O cinema de Cosmópolis recebeu no domingo (14) o lançamento do documentário “Nas Lascas do Jatobá”, produção do Grupo Tonel que registra memórias de pessoas negras com mais de 55 anos que vivem no município. O curta-metragem transforma vivências individuais em um retrato coletivo da história local, reunindo saberes, trajetórias e experiências de moradores que participaram da construção da cidade.
Dirigido por Ton Filizatti, que também atua como coordenador geral do projeto, o documentário surgiu a partir de uma inquietação pessoal e acadêmica do realizador, que buscou refletir sobre a potência das próprias vivências enquanto homem negro periférico.

História familiar e identidade
O desejo de preservar a memória da própria família foi um dos motores da produção. Ton Filizatti incluiu o pai, de 76 anos, entre os entrevistados do filme, destacando a tradição oral e a transmissão de histórias como elementos centrais do projeto.
A narrativa do documentário é organizada a partir de três eixos principais: raça, idade e migração. A proposta é evidenciar como marcas do período de escravização seguem presentes na vida das gerações seguintes. Segundo o diretor, há, entre os entrevistados e seus antepassados, um intervalo de apenas duas gerações em relação a pessoas que viveram a escravidão, o que orientou a pesquisa sobre os efeitos históricos desse período.
Personagens e processo de escuta
Antes da definição do recorte final, nove núcleos familiares foram ouvidos pela equipe. Quatro histórias foram selecionadas para compor o documentário: Dona Rose, Seu Manoel, Seu Zelão e Dona Udy.
O processo de escuta priorizou a convivência com as famílias, em encontros que envolveram conversas informais e trocas cotidianas. A assistente de direção, Ana Beatriz Pereira, destacou que o filme reúne trajetórias diversas, incluindo pessoas que migraram para Cosmópolis e outras que nasceram e trabalharam na cidade ao longo da vida.

Arte, memória e circulação
Para o Grupo Tonel, “Nas Lascas do Jatobá” também se propõe a estimular o debate social e a construção de novos imaginários, ao permitir que os próprios personagens narrem suas histórias. A equipe destaca a importância da escuta das pessoas mais velhas como forma de aprendizado e preservação da memória coletiva.
Após a estreia no cinema de Cosmópolis, o documentário deve circular por ações formativas, escolas e festivais.





