Olhares pelo retrovisor, desvio de rota, cantadas. Usuária de transporte por aplicativo em Americana e cidades da região, a supervisora de vendas Leilane Ribeiro lista os constrangimentos pelos quais costuma passar durante as corridas.
As queixas também acontecem por parte de mulheres que trabalham como motoristas.
Para evitar estas e outras situações, cada vez mais mulheres têm se aventurado como motoristas de carros por aplicativo. Afinal, elas sabem bem o que esperam ao contratar um serviço!
Na contramão da crise econômica, Raquel Strautman, de Sumaré, viu a oportunidade de se tornar motorista de app para ampliar a renda da família.
Há três anos, ela conduz clientes em cidades da RMC (Região Metropolitana de Campinas).
Experiente, a motorista conta que a vontade de migrar de outros aplicativos para o Bella Driver – app lançado recentemente em Campinas -aconteceu para aumentar a segurança na hora de trabalhar.
“O diferencial é que eu sei quem estou levando e o destino do passageiro. Em outros aplicativos, já tive a experiência de ser chamada por uma mulher e, ao chegar no local do início da partida, encontrar um homem”, destaca.
Como precaução, ela recusa uma corrida em que sejam dois homens como passageiros. “Já peguei passageiro na rodoviária e fui parar em bairros violentos e considerados perigosos. Só de falar já me dá uma aflição”, relembra.
Raquel quer mais segurança para trabalhar
OPORTUNIDADE
Driblando o desemprego, Nilza Campos começou a trabalhar como motorista de aplicativo há pouco mais de um ano em Americana.
Ela viu a possibilidade de fazer o próprio salário após ser desligada do serviço de atendimento ao cliente de uma TV a cabo.
“Muita gente buscou o transporte por aplicativo porque se viu sem ter onde trabalhar. Por isso, tem muitas pessoas cadastradas e a concorrência é alta”, comenta.
Desde que assumiu a nova ocupação, Nilza conta que já passou por poucas e boas, de assédio à agressão física.
“Deixei um passageiro na Praia Azul e, do nada, um motorista bêbado bateu no meu carro. Ele partiu para cima de mim e me agrediu fisicamente, fiquei com o braço roxo. Anotei a placa do veículo e registrei um boletim de ocorrência”, relata.
Nilza acredita que a agressão só aconteceu pelo fato de ser mulher. Por isso, afirma que não se sente segura para trabalhar, principalmente à noite.
Entendendo os riscos, ela costuma seguir algumas orientações, como enviar uma mensagem ao passageiro para saber qual o local de desembarque, além de evitar algumas localidades e horários.
“A situação da mulher que trabalha por app não é fácil, mas vou na fé”, completa.
Nilza, de Americana, trabalha como motorista de app há mais de um ano
‘TRUQUES’ PARA EVITAR ASSÉDIO
Leilane, a passageira que citamos logo no início, diz que, numa tentativa de autoproteção, usa truques ao saber que vai embarcar em um carro conduzido por um homem. “Quando peço um carro e vejo que é motorista, costumo fingir que estou falando ao telefone com meu pai ou meu irmão. A ‘presença’ de um homem, mesmo estando ausente, parece impor mais limites”, considera.
Já Nilza expõe que alguns passageiros inventam desculpas para conseguir o número de telefone dela. “Mas eu já recebi mensagens com fotos e conteúdos impróprios”, revela. No entanto, a motorista minimiza que os casos não podem ser generalizados, nem para clientes nem profissionais.
NOVA OPÇÃO
Depois da implantação da Uber, surgiram dezenas de empresas de transporte por app. No segmento, o destaque vai para quem inova.
Para garantir a segurança de condutores e passageiros, principalmente mulheres, o aplicativo Bella Driver iniciou a operação em Campinas.
A expectativa é de que a franquia chegue a Americana entre 60 a 90 dias.
“A Bella Driver tem um sistema diferenciado, com tecnologia totalmente nacional e assessoria de segurança israelense”, afirma um dos responsáveis pela área de tecnologia do app, Thiago Carvalho.
Ao baixar o app, o cadastro do cliente é liberado após a checagem de informações.
Ao motorista, é necessário o deslocamento até uma central para o cadastramento.
Quem vai atuar como condutor de veículos do aplicativo também deve apresentar documentos do carro e licenças pagas ao governo. O interessado, ainda, deve apresentar ficha com antecedentes criminais.
Para a manutenção da segurança, o motorista vai adquirir um chip que será rastreado.
Outro recurso é o botão de emergência, que envia por SMS a localização real e informações do cliente para cinco contatos.
“É o único aplicativo em que a passageira escolhe se o motorista será homem ou mulher. Já o passageiro não tem a possibilidade de escolher quem será o condutor”, explica Carvalho.