terça-feira, 23 abril 2024

Escorpiões:inimigo à solta

Certas espécies de escorpião se reproduzem sem a presença de um macho, isto é, via partenogênese. Basta um único indivíduo para que em poucos meses a população chegue a dezenas ou centenas de indivíduos.

Com os sucessivos recordes de temperatura alta (o metabolismo dos escorpiões aumenta no calor), o aumento de construções irregulares e de entulho (que servem de abrigo para os bichos) e a quantidade abundante de alimentos (eles adoram comer baratas, por exemplo), seria natural que houvesse mais desses bichos por aí.

Resultado: nos últimos cinco anos, o número de envenenamentos por escorpião no Brasil cresceu de 78 mil para 141 mil, um aumento de 80%.

No país há mais de 170 espécies de escorpião, mas só algumas, como o Tytius serrulatus, o escorpião-amarelo, têm relevância do ponto de vista da saúde pública.

Em 2017, foram contabilizadas 143 mortes causadas por escorpiões, mais da metade do total dos ataques fatais de animais peçonhentos (278). Ou seja, para a saúde humana, faz mais sentido se preocupar com esses aracnídeos do que com serpentes, águas-vivas, lagartas ou abelhas.

Quatro em cada 10 mil pessoas picadas morrem. “Se a gente se guiar apenas pela estatística, o dado não parece ser tão relevante, mas o escorpianismo é um agravo importante porque a maioria das mortes acontece em crianças e muito rapidamente, em algumas horas”, afirma a médica Fan Hui Wen,gestora de projetos do Instituto Butantan.

A maior parte dos casos é resolvida apenas com a higienização do local e, eventualmente, com o uso de anestésicos e analgésicos em um serviço de saúde.

Eventualmente, em casos mais graves, pode ser crucial o uso de soro antiescorpiônico. Esse soro é fabricado da mesma forma que aquele que é utilizado contra o veneno de serpentes, a partir da imunização de cavalos e posterior purificação de seu plasma, processo conhecido como aférese.

 CAPTURA
Hoje a principal medida preventiva é a captura dos bichos, que adoram cemitérios, esgotos e barracos.

O trabalho de formiguinha é feito com a ajuda de luz UV, que faz os bichos brilharem no escuro.

Para quem achar um escorpião em casa, o ideal é capturá-lo com o auxílio de um pote, cobrindo-o depois com papelão. Para matá-lo, basta imergir em álcool 70%. E cuidado: se achar um, pode haver outros mais.

VENENO
O uso de inseticidas no combate gerou uma acalorada discussão. Enquanto as diretrizes brasileiras desencorajam o uso, há normas internacionais que recomendam os venenos.

Segundo relatos dos técnicos, em alguns municípios os prefeitos prometeram em suas campanhas usar veneno, apesar de haver recomendação contrária do Ministério da Saúde.

Ana Bersusa, pesquisadora científica do Instituto de Saúde e representante da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) da secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, diz que não há estudos no mundo real (ou seja, fora do laboratório) que atestem a eficácia dos venenos, apesar de alguns relatos de sucesso.

“Daqui a pouco a gente começa a pegar na mão dos secretários, e quem sabe a gente case com eles para realmente ter ações conjuntas e harmonizadas. Mas esse trabalho ainda não deu resultados.”

Há ao menos duas boas razões biológicas para questionar o uso sistemático de venenos. A primeira é que os escorpiões conseguem fechar seus estigmas pulmonares (aberturas que ficam no ventre) e impedir que o conteúdo seja internalizado. Outra é que, com a exposição sucessiva é possível que surjam animais resistentes, mais difíceis de lidar.

 

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