
A Prefeitura de Hortolândia adquiriu R$ 57.944.445,00 em materiais didáticos e kits de robótica da Life Tecnologia Educacional Ltda. nos últimos cinco anos. A empresa, sediada em Piracicaba, é um dos alvos centrais da Operação “Coffee Break”, deflagrada na quarta-feira (12) pela Polícia Federal (PF), Ministério Público Federal (MPF) e Controladoria-Geral da União (CGU), que apura um possível esquema de fraude em licitações, superfaturamento e pagamento de propinas a agentes públicos.
Segundo dados obtidos pela TV TODODIA, apenas Hortolândia responde por quase metade de todo o volume movimentado pela empresa desde 2021 — cerca de R$ 128 milhões em contratos públicos.
A Prefeitura informou que pretende solicitar cópia da investigação para compreender as suspeitas levantadas, mas não abriu, por ora, apuração interna. A administração afirmou que todos os processos licitatórios seguem a legislação e que está “à disposição das autoridades”.
Compras também em Sumaré, Morungaba e Limeira
Além de Hortolândia, a Life forneceu materiais didáticos e equipamentos de robótica às prefeituras de Sumaré, Morungaba e Limeira. Em Sumaré, o valor adquirido ainda não foi confirmado oficialmente, mas estima-se que varie entre R$ 20 milhões e R$ 52 milhões. Somadas, as compras de cidades paulistas ultrapassam R$ 100 milhões.
De acordo com a PF, o esquema envolveria direcionamento de licitações, superfaturamento e pagamento de vantagens indevidas. Lobistas, empresários, agentes públicos e operadores financeiros participariam da operação, utilizando códigos como “café”, “mimos”, “pega”, “encomenda” e “convite da festa” para se referir às propinas.

Prisão do vice-prefeito e do secretário de Educação de Hortolândia
A operação cumpriu 50 mandados de busca e apreensão e seis prisões preventivas nos estados de São Paulo, Distrito Federal e Paraná. Desse total, 19 mandados foram executados na Região Metropolitana de Campinas.
Entre os presos estão o vice-prefeito e secretário de Governo de Hortolândia, Carlos Augusto Cesar, o Cafu (PSB), e o secretário municipal de Educação, Fernando Gomes de Moraes. Outras três pessoas também foram detidas.
Cafu passou por audiência de custódia na tarde de quinta-feira (13), mas continuava preso preventivamente, segundo sua defesa. O advogado Ralph Tortima Filho afirmou que solicitará a revogação da prisão após análise do processo. Já a situação atual do secretário de Educação não foi detalhada pela Prefeitura.
Até o momento, a PF não informou quais suspeitas recaem especificamente sobre Cafu ou sobre o secretário.
Mandados na região e investigados foragidos
A operação também cumpriu mandados de busca nas prefeituras de Hortolândia e Sumaré, em endereços de Limeira, Campinas e na sede da Life, em Piracicaba.
O ex-secretário de Educação de Sumaré (2022–2024), José Aparecido Ribeiro Marin, foi apontado como alvo da PF, mas não foi localizado. Ele estaria vivendo fora do país, segundo apurado pela reportagem. A atual gestão sumareense, que assumiu em janeiro, informou que não realizou novas compras da empresa e que o contrato já está sob sindicância interna.
Entre os 24 alvos da investigação está André Gonçalves Mariano, sócio da Life, detido preventivamente. Além dele, aparecem lobistas, doleiros, agentes políticos e servidores de Hortolândia e Sumaré.

Desdobramentos
A investigação segue em andamento, sem indiciamentos até o momento. Os envolvidos poderão responder pelos crimes de corrupção ativa e passiva, peculato, fraude em licitação, lavagem de dinheiro, contratação direta ilegal e organização criminosa.





