sexta-feira, 19 abril 2024

Entre a alfaiataria e a internet

A história de uma cidade não é feita somente por figuras ilustres ou por acontecimentos marcantes. É marcada também por pessoas comuns, como o seu João, por exemplo. Morador de Santa Bárbara dOeste há exatos 81 anos, ele se orgulha por ser um dos únicos alfaiates em exercício atualmente no município, já que sua profissão foi se perdendo com o tempo. E foi por meio de indivíduos simples como ele que a cidade foi sendo construída ao longo dos seus quase 200 anos de nascimento.
Casado há mais de 50 anos, pai de três filhos e avô de três netos, o alfaiate João Aparecido Duarte se diz realizado pela família que formou em Santa Bárbara dOeste. Mas, antes de constituir sua família, teve um início precoce no trabalho, assim como acontecia com a maioria das pessoas antigamente que começavam a trabalhar muito cedo para ajudar nas despesas de casa.
Duarte explica que aos homens da família, tradicionalmente, restavam três profissões: alfaiate, sapateiro ou barbeiro. E que para trabalhar em qualquer uma destas áreas não necessitava estudar, mas se aplicar diariamente naquele ofício até aprendê-lo corretamente. Sua dedicação ao trabalho o levou a se tornar um aprendiz de alfaiate com 10 anos. “Foi esse trabalho que me abriu as portas para a profissão que eu iria me dedicar no futuro e que me fez e me faz tão feliz até hoje”, destacou.
Ele conta que o primeiro emprego foi na loja de um alfaiate famoso na época. “Eu vi aquele homem trabalhando e na hora senti vontade de trabalhar com ele. Pedi emprego e consegui”, relembra. Apesar de ter ficado apenas dois meses no local, todo aprendizado que adquiriu foi repassado nos empregos seguintes que teve ao lado de grandes profissionais de sua área.
Em 1952, depois de muita luta, conseguiu finalmente realizar seu sonho: o de ter sua própria alfaiataria. E de lá para cá, nunca mais parou de trabalhar. Apesar de já ter mais de 80 anos, se diz totalmente motivado e com energia, tanto que se ocupa todo dia trabalhando nos fundos de sua casa onde mantém uma alfaiataria. No entanto, ele se ressente pelo fato de não ter mais clientes como antes.
Por causa da globalização e do crescimento das cidades, sua profissão foi se extinguindo dia após dia, e hoje é raro encontrar alfaiates.
Atualmente, Duarte realiza alguns trabalhos por encomenda e são de clientes específicos, como um de São Paulo e; outro de Americana, que o procuram para fazer o corte de tecidos. “Eu corto e depois eles repassam para outro profissional que acaba o trabalho, como por exemplo, de um terno ou blazer”. Mesmo assim, ele se diz feliz por continuar trabalhando na profissão que escolheu para sua vida, mas que hoje acabou se tornando mais um hobby do que propriamente o seu sustento.
LEMBRANÇAS

 

Tenho saudades daquela época onde podíamos andar tranquilamente pela cidade. Hoje, ainda vou ao mesmo jardim, e apesar de não ser como antes, ele está muito mais bonito e agradável. Dá gosto olhar para tudo aquilo e lembrar que passei muitos anos de minha vida passeando por aquele lugar

Muito saudosista, Duarte diz que seria impossível citar apenas um momento marcante de sua ligação com Santa Bárbara, já que é apaixonado pela cidade e que deve tudo a ela: o trabalho, a família e a vida que levou nos últimos anos. Porém, se tivesse que relembrar um momento que sente muitas saudades, ele cita que seriam os passeios realizados no jardim em frente à Matriz Central, no qual os rapazes iam para “cortejar” as moças. “Mas era tudo feito com muito respeito e educação. As moças iam para um lado e os rapazes para outro, e às vezes cruzavam os olhares mesmo em sentidos opostos”, relembra. E foi numa “cruzada de olhares”, que ele conheceu e se apaixonou pela esposa com quem mantém uma relação de amor e cumplicidade há mais de cinco décadas.
“Tenho saudades daquela época onde podíamos andar tranquilamente pela cidade. Hoje, ainda vou ao mesmo jardim, e apesar de não ser como antes, ele está muito mais bonito e agradável. Dá gosto olhar para tudo aquilo e lembrar que passei muitos anos de minha vida passeando por aquele lugar”.
Mas não pense que Duarte reclama da globalização. Para ele, muitas coisas, vieram para ficar, como a internet, por exemplo, e ele confessa que isso só ajudou.
Usuário ativo das redes sociais, o alfaiate aponta que adora navegar no Facebook e Instagram , redes onde encontra amigos, posta fotos e participa ativamente dos grupos e comunidades do seu interesse, e onde também pode divulgar seu trabalho. “É onde ocupo minha mente após mais um dia de trabalho como alfaiate”.
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