quarta-feira, 28 maio 2025
EMERGÊNCIA ENTRE AS AVES

A gripe aviária pode chegar à RMC? Autoridades dizem que não, mas reforçam alerta

Carnes de aves ocupam a 9ª posição entre os setores de exportação do Brasil; entenda como isso pode impactar a economia
Por
Nicoly Maia

Após a confirmação do primeiro caso de influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP) em uma granja comercial em Montenegro, no Rio Grande do Sul, no último dia 16, produtores e consumidores da região passaram a discutir como o foco da doença pode afetar o mercado na Região Metropolitana de Campinas (RMC).

Desde o anúncio do primeiro caso de IAAP no país, China, União Europeia e Argentina suspenderam as importações de carne de frango brasileira – inicialmente, por um prazo de 60 dias. Apesar do foco ser regional, as restrições comerciais, no caso da China e do bloco europeu, abrangem todo o território nacional, por exigências previstas em acordos comerciais com o Brasil.

Segundo a diretora da Vigilância em Saúde de Sumaré, Denise Barja, não há motivo para alarme neste momento. A cidade concentra granjas responsáveis por abastecer parte do mercado estadual. “Atualmente, Sumaré, assim como estado de São Paulo não têm nenhum caso de gripe aviária. Mas é importante ficarmos em alerta. A vigilância epidemiológica segue monitorando a situação”, afirmou Denise.

As granjas são fiscalizadas pelo Ministério da Agricultura, enquanto a vigilância sanitária atua nos estabelecimentos comerciais. “Fiscalizamos todas as condições sanitárias adequadas para que esse produto chegue ao consumidor final de forma segura”, explica a diretora da vigilância. 

A gripe aviária é uma forma altamente patogênica do vírus influenza que afeta principalmente aves, podendo causar altos índices de mortalidade entre os animais.

“O que aconteceu no Rio Grande do Sul foi drástico: o vírus matou todas as aves em pouco tempo. É um vírus bastante severo”, afirmou a pesquisadora Dra. Clarice Arns, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Além do impacto sanitário, o surto pode trazer consequências econômicas. Segundo a plataforma ComexVis, entre janeiro e abril de 2025, o Brasil exportou 1,73 milhão de toneladas de carne de aves e miúdos, somando US$ 3,12 bilhões, o que coloca o setor na 9ª posição entre as exportações brasileiras no período.

Ranking de importações de carnes de aves e suas miudezas comestíveis, frescas, refrigeradas ou congeladas | Foto: Reprodução

“Como ele é um vírus tão patogênico e tão temido pelo mundo, no momento em que se tem um registro desse vírus na avicultura, acontece o embargo. Ou seja, os países que recebem essas aves, os ovos, etc., restringem então a exportação”, comenta a pesquisadora.

A China, por exemplo, importou US$ 455 milhões em carnes de aves do Brasil apenas nos quatro primeiros meses deste ano | Foto: Reprodução

Há os países que fazem a suspensão restrita ao estado do Rio Grande do Sul, é o caso de Arábia Saudita, Turquia, Reino Unido, Bahrein, Cuba, Macedônia, Montenegro, Cazaquistão, Bósnia e Herzegovina, Tajiquistão, Ucrânia, Rússia, Bielorrússia, Armênia, Quirguistão e Angola.

O estado do Rio Grande do Sul representa 13,7% das exportações. Os  Emirados Árabes Unidos e Japão suspenderam as importações para o município de Montenegro (RS).

De acordo com o especialista em mercado de capitais, Marcus Labarthe, o impacto já começa a ser sentido.

“A tendência é que grande parte da produção que iria para exportação seja redirecionada ao mercado interno, o que pode causar queda nos preços das aves e dos ovos”, afirmou. Ele lembra que, em 2024, a alta demanda externa fez com que os ovos se tornassem vilões da inflação nacional.

Desde 2023, o Brasil não vinha registrando focos de problemas com aves. O mercado financeiro acredita que “é um foco específico naquela granja e que isso já está sendo resolvido; que os órgãos estão fiscalizando para que isso não afete outros setores”.

“Acredito eu que tudo isso vai ser resolvido de uma maneira muito rápida, até porque o Brasil, sendo um grande exportador de aves, é o primeiro a querer resolver o problema”, continua o especialista.

Como é detectado ?

A confirmação do vírus ocorre por meio de testes laboratoriais. Quando há suspeita, as amostras são enviadas ao laboratório do Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de São Paulo (LFDA-SP) em Campinas. 

“Em primeiro lugar, os veterinários e toda a equipe que trabalham nas granjas avícolas já sabem quando existe uma alta letalidade, e então enviam as amostras para o laboratório do Ministério em Campinas”.

Laboratório foi reconhecido em análise internacional sobre detecção da influenza aviária em 2023 | Foto: Reprodução

Em caso de confirmação, é necessária uma rigorosa higienização da área e muitas vezes o sacrifício dos animais contaminados. “Imagina o prejuízo disso para o agricultor, e agora o grande prejuízo para o Brasil”, reforça Clarice.

“O primeiro grande surto da gripe aviária ocorreu há vários anos atrás e nunca chegou ao Brasil. Na América Latina, somente havia chegado ao Chile. Desde então, nós estamos sempre alertas, atentos.”

A pesquisadora reforça que em locais de granja são realizados procedimentos para evitar a contaminação do ambiente e dos animais, além do desenvolvimento de tecnologia para rastreio dos alimentos, afirmando que não há motivo para preocupação: “Não tem como ter esse escape. Existe todo um protocolo, um caminho que você consegue seguir. É possível rastrear para onde foi, quando saiu, aonde está indo, tudo muito bem definido”.

Quais os cuidados a se tomar ?

De acordo com a pesquisadora Dra. Clarice Arns, neste momento é necessário reforçar a vacinação contra a H1N1. Isso porque o vírus da gripe aviária pode se rearranjar com facilidade e desenvolver subtipos. “A vacina não permite que ele se rearranje com outros vírus ou mesmo com esse. Então, é importante que todos estejamos protegidos contra H1N1, que é um vírus também da família influenza”.

Também é recomendável manter distância de locais contaminados e não tocar em animais, vivos ou mortos, nessas áreas. Essa é a melhor forma de prevenção.

Neste cenário, é importante ressaltar que não há registro de transmissão de gripe aviária de humanos para humanos. Além disso, somente o contato direto com as aves doentes, vivas ou mortas, podem contaminar o humano.

Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) afirma que “diante da atenção pública gerada em torno da Influenza Aviária, a ABPA reforça que não há risco de contaminação pelo consumo de carne de frango e ovos”.

Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) reforça que não há risco de contaminação pelo consumo de carne de frango e ovos | Foto: Divulgação

A orientação está alinhada com os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. Segundo o órgão, “não há evidências de que qualquer pessoa tenha se infectado com gripe aviária por meio de alimentos”.

A ABPA reforça que o preparo correto é o principal fator de segurança alimentar. O Ministério destaca, em seu portal oficial, a importância das boas práticas de higiene e cocção na manipulação de alimentos de origem animal.

Além disso, a entidade orienta a população a seguir medidas simples e eficazes em casa, como cozinhar completamente carnes e ovos; evitar o consumo de alimentos crus ou mal cozidos; e higienizar as mãos e utensílios após o preparo dos alimentos.

Com base em evidências científicas e nas recomendações das autoridades sanitárias nacionais e internacionais, o consumo de carne de frango e ovos no Brasil é, sempre foi, e permanecerá seguro.

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