Recém-contratada pela prefeitura por R$ 1,6 milhão por ano para a fiscalização do trânsito com radares em Sumaré, a empresa Talentech Tecnologia estuda registrar um B.O. (Boletim de Ocorrência) contra o vice-prefeito da cidade, Henrique Stein (PRB), o “Henrique do Paraíso”, que na última quinta-feira quebrou a pontapé um radar móvel da empresa em uma avenida da cidade – e transmitiu o ato no Facebook.
Ontem, a direção da Talentech repudiou a atitude e, por meio de assessoria de imprensa, classificou a ocorrência como “lamentável”. “Nosso escritório trabalha com 40 empresas do ramo e nunca tinha visto uma atitude como essa”, afirmou o assessor, Victor Agostinho.
DEPLORÁVEL E VANDALISMO
Vice-prefeito arrebentando com o radar móvel nesta quinta-feira (21)
Os advogados da Talentech disseram que aguardam uma conversa com os representantes da prefeitura para entender o que levou ao ato, classificado pela empresa como “cena deplorável de vandalismo”. Após a conversa, o setor jurídico se reunirá novamente para, na segunda-feira, adotar uma medida judicial. A empresa não descarta um boletim de ocorrência por depredação de patrimônio (crime previsto no Código Penal), e possível pedido de ressarcimento à empresa.
O valor do equipamento não foi divulgado e a empresa garante que a caixa chutada por Henrique do Paraíso não estava “vazia”, como suspeitaram diversos internautas que assistiram ao vídeo e sugeriram, nas redes sociais, que tudo não passaria de uma “encenação” ou jogada de marketing político do vice.
ALVO DE FÚRIA
O aparelho alvo da fúria do vice-prefeito estava em um canteiro da Avenida Fuad Assef Maluf, no Jardim Picerno. Na filmagem, postada por volta das 16h40, o vice-prefeito disse ter ido ao local, a pedido do prefeito Luiz Dalben (PPS), verificar reclamação de condutores. Ao se aproximar do equipamento, Henrique do Paraíso chutou com violência a caixa metálica fixada sobre um suporte (tipo tripé), que caiu alguns metros adiante. Ele ainda pegou a caixa e o suporte e atirou os objetos violentamente contra o chão, dizendo que “na minha cidade, não”. Recolheu a caixa e o suporte e pediu que retirassem em seu gabinete.
Horas depois, Henrique do Paraíso a pareceu em um vídeo ao lado do prefeito Dalben, onde reconheceu que “se excedeu”, mas que o “objetivo” tinha sido “cumprido”. Dalben confirmou ter pedido “fiscalização in loco” e falou em tomar “providências”, sem dizer quais, mas também confirmou que o “objetivo foi cumprido”.
O TODODIA tenta, desde a tarde da quinta-feira, contato com o vice-prefeito, que não é localizado e nem retorna aos recados.
VÍDEO SOME DO FACE E NOTA ‘JUSTIFICA’
Após viralizar nas redes sociais, o vídeo postado pelo vice-prefeito foi removido do Facebook. Ontem, em seu perfil, foi publicada uma “nota de esclarecimento”. Ele disse no texto que foi à avenida “retirar o equipamento”.
“Minha revolta foi causada devido a utilização do aparelho de forma imoral pela terceirizada, prejudicando a população e, por isso, acabei me exaltando”, escreveu.
“O contrato prevê o radar móvel, porém, não é porque está previsto que deverá ser utilizado pela terceirizada sem a autorização prévia do Executivo”, disse.
DIÁRIO OFICIAL PUBLICOU A ‘ORDEM DE SERVIÇOS’
Diário Oficial
Além de vice-prefeito de Sumaré, Henrique do Paraíso é também secretário de Administração e Recursos Humanos da prefeitura e foi ele o responsável pela publicação e fiscalização do processo licitatório de contratação da empresa Talentech para operar os radares.
Em publicação no Diário Oficial do Estado, em 8 de dezembro de 2018, Henrique Stein aparece como a pessoa que adjudicou e homologou a licitação. Mas, o vice-prefeito alega que radar móvel (chamado de “ponto estático”) só poderia ser utilizado mediante autorização do prefeito – o que não teria ocorrido.
A empresa contratada, porém, garante que tinha autorização, com ordem de serviço emitida e publicada no Diário Oficial do Município – ao contrário do que garantem prefeito e vice.
De fato, o Diário Oficial da quinta-feira, dia 21, trouxe a publicação da “Ordem de Serviços”, datada de 18 de fevereiro, em que a Secretaria de Mobilidade Urbana “determina” as ruas que deveriam ser fiscalizadas por “pontos de radares estáticos”. Na data do dia 21 (quando o vice chutou o radar), consta na publicação que o ponto de “radar estático” deveria estar na Avenida Fuad Assef Maluf (local da quebra do radar), entre 7h e 10h.
A “Ordem de Serviços” aparece assinada pelo secretário de Mobilidade Urbana e Rural, José Marin. Questionada, a prefeitura informou, via assessoria, que a ordem saiu no Diário Oficial “a pedido da Secretaria de Mobilidade Urbana, porém, não havia sido autorizado pelo prefeito”.
Ainda de acordo com a prefeitura, “a ordem de serviços determina os locais passíveis de implantação do radar móvel, porém, não autoriza a instalação do mesmo sem a anuência prévia do prefeito Luiz Dalben”. A prefeitura, porém, não explicou como se dá a “autorização” do prefeito.
Ontem à tarde, o próprio secretário Marin não soube dizer se havia erro no Diário Oficial. Procurado às 16h26, ele informou que havia duas ordens de serviços emitidas à empresa Talentech. Após ouvir as indagações, Marin pediu “10 minutos” para reunir a documentação e prestar os esclarecimentos. Ao término do prazo, o celular do secretário estava desligado ou fora da área de operação. Ele também não estava mais na Secretaria. Veja o Diário Ofical:
VEREADOR PRETENDE IR AO MP
O MP (Ministério Público) de Sumaré será acionado, na próxima segunda-feira, para apurar o ato do viceprefeito Henrique do Paraíso. Pelo menos é o que informou ontem o vereador Marcio Brianes (PCdoB), que prometeu acionar a Promotoria contra o que considerou “chacota” com a cidade.
Brianes disse ainda que não descarta propor a abertura de uma CP (Comissão Processante) ou de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Câmara, para investigar a ação, classificada por Brianes como ato de violência.
“A Câmara tem que fazer alguma coisa porque ele (Henrique) levou Sumaré a uma chacota nacional, senão mundial”, afirmou.
Caso a Câmara abra uma CP, a apuração tem poder até para cassar o mandato do prefeito Luiz Dalben.
O vereador se reuniu ontem com o departamento jurídico da Casa para definir as ações a serem adotadas. “Estamos vendo a melhor medida para não fazer besteira, como fez o vice-prefeito”.
O protocolo de uma representação no Ministério Público, segundo ele, está garantido. “Faremos a representação porque o vice-prefeito, além de ser quem tinha que dar o exemplo, incita o ódio no vídeo”, declarou Brianes.
Ontem, o vereador divulgou um vídeo em suas redes sociais, no qual tece duras críticas à atitude do vice.
“A gente não aprova isso, primeiro porque somos agentes públicos, temos de dar o exemplo. Imagina o senhor que passar em um dos 46 pontos de radar instalados em Sumaré e o senhor toma uma multa e vai lá e quebra o radar. O senhor tem de ser punido, isso é vandalismo. Agora, quando vem de um agente público, um vice-prefeito, é lamentável. Eu, enquanto vereador, estou envergonhado”, disse. Veja o vídeo na íntegra: