De estagiário na Escola de Soldados de Pirituba, logo após deixar a Academia do Barro Branco, no início dos anos 90, à atuação na chefia de gabinete da Casa Militar, responsável pela segurança do governador do Estado, o coronel PM Mauro Luchiari Júnior praticamente vivenciou tudo que a Polícia Militar poderia oferecer. E agora, após 35 anos de atuação, ele anuncia a aposentadoria e deixa a corporação com a sensação de dever cumprido.
Luchiari comandou o policiamento na região em várias oportunidades (confira quadro ao lado), e atuou também em áreas distintas, como a segurança do deputado Vanderlei Macris (PSDB) quando estava à frente da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), e a Defesa Civil. Experiências que o americanense, hoje aos 53 anos, levará entre tantos episódios marcantes.
O TODODIA perguntou ao coronel quais eram os episódios mais marcantes da carreira, e ele citou que os episódios considerados positivos, como grandes operações ou prisões, acabam caindo no esquecimento por serem consideradas “obrigação”. Mas ele destacou dois momentos que considerou honrosos – e que fogem ligeiramente do policiamento corriqueiro.
O primeiro foi a segurança do então presidente da Alesp, Vanderlei Macris. “Pude conhecer um outro aspecto da PM ao fazer a segurança do deputado. Eu tinha feito um curso de segurança de autoridades em Israel, mas não tinha colocado em prática ainda. Nessa experiência, aprendi muito a questão política, o dia a dia da Assembleia. Foi vantajoso para meu crescimento profissional”, contou.
Outra lembrança positiva destacada foi a experiência na Casa Militar. “Fui trabalhar no palácio do governo, sendo chefe de gabinete do coronel Nyakas, chefe da Casa Militar, que cuida da segurança do governador e do vice. E também fui coordenador adjunto da Defesa Civil Estadual, outra experiência diferente, de colaborar na ajuda humanitária agora na época da pandemia. Foi gratificante poder fazer esse trabalho”, conta.
Entre os episódios negativos que marcaram a carreira, Luchiari destacou um dos períodos mais perigosos da corporação: os ataques de 2006.
“O que marcou muito foi a época dos atentados da facção criminosa. Infelizmente tivemos a morte de um policial nosso de Americana na Avenida da Amizade, mas não só ele, no Estado todo. Foi um marco na história da segurança pública, um enfrentamento complicado que fizemos”, contou.
Essas experiências, segundo Luchiari, fazem jus ao juramento feito pelos policiais militares, de “defender a sociedade com a própria vida”.
“Fechei esses 35 anos com muito aprendizado e pude servir a sociedade paulista por onde passei. É um dia a dia de luta, a gente sai para a rua e não sabe se volta, esse dia a dia nas ruas ensina muito a gente, mas a preocupação da família sempre fica. Com a graça de Deus passei esses 35 anos com bastante serviço, estando à disposição das pessoas”, disse.
Mesmo fora da PM agora, Luchiari não pretende parar de trabalhar na área da segurança, seja na iniciativa privada ou pública. “Ainda não tenho nada definido, mas não tenho a ideia de ficar parado”, completou.
Os avanços da corporação
Ao longo de 35 anos na Polícia Militar, o coronel Mauro Luchiari Júnior provavelmente vivenciou os anos de maior avanço nos protocolos e na tecnologia da corporação. Entre elas, a padronização da abordagem policial e o uso de tablets nas viaturas.
Luchiari relatou que, desde 1997, após o caso “Favela Naval”, no qual policiais de Diadema foram presos após uma série de abusos e espancamentos em abordagens, a corporação evoluiu muito, sobretudo com a implantação de procedimentos padrões para lidar com criminosos.
“Foi feito um estudo com especialistas para ver as melhores técnicas. Com essa implementação, começamos a ter padronização perante nossas atitudes diante dos criminosos, para que a sociedade pudesse nos ver como profissionais da segurança”, contou.
Além disso, segundo o coronel, o uso da tecnologia passou a ter papel fundamental na qualidade do trabalho dos policiais e na diminuição de índices criminais.
“A entrada disso no policiamento fez com que as viaturas tivessem acesso mais rápido a placas de veículos, índices criminais, antecedentes. Com os boletins eletrônicos, começamos a ter mapa criminal, isso ajudou a criar estratégias de patrulhamento. Tudo isso ajudou muito no serviço, fazendo a viatura estar no local com maior índice criminal”, disse Luchiari.
Em Americana, Luchiari se orgulha da implantação da ronda focada no combate à violência doméstica, monitorando o cumprimento de medidas protetivas, e também a integração da PM com a Gama (Guarda Municipal de Americana), resultado de diálogo entre as corporações, que permite patrulhamento mais efetivo na cidade.
A CARREIRA
1985-1989Academia do Barro Branco
1990-1992Escola de Soldados de Pirituba e Tenente no Batalhão Metropolitano
1993-1999Comando de Policiamento em Sumaré
1998-1999Comando da Guarda de Nova Odessa
1999-2001Chefe da segurança do então presidente da Alesp, Vanderlei Macris
2004-2009Comando da PM em Americana
2009-2011Comando da PM na região do Zanaga, em Americana, Engenheiro Coelho, Artur Nogueira e Cosmópolis, até se tornar
major e assumir a coordenação operacional do 19º Batalhão
2015-2018Subcomandante de policiamento em Piracicaba, passa a ser tenente-coronel e retorna como comandante do 19º Batalhão
2018-2020Chefe de Gabinete da Casa Militar