domingo, 18 maio 2025
ECONOMIA

Desemprego cresce em março e impulsiona busca por bicos no setor de alimentação da RMC

Pesquisa revela que 34% dos brasileiros inadimplentes pretendem recorrer a “bicos” em 2025 como forma de quitar suas dívidas
Por
Nicoly Maia
O levantamento também traça o perfil de quem mais sofre com a inadimplência, a maioria negra e mulheres | Foto: Reprodução

O setor de bares e restaurantes da Região Metropolitana de Campinas (RMC) registrou saldo negativo de 194 vagas formais em março deste ano, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Diante deste cenário de instabilidade no emprego formal, cresce a busca por alternativas informais de renda. Uma pesquisa do Instituto Locomotiva, em parceria com a QuestionPro, revela que 34% dos brasileiros inadimplentes pretendem recorrer a “bicos” em 2025 como forma de quitar suas dívidas.

Foram 3.128 admissões contra 3.322 desligamentos no período. Apesar do recuo pontual, o acumulado do primeiro trimestre de 2025 ainda é positivo, com 422 novos postos de trabalho criados.

Entre os 20 municípios da RMC, 12 terminaram março com mais demissões do que contratações. Americana liderou com 53 postos encerrados, seguida por Indaiatuba (36), Hortolândia e Valinhos (25), Paulínia e Santa Bárbara D’Oeste (23), Itatiba (20). Entre as cidades que criaram vagas, Holambra aparece no topo da lista (18), seguida por Campinas (16), Jaguariúna (13) e Pedreira (8).

Para o presidente regional da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), André Mandetta, um dos desafios do setor está na dificuldade de atrair mão de obra, principalmente por conta das jornadas em finais de semana, feriados e horários noturnos. “A gente começa a perder terreno para outras atividades. Atualmente, está mais difícil contratar do que no passado, e também é preciso pagar melhor para conseguir atrair trabalhadores”, comenta.

Conforme a pesquisa, 34% dos brasileiros inadimplentes pretendem recorrer a “bicos” como forma de complementar a renda e quitar as dívidas em 2025. O dado representa um aumento expressivo, de 22 pontos percentuais, em relação a 2021, quando apenas 12% dos inadimplentes recorriam a esse tipo de trabalho informal. O crescimento indica uma tendência de maior informalização como resposta direta às dificuldades financeiras enfrentadas pela população.

A pesquisa ouviu 1.283 pessoas em todo o país e revelou que 88% dos inadimplentes estão tentando renegociar dívidas, cortar gastos ou aumentar sua renda com trabalhos extras. “Os bicos aparecem como uma das estratégias mais mencionadas. É o próprio brasileiro tentando resolver seus problemas financeiros com os recursos que tem à mão”, explica Gabriela Rocha, analista de pesquisa do Instituto Locomotiva.

“Os freelancers são fundamentais, a gente precisa de uma mão de obra em quantidade no final de semana, que você não tem o que fazer com ela durante a semana, que é mais ocioso”, diz Mandetta.

O levantamento também traça o perfil de quem mais sofre com a inadimplência, a maioria negra (59%), mulheres (52%), entre 30 e 49 anos (41%), com ensino fundamental completo (54%) e pertencentes à classe C (61%).

Segundo o planejador financeiro Jeff Patzlaff, o avanço dos bicos movimenta fortemente as economias locais. “Em cidades menores, esse tipo de trabalho [os bicos] gira a economia com vendas em feiras, artesanato, entregas e serviços pontuais. O impacto é mais sentido ali, no comércio do dia a dia, do que nas grandes corporações”, destaca.

Ainda que o trabalho informal possa aliviar momentaneamente o orçamento das famílias, especialistas alertam para a falta de garantias e proteção social que o emprego formal oferece. “Num cenário ideal, deveríamos caminhar para mais registros em CLT ou como pessoa jurídica, com estrutura para controle, impostos e políticas públicas mais efetivas”, avalia Patzlaff. Ele também destaca a necessidade de educação financeira para que o brasileiro não viva apenas para pagar boletos. “A ideia é direcionar melhor a renda. Uma boa estratégia é a regra 50-30-20: metade para despesas fixas, 30% para lazer e consumo, e 20% para poupança de longo prazo. Isso ajuda a viver melhor e com mais segurança.”

Com o salário médio no setor de alimentação fora do lar atingindo R$2.222 , o desafio continua sendo conciliar a carga horária e o bem-estar emocional. A pesquisa revela que 87% dos inadimplentes relatam impactos na saúde mental, nas relações familiares e até no desempenho no trabalho. “As dívidas não afetam apenas o bolso. Elas geram ansiedade, insegurança e afetam a vida como um todo”, conclui a analista de pesquisa.

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