segunda-feira, 10 fevereiro 2025
TRAGÉDIA SE REPETE

Há 43 anos, Santa Bárbara sofria com uma das maiores enchentes que já atingiram a cidade

Naquele ano, famílias barbarenses passaram por problemas parecidos com os registrados na última semana
Por
Isabela Braz
Foto: Arquivo Fundação Romi

Era manhã de sexta-feira, 8 de janeiro de 1982, quando as águas do Ribeirão Toledo tomaram conta de Santa Bárbara d’Oeste. Com a força das chuvas, mais de 50 famílias ficaram desabrigadas, aproximadamente 300 pessoas, em um início de ano conturbado para os barbarenses que moravam no entorno.

Morador da Vila Conceição, Valter Rodrigues viu a história se repetir no início da semana, quando Santa Bárbara teve de preparar um ginásio para receber desabrigados e viu o abastecimento de água e o retorno das aulas em escolas municipais e estaduais serem adiadas em razão do saldo das chuvas.

“No decorrer desses 40 anos sempre teve enchentes, um pouco menos, mas só agora aconteceu essa situação maior”, disse à TV TODODIA, enquanto observava a limpeza da Rua Nazareno Voltaine, uma das mais atingidas no alagamento desta semana.

Naquele janeiro de 1982, os mesmos bairros atingidos foram invadidos, de surpresa, pelas águas.

“A população ribeirinha foi acordada de forma bastante lamentável na última sexta-feira, com a água penetrando em suas casas e, lá fora, o aspecto assustador. Não se podia prever a que altura a água atingiria e alguns moradores dos bairros atingidos (J. Conceição, Icaraí, V. Oliveira, V. Sartori e P. Olaria) começaram a providenciar suas mudanças”, trazia o já extinto Jornal D’Oeste, na edição de 13 de janeiro de 1982.

Na época, foram 65,5 milímetros de chuva responsáveis por sobrecarregar o volume das represas de Cillo e Santa Alice, a Represinha. Quando as comportas foram abertas, há 42 anos, o Ribeirão dos Toledos subiu cerca de um metro, ampliando ainda mais a área de inundação. Números menores do que os registrados neste janeiro de 2025: 400 milímetros de água responsáveis por 1,7 metros, com a diferença que neste ano, as comportas das represas não foram abertas.

“É uma coisa terrível. Quando saí de casa na sexta-feira à noite, a água já alcançava mais de meio metro de altura”, comentou uma das moradoras da Vila Sartori logo após a enchente de 82 à reportagem do jornal Edição Barbarense. De acordo com ela, a última grande inundação no local havia acontecido 13 anos antes, em 1969.

Muito foi perdido com aquela tromba d’água: móveis, eletrodomésticos, danos de indústrias, pontes foram destruídas e construções ─ até mesmo de obras da prefeitura. Foram dois dias para que o nível do Ribeirão diminuísse, e muito trabalho para reconstrução por moradores e equipes da administração daquele período.

Em uma época com menos informação sobre os riscos da água poluída das enchentes ao corpo, crianças e jovens aproveitaram para brincar no ribeirão, fazendo com que a Prefeitura emitisse um apelo para que pais não permitissem que seus filhos se deslocassem até as áreas de inundação.

“Um outro pedido das autoridades é que os senhores pais não permitam que seus filhos se desloquem até as imediações das áreas inundadas, devido a grande velocidade das águas, o que poderia até trazer algum aborrecimento. Agindo dessa forma, estarão preservando a vida dos seus e colaborando para o bom andamento dos trabalhos no sentido de dar o atendimento devido às famílias atingidas”, diz um dos recortes da época.

Mesmo com o aviso, alguns optaram por ignorar. Com câmaras de ar e barquinhos, grupos passaram todo o fim de semana brincando nas águas.

Duas enchentes no mesmo ano

Quando muitos acreditavam que estavam reconstruindo suas vidas, cinco meses após a primeira enchente, em 27 de junho de 1982, Santa Bárbara é atingida por mais chuva que causaram mais uma vez o transbordamento do Ribeirão dos Toledos, fazendo desabrigados novamente e revoltando a população.

Com as águas atingindo na maioria o Jardim Conceição e a Vila Sartori, seis famílias ficaram desabrigadas, um saldo menor do que no início do ano. “Estamos apreensivos dia e noite, pois se acontecer como em janeiro, não dá tempo de salvar muita coisa. A água sobe muito rápido e ainda durante a noite”, disse uma moradora ao Jornal D’Oeste, em 30 de junho de 1982.

Foto: Renato Pereira/TV TODODIA

Na época, famílias reclamavam de falta de suporte. “É brincadeira isso. Ninguém fez nada. Novamente passamos por esse sufoco”, disse uma outra moradora. A altura dessas chuvas chegou a 30 centímetros.

Assim como em 2025, circularam informações que de o transbordamento seria em razão da abertura das comportas da Represinha, mas os boatos eram falsos.

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