Entre as chaminés de tijolo e os galpões centenários das usinas de Santa Bárbara d’Oeste, nasceram riquezas, tradições e um modo de vida que ajudaram a transformar o município em referência na produção de açúcar e álcool combustível na região. Esses equipamentos históricos guardam capítulos fundamentais da história do interior paulista.
De acordo com o historiador Antônio Carlos Angolini, a produção de açúcar em Santa Bárbara tem raízes na fundação do município no início do século XIX. “Dona Margarida chegou por volta de 1817 e, em 1818, oficializou o nome da cidade. Já encontrou engenhos funcionando e passou a fabricar açúcar. Ao longo do tempo, Santa Bárbara teve mais de 20 engenhos”, relata.
Major Rehder e o salto industrial
O ponto de virada veio com o major João Frederico Rehder. “Ele ampliou a produção e, em 1902, criou a primeira fábrica de álcool do município”, afirma Angolini. Em 1913, investidores franceses e brasileiros criaram a Companhia de Estrada de Ferro e Agrícola de Santa Bárbara, garantindo o transporte da cana por uma ferrovia de bitola estreita. “Não seria possível montar uma usina sem antes ter a ferrovia”, enfatiza.
Com maquinário europeu trazido de navio e levado em carros de boi até o interior, a usina foi socialmente inaugurada em 1914. “Foi o início da fase industrial e da fama que tornaria Santa Bárbara conhecida”, diz o historiador.
Coronel Luiz Alves
Em 1922, a usina passou às mãos do coronel Luiz Alves, período de maior prosperidade “O coronel não foi importante apenas para a usina, mas para a cidade. Ajudou a reformar a igreja matriz, doou tijolos produzidos aqui, construiu a primeira sede do Clube Barbarense e inaugurou a escola que até hoje leva seu nome”, relembra Angolini.
As festas promovidas pelo grupo também marcaram época. “Os desfiles de carnaval organizados pela usina eram grandiosos. Carros alegóricos percorriam a cidade e voltavam a pé para o complexo, num espetáculo que até hoje não teve de novo”, descreve.

Crise, tombamento e memória
A partir dos anos 1970, a crise do setor sucroalcooleiro e novas exigências ambientais reduziram a produção. “Quando a usina parou, Santa Bárbara perdeu seu maior poder econômico. Mas boa parte do complexo foi tombada e segue como patrimônio histórico”, afirma o pesquisador.
Hoje, os galpões e a Capela São Luiz resistem como marcos do passado. “A usina representa mais do que tijolos e ferrovia. Ela guarda o registro do trabalho, da imigração e do desenvolvimento econômico que fizeram a cidade crescer”, conclui Angolini.

Pérola Açucareira
A história da cana-de-açúcar em Santa Bárbara não se resume à usina principal que leva o nome da cidade. “Ao longo do tempo, o município chegou a ter mais de 20 engenhos”, lembra o historiador Antônio Angolini. Ele cita nomes que marcaram época, como Furlan, Cillo, Galvão e São Luís, muitos deles nascidos de pequenos engenhos que, com a chegada da ferrovia e de maquinário europeu, quase se transformaram em grandes complexos industriais.
Segundo Angolini, a expansão foi tamanha que, ainda no início do século XX, Santa Bárbara ganhou o apelido de “Pérola Açucareira”. Algumas propriedades, como a fazenda São Luís, chegaram a montar toda a estrutura para se tornar usina, mas acabaram compradas por concorrentes para evitar disputas de mercado.