Entre as queixas nos municípios paulistas está a abertura para agendamento para uma faixa etária considerada grande, como 50 a 59 anos, o que gerou longas filas para cadastramento em cidades pequenas
As filas quilométricas de carros em alguns municípios em busca de vacina contra a Covid-19 se contrapõem à realidade de algumas cidades do interior de São Paulo, que enfrentam falta de doses dos imunizantes e até escassez de profissionais para aplicar as doses existentes.
Entre as queixas nos municípios paulistas está a abertura para agendamento para uma faixa etária considerada grande, como 50 a 59 anos, o que gerou longas filas para cadastramento em cidades pequenas e esgotou rapidamente as vagas onde os sistemas são informatizados.
A falta de imunizantes está afetando, por exemplo, o avanço da vacinação em Campinas, cidade mais populosa do interior, com 1,2 milhão de habitantes. Sem doses, ela suspendeu na segunda (21) o agendamento para a vacinação, apenas três horas após a liberação da agenda para pessoas com mais de 43 anos.
Segundo o município, em uma hora 11.779 agendamentos foram feitos, esgotando as 11.220 doses disponíveis para a faixa etária na data. O agendamento de novas pessoas foi condicionado à entrega de mais doses, o que ocorreu no fim da tarde desta terça (22), após chegarem 21.410 doses.
Em Sorocaba, pessoas com 50 anos ou mais, sem agendamento, se vacinaram contra a Covid-19 na última semana em locais que não eram destinados a elas, mas a profissionais da Educação, o que gerou a abertura de uma investigação da Corregedoria Geral do Município, segundo a prefeitura.
Quem também enfrenta problemas com as poucas doses é Rio Claro, que suspendeu a vacinação na segunda. A cidade retomou a imunização nesta terça, mas, segundo a prefeitura, as 1.452 doses recebidas do DRS (Departamento Regional de Saúde) de Piracicaba são capazes de suprir a necessidade de apenas um dia e não há previsão de quando mais doses serão entregues.
Em Ribeirão Preto, os problemas enfrentados incluem dificuldades no agendamento –pela falta de doses ou por oscilações do site para cadastramento– e até a investigação de uma suposta vacinação tripla.
Moradores têm reclamado da falta de escalonamento para os agendamentos, o que fez com que boa parte dos mais de 50 mil habitantes com idades entre 50 e 59 anos não tenha conseguido se cadastrar para a vacinação.
A Secretaria da Educação também abriu investigação após receber denúncia de que um profissional da área teria recebido, no dia 16, uma terceira dose de vacina, o que é irregular.
A prefeitura informou, via assessoria, que foram disponibilizadas cerca de 42 mil doses em dois agendamentos para a faixa etária de 50 a 59 anos e que, nesta quarta (23), abrirá para a população de 43 a 59 anos. Sobre os sistemas informatizados, diz ter aumentado a quantidade de servidores de 4 para 20.
Já em Cabreúva, até o fim de semana cerca de 70% das 20 mil doses recebidas ainda não haviam sido aplicadas devido à falta de profissionais.
A prefeitura abriu edital de emergência para contratar enfermeiros e técnicos terceirizados e admitiu sete profissionais. A chegada fez a vacinação avançar -em dois dias, 9.000 moradores foram imunizados.
“Ainda temos mais dez vagas em aberto. Esperamos que com a contratação dessas pessoas a gente consiga aplicar todas as doses e zerar a fila da vacinação na cidade”, disse Janaína Dias, secretária-adjunta de Saúde.
Até a tarde desta terça, Cabreúva ainda tinha 5.000 doses para serem aplicadas em moradores de 45 a 49 anos.
Na contramão, Ourinhos suspendeu a vacinação devido à falta de imunizantes. Em comunicado na segunda, a Secretaria da Saúde informou que as doses haviam se esgotado e que o município aguarda novas remessas –sem prazo.
Em Santo Antônio do Pinhal, cidade de 6.827 habitantes no Vale do Paraíba, uma fila enorme se formou na última quinta (17) por pessoas de 50 a 59 anos em busca de vacina.
Mas só havia 70 doses, o que gerou revolta das pessoas e fez com que a administração alterasse a forma de convocação da população.
Segundo o Mutirão, coletivo que acompanha o dia a dia da gestão municipal, o episódio foi mais um envolvendo a vacinação. O grupo alega que a população cresceu na pandemia, já que o município passou a ser usado como refúgio de moradores da região metropolitana da capital, e que houve vacinação de pessoas de outras cidades.
A reportagem não conseguiu contato com a secretária da Saúde nesta terça. Funcionários da pasta disseram que a cidade, assim como outras, estão enfrentando desfalque de doses e que, após o tumulto da última semana, em vez de abrir a imunização para a faixa de 50 a 59 anos, agora estão sendo chamados moradores de 58 e 59. A mudança, segundo os servidores, ocorreu a pedido da população.