma das principais formas de prevenção das doenças respiratórias. A recomendação é que a imunização ocorra antes do período de maior circulação viral. A partir deste ano, o Ministério da Saúde passou a disponibilizar a vacina contra a gripe de forma contínua no calendário vacinal regular do Sistema Único de Saúde (SUS) e não apenas durante campanhas sazonais.

No caso da vacina contra a influenza, o vírus é inativo | Foto: Arquivo/Gilberto Marques/Governo do Estado de São Paulo

“A vacina demora cerca de 15 dias para fazer efeito. Por isso, é importante que as pessoas se vacinem antes da temporada de maior circulação do vírus. Com a baixa adesão nos últimos anos, acredito que isso tenha motivado a disponibilização da vacina ao longo de todo o ano”, reforça Tatiana.

A Covid-19, causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, tem como principais sintomas febre, tosse seca, dor de garganta, dores no corpo, congestão nasal e, em alguns casos, perda de olfato e paladar, um dos sinais mais característicos da doença. A infecção pode começar de forma leve ou assintomática, mas evoluir para quadros graves, principalmente em pessoas com comorbidades ou idosas. Em 2025, Americana registrou dois óbitos por Covid-19, Santa Bárbara d’Oeste, 7; Campinas, 222; e Piracicaba, 39 mortes.

A gripe, provocada pelo vírus da Influenza A ou B, costuma se manifestar com febre alta, calafrios, dores musculares intensas, cansaço extremo e dor de cabeça. Tosse, dor de garganta e coriza também são comuns. Diferente da Covid-19, a perda de olfato e paladar não costuma ocorrer. Americana registrou 7 óbitos por influenza, Santa Bárbara d’Oeste, 5; Campinas, 30; e Piracicaba, 10.

Levantamento de dados realizado no dia 02/07 pelo Painel casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave | Foto: Arquivo/TV TODODIA

Cuidado redobrado com crianças

O vírus sincicial respiratório é mais comum em bebês e crianças pequenas, mas pode afetar adultos e idosos. Os principais sintomas são tosse persistente, chiado no peito, coriza, febre baixa (ou ausência de febre) e, nos casos mais graves, dificuldade para respirar. Em recém-nascidos, o VSR pode causar pausas na respiração (apneia) e levar à internação. Em adultos saudáveis, a infecção costuma se manifestar como um resfriado leve. Americana registrou um óbito por VSR, assim como Santa Bárbara d’Oeste. Campinas teve quatro mortes e Piracicaba não registrou óbitos pela doença.

No caso da vacina contra a influenza, o vírus é inativo. “A vacina não causa gripe, mas pode provocar sintomas leves semelhantes, como dor local, sensação de febre baixa e mal-estar, que duram um ou dois dias”, explica a pesquisadora.

A especialista reforça que, após a vacinação, o sintomas tendem a ser leves. “O importante é que a vacina protege contra a evolução para formas graves da doença. É muito mais arriscado não se vacinar e depois contrair o vírus, evoluindo para um quadro grave.”

Aumento de doenças infecciosas nos próximos anos 

Efeitos como o aumento de doenças infecciosas e transmissíveis têm projeção de elevação para os próximos anos. O principal fator está relacionado aos impactos imediatos das crises climáticas sobre as crianças, em especial na primeira infância. O levantamento é do relatório “A primeira infância no centro do enfrentamento da crise climática”, do Núcleo Ciência Pela Infância.

Crianças nascidas em 2020 enfrentarão 6,8 vezes mais ondas de calor do que aquelas nascidas em 1960 | Foto: Agência Gov

Os dados apontam que crianças nascidas em 2020 enfrentarão 6,8 vezes mais ondas de calor do que aquelas nascidas em 1960. Para a professora associada do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e membro do Núcleo Ciência Pela Infância, Alicia Matijasevich Manitto, o estudo traz importantes alertas sobre os impactos da crise climática no desenvolvimento infantil. “Destaca-se especialmente o comprometimento do crescimento físico, cognitivo e emocional das crianças expostas a eventos extremos, como ondas de calor, enchentes, secas e poluição.”

“Todas essas condições aumentam o risco de doenças respiratórias, neurológicas e infecciosas. Além disso, afetam a saúde mental dos cuidadores e os vínculos familiares, especialmente quando os próprios cuidadores também estão em situação de estresse”, reforça a professora.

Os impactos na primeira infância, como doenças neurológicas, respiratórias, infecciosas e desnutrição, têm relação direta com o estado de emergência climática. A pesquisa também relaciona o aumento das ondas de calor, sendo 2024 o ano mais quente da história, com uma elevação de 1,55 °C acima do período pré-industrial, à ausência de vegetação em espaços, como por exemplo nas escolas.

Professora associada do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e membro do Núcleo Ciência Pela Infância, Alicia Matijasevich Manitto | Foto: Arquivo/TV TODODIA

“Escolas não têm proteção contra ondas de calor, não têm vegetação, não têm sombra. Ter um ambiente verde reduz o estresse, proporciona contato com a natureza e também estimula boas práticas ecológicas”, completa a professora, ao destacar como a vegetação e o contato com o meio ambiente podem colaborar para a saúde das crianças.

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