domingo, 25 maio 2025
ALIMENTAÇÃO

Mês do trabalhador rural: conheça histórias de quem alimenta Americana e região

Área de cobertura da TV TODODIA tem quase 5 mil profissionais do setor formalizados
Por
Diego Rodrigues

“Se o campo não roça, a cidade não almoça; se o campo não planta, a cidade não janta.”

O ditado popular resume, de forma simples e direta, a importância do trabalhador rural para a sociedade brasileira. O mês de maio, mais especificamente o dia 25, celebra essa classe fundamental, responsável por colocar alimento na mesa de milhões de pessoas todos os dias. Ainda assim, esses profissionais enfrentam desafios como a informalidade, o trabalho precário, os baixos salários e a falta de reconhecimento.

Segundo dados de março de 2025 do Novo Caged, o Brasil possui 1.847.659 trabalhadores rurais com carteira assinada. No estado de São Paulo, são 344.504, e na área de cobertura da TV TODODIA — que abrange Americana, Campinas, Limeira, Nova Odessa, Piracicaba, Santa Bárbara d’Oeste e Sumaré — são 4.280 trabalhadores rurais formalizados.

Apesar da urbanização e industrialização aceleradas, a região de Campinas mantém uma agricultura diversificada. De acordo com o engenheiro agrônomo João Brunelli, assessor técnico da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), muitos municípios ainda têm na agricultura uma atividade econômica essencial, com destaque para a fruticultura e a pecuária leiteira.

Região tem quase 5 mil trabalhadores rurais, aponta o Caged. Foto: Arquivo/TV TODODIA

Em cidades como Americana, por exemplo, a agricultura periurbana — desenvolvida em áreas urbanas como quintais, varandas e espaços comunitários — é importante para o abastecimento da merenda escolar e dos mercados locais. “A atividade agrícola não é exclusiva do meio rural”, destaca Brunelli.

Vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, a Cati implementa políticas públicas de apoio aos agricultores, oferecendo suporte técnico e incentivando a organização de pequenos produtores em associações e cooperativas. Isoladamente, esses agricultores enfrentam dificuldades para acessar crédito e competir com o agronegócio.

A Secretaria de Agricultura também disponibiliza linhas de financiamento com juros acessíveis, em torno de 3% ao ano, para estimular a produção e a formalização.

Entretanto, em cidades como Santa Bárbara d’Oeste, a predominância de grandes monoculturas, como a cana-de-açúcar, restringe o espaço e as oportunidades para a agricultura familiar.

Apesar dos esforços, a situação dos trabalhadores rurais brasileiros continua preocupante. Segundo Gabriel Bezerra, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais (Contar), a informalidade é um dos maiores problemas. No Sul do país, 60% desses trabalhadores não têm carteira assinada; no Nordeste, o índice ultrapassa 90%.

Gabriel Bezerra, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais, durante entrevista à TV TODODIA. Foto: Reprodução/TV TODODIA

Mesmo integrando uma cadeia produtiva que representa parte significativa do PIB nacional — R$ 655 bilhões da agropecuária dentro de um total de R$ 11,7 trilhões em 2024 — os trabalhadores rurais continuam recebendo os salários mais baixos do país. De acordo com a PNAD Contínua, a média salarial da categoria ficou abaixo de R$ 2.000 em 2024, bem inferior à média nacional de R$ 3.343.

Outro problema persistente é o trabalho escravo e infantil no campo. Somente em 2024, o Ministério do Trabalho e Emprego resgatou 2.004 pessoas em condições análogas à escravidão, sendo 612 trabalhadores rurais. Para Bezerra, é essencial intensificar a fiscalização e ampliar a proteção a esses profissionais.

O Dia do Trabalhador Rural, celebrado em 25 de maio, foi instituído em homenagem ao deputado Fernando Ferrari, autor do Estatuto do Trabalhador Rural. Décadas depois, ainda há muito a ser conquistado.

“É um trabalho penoso, exposto ao sol, à chuva e às intempéries. Esses trabalhadores geram riqueza, produzem alimento, mas continuam invisíveis aos olhos da política pública e da sociedade”, afirma Bezerra.

Mais do que uma data comemorativa, o 25 de maio deve ser um momento de reflexão e mobilização por justiça social, reconhecimento e valorização de quem garante o alimento na mesa do povo brasileiro.

Agricultura Urbana: histórias de quem cultiva perto de casa
Segundo dados da Casa da Agricultura de Americana, existem aproximadamente 140 produtores agrícolas urbanos no município. Entre eles está o agricultor Ademir Truzzi, um dos pioneiros no cultivo de mudas de hortaliças na cidade. Com 30 anos de atuação, ele abastece hortas em Americana, Santa Bárbara d’Oeste, Nova Odessa, Sumaré e Paulínia.

Ademir Truzzi foi um dos primeiros a cultivar hortaliças em Americana. Foto: Reprodução/TV TODODIA

O terreno onde trabalha — com 3.500 m² e dez colaboradores — pertence à prefeitura. Além das hortaliças, o espaço conta com um orquidário. “Alface e rúcula são os itens mais vendidos, mas com a chegada do inverno aumenta a procura por couve, brócolis e repolho”, explica o produtor, destacando a sazonalidade do setor.

Truzzi fornece para a merenda escolar, feiras, supermercados, restaurantes e clientes particulares. “Hoje, tudo o que é produzido é vendido”, comemora.

Outro exemplo é Noboru Fujiwara, de 68 anos. Filho de japoneses, trabalhou a vida toda no campo, com café, milho e soja. Desde 2010, dedica-se exclusivamente à horticultura em Americana. Por atuar em área urbana, Noboru se preocupa com o tipo de fertilizante utilizado, evitando odores fortes que possam incomodar os vizinhos.

Noboru Fujiwara atua no ramo há mais de 15 anos. Foto: Reprodução/TV TODODIA

“Em caso de chuvas fortes ou qualquer desastre natural, o pequeno produtor perde a safra. Um grande produtor pode financiar um ou até dois anos de prejuízo. O pequeno, não. A burocracia é enorme para qualquer financiamento”, lamenta.

Já o agricultor Jair Ferreira, de 62 anos, é proprietário da Nossa Horta Orgânica e tem orgulho de produzir alimentos sem agrotóxicos ou insumos artificiais. “Cuidamos do solo como se fosse a mãe do alimento. Se a terra está nutrida, os alimentos também estarão”, explica. Ele usa compostagem orgânica, com restos de cascas de ovos, laranjas e maçãs.

Jair Ferreira detalhou atividade rural à TV TODODIA. Foto: Reprodução/TV TODODIA

Jair atende três perfis de clientes: o esporádico, o consumidor fiel de orgânicos e o que ele chama de cliente ambiental — pessoas que entregam seus resíduos orgânicos semanalmente para contribuir com a compostagem da horta.

Além de mais saudáveis e nutritivos, os alimentos orgânicos têm maior durabilidade, embora levem mais tempo para serem colhidos. A procura também é alta entre pacientes oncológicos, orientados por médicos a buscarem uma alimentação mais natural. “A quimioterapia já é uma agressão ao corpo. O alimento convencional, cheio de agrotóxicos, seria uma agressão a mais”, conclui.

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