Os professores de história, língua portuguesa e artes da Escola Maria José Margato Brocatto, em Santa Bárbara d’Oeste, inauguraram uma exposição que permanece na Câmara Municipal durante todo o mês de novembro. A mostra foi idealizada para resgatar a autoestima dos alunos, valorizar a identidade negra e reforçar o papel dos jovens na construção da própria história.
A exposição recebeu o nome de “Mocambo”, em referência aos pequenos assentamentos que funcionavam como refúgio para pessoas escravizadas, locais onde laços comunitários eram criados e a ancestralidade era preservada.
Referências históricas e culturais
As 24 obras, feitas por meio de fotografias e colagens, apresentam os estudantes como protagonistas e fazem referência a personalidades e episódios históricos relacionados à cultura negra, como Racionais MC’s, Djonga, Peter Chicoteado, amas de leite e o tráfico transatlântico de escravizados.
“Esses estudantes são vítimas do racismo, tanto do racismo estrutural, do racismo recreativo, e, muitas vezes, eles não conseguem se perceber como negros, ou, muitas vezes, construir essa questão da negritude e, principalmente, tratar essa questão de autoestima”, explicou a professora de história, Jéssica de Andrade.

Processo de criação das obras
Entre agosto e outubro, 30 alunos do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio participaram da elaboração das imagens expostas no hall de entrada da Câmara. Em algumas obras, mais de um estudante atuou em conjunto, sempre com orientação dos professores.
O professor de língua portuguesa, Danilo Farinaci, relatou que o envolvimento dos alunos foi determinante para o resultado final. “Foi muito legal a questão deles se identificarem. Eles davam ideia de fotos, de poses que eles queriam. Tem algumas artes que a gente já tinha planejado, tem arte que eles sugeriram”, contou.
Efeitos da iniciativa no cotidiano escolar
Os docentes apontam que o projeto ampliou o protagonismo dos estudantes e reforçou o senso de pertencimento. Entre os participantes está Calebe Ávila, de 15 anos, que descreveu a mudança proporcionada pela experiência.
“Há muito tempo atrás, quando eu era bem menor, eu tinha muita insegurança porque eu tentava fazer amigos, tentava entrar em grupo de amigos e sentia eles me jogando de lado, e com essa exposição eu me senti o protagonista da história”, disse o aluno.
Os relatos dos alunos reforçam o impacto das atividades, que também têm influenciado outros estudantes. Professores afirmam que, durante todo o processo, observaram maior engajamento e interesse pela discussão sobre identidade.
A articulação entre arte e história evidenciou aos adolescentes a relevância de cada trajetória e destacou a necessidade de respeito contínuo, não restrito ao mês de novembro. “É uma questão de posicionamento, de se enxergar como belo, se ver como belo. Eu acho que todas essas questões vieram à tona com o projeto”, concluiu Jéssica.





