sexta-feira, 26 abril 2024

DIG prende 13 e ‘quebra’ quadrilha

A DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Americana prendeu ontem 13 pessoas ligadas a uma quadrilha especializada em estelionato, com ramificações em roubo de carga, apropriação indébita de veículos locados e homicídios. De acordo com o delegado titular da DIG, Antonio Donizete Braga, ao menos 40 empresas e 21 pessoas tiveram seus nomes usados indevidamente no esquema. O prejuízo para as empresas lesadas chega a R$ 1 milhão.
Ao todo, 21 mandados de prisão temporária foram expedidos, que resultaram na prisão de dez homens e três mulheres; oito pessoas estão foragidas. Além disso, 38 mandados de busca e apreensão foram cumpridos, com a apreensão de oito veículos, uma moto, um jet ski, um revólver calibre 32 e munições, uma espingarda, 13 computadores, 20 celulares, documentos e cartões bancários, além de R$ 35 mil em espécie.
Cerca de 80 policiais participaram da ação em Americana, Campinas, Limeira, Santa Bárbara d’Oeste, Paulínia e Sumaré. Os dois suspeitos apontados como os “cabeças” da operação foram detidos em Santa Bárbara.
O pontapé para a investigação ocorreu após a DIG realizar um flagrante em novembro de 2017. Os suspeitos se passavam por empresas reais e realizavam compras em madeireiras de Americana e São Paulo, sempre negociando por telefone e e-mail, e com pagamento em boleto com prazos de vencimento entre 30 e 90 dias. Uma empresa de Americana desconfiou da prática após duas vendas e na terceira acionou a polícia. O flagrante ocorreu em uma madeireira de Hortolândia, para onde a carga foi transferida.
“A investigação começa porque chamou nossa atenção a organização do golpe. Era uma fraude empresarial muito bem articulada. Nós percebemos que envolvia várias pessoas. Eles não só obtinham os dados das empresas legítimas para fazer o golpe, como criavam e-mails parecidos com os das empresas. Chegaram a criar sites parecidos com os das empresas verdadeiras. Tudo para dar veracidade, credibilidade na negociação”, explicou Braga.
MODUS OPERANDI
Segundo a DIG, a negociação dos criminosos com as empresas era realizada por três mulheres, que estão entre os detidos. Os líderes da quadrilha falsificavam documentos para o cadastro com a empresa. Geralmente, a quadrilha focava na compra de madeiras, mas também compraram pneus, areia e outros itens de construção. A partir da falsificação dos documentos, as mulheres ligavam para as empresas e tentavam realizar o cadastro. “Uma coisa que notamos durante a investigação é que o comércio foca muito em saber se a pessoa para quem estão vendendo tem restrição de crédito, nome sujo na praça (…), mas não em saber se a pessoa que está comprando é a que diz ser. Conhecendo essa dinâmica do comércio, eles se fizeram valer disso. (…) Tivemos casos que compraram duas, três vezes na mesma empresa”, contou Braga.
A Polícia Civil conseguiu autorização judicial para grampear os números do grupo, que utilizava aplicativos para que a vítima pensasse que estava ligando para um número fixo, quando se tratava de um celular. Ontem, chips foram encontrados; eles estavam envoltos em um papel, com nome e CPF de uma pessoa pela qual os criminosos se passaram. “Tivemos a felicidade de que os telefones continuaram ativos e sendo utilizados para os golpes. Facilitou o monitoramento. Sabíamos que eram sempre os mesmos telefones que eles usavam”, disse Braga.
Outra característica do grupo é que eles contratavam caminhoneiros para buscar a carga dentro da empresa. Durante o trajeto, eles ligavam para o motorista e mudavam o destino. Pela apuração da DIG, os caminhoneiros não sabiam do esquema.
AÇÃO CONTROLADA
A investigação começou, de fato, em janeiro. A Justiça autorizou quatro operações previstas na lei do crime organizado, chamadas de ação controlada. Isso permitiu que a Polícia Civil acompanhasse as ações dos criminosos sem ter que intervir, ou intervir apenas no momento que fosse oportuno.
Por quatro vezes, a polícia acompanhou a operação dos criminosos, desde a retirada do material até o receptador. Ao final da entrega, os policias recuperavam a carga. De acordo com Braga, a quadrilha não percebeu que as abordagens estavam conectadas. “Eles estavam tão habituados a fazer isso que quando perdiam mercadorias, era a mesma coisa que nada”, disse.
ROUBO DE CARGAS
As ramificações da quadrilha chegam ao roubo de carga. Em junho, duas pessoas foram detidas fazendo o transbordo de uma carga de alimentos roubados em São Carlos. A dupla utilizou um Ônix, que foi rastreado e ligado à quadrilha.
Os dois envolvidos eram de Paulínia, cidade apontada como a de maior ramificação da quadrilha. Ainda em junho, houve um roubo de carga de cerveja e refrigerantes na Rodovia Luiz de Queiroz (SP-304). O motorista que foi vítima forneceu o número da pessoa que o contratou, sendo que o telefone era um dos que apareciam na investigação. “Chegamos a conclusão que o alvo principal tinha controlado todo esse roubo”, afirmou Braga.
ORIENTAÇÃO
A DIG orienta que qualquer empresa ou pessoa que suspeitar que tenha sido vítima do esquema deve procurar a polícia. “É uma quadrilha sofisticada. Muito bem organizada, que detém conhecimentos empresarias sobre a dinâmica do comércio. São pessoas diferenciadas, que realmente utilizam conhecimento técnico que têm sobre determinada área para praticar crimes”, analisou Braga.
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