
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) emitiu, nesta quinta-feira (28), um mandado de prisão contra o ex-padre Pedro Leandro Ricardo, condenado a 10 anos e 6 meses de prisão em regime fechado pelo crime de atentado violento ao pudor.
A decisão refere-se a um processo que já havia transitado em julgado desde julho de 2022, e que teve a pena confirmada por acórdão do STF. O TJ-SP determinou que o réu seja preso e encaminhado a uma unidade prisional.
Os casos
Os crimes aconteceram entre 2002 e 2006, nas dependências da Paróquia São Francisco de Assis, localizada na Avenida Presidente Vargas, em Araras
De acordo com os relatos das vítimas, o ex-padre escolhia lugares isolados para cometer os abusos, como viagens a cultos em cidades vizinhas, quando aproveitava a kombi da paróquia para acariciar os adolescentes. Também os convidava para a Casa Paroquial, onde ocorreram os episódios de violência.
Uma das vítimas contou que, certa noite, o padre apareceu apenas de samba-canção, tocando o próprio órgão genital e tentando forçá-lo a praticar sexo oral. “A vítima permaneceu paralisada, anestesiada pela situação, enquanto o padre insistia.” Em seguida, segundo a acusação, o religioso realizou o ato sexual. “O menino, aterrorizado, fugiu para o quarto e passou a noite trancado”, descreve a sentença.
Outra vítima relatou que, durante a preparação para uma missa, quando se vestia para atuar como acólita, o padre se aproximou para ajudá-la e, nesse momento, deslizou as mãos pelo corpo da jovem.
Na decisão judicial é relatado que as vítimas não eram escolhidas ao acaso. “Eram cuidadosamente selecionadas pelo réu, que, ciente do poder reverencial que ostentava como padre e, diante da ausência de uma estrutura familiar sólida, assumia o papel de figura paterna apenas para delas se aproveitar em busca de sua lascívia.”
Fala da acusação
A advogada Talitha Camargo da Fonseca, da acusação, comentou que a decisão era esperada. “Era algo que já esperávamos. As vítimas convivem com essa angústia há anos. Essa condenação mostra a morosidade do sistema de justiça brasileiro, já que muitos dos casos foram denunciados apenas cerca de 20 anos depois, quando o prazo prescricional estava prestes a se encerrar.”
Ela ressaltou também o papel da Igreja Católica. “Não se trata apenas de uma falha do Judiciário. Houve acobertamento por parte da Igreja e de bispos que estiveram à frente da Diocese de Limeira. Esse caso só veio à tona na Justiça brasileira porque a Justiça Canônica deu os primeiros encaminhamentos, afastando o padre e também o bispo da época.”
“Aqui não falamos apenas de abuso sexual, mas também da corrupção da fé. Essas vítimas entregaram suas dores a quem acreditavam que as levaria a Deus. Em vez disso, tiveram sua fé destruída, porque o símbolo da esperança foi justamente quem as corrompeu”, reafirma a advogada.
Defesa
Procurado, o advogado Paulo Henrique de Moraes Sarmento, que representa Pedro Leandro, afirmou por nota que “das quatro acusações em Araras, Leandro foi absolvido em duas e uma prescreveu. Restou apenas uma condenação, da qual será interposta revisão criminal, pois os tribunais não se atentaram a nulidades do processo.”