Em implantação desde o começo do ano, a nova Avenida Americana, que corresponde ao prolongamento da Ricieri Covessi, é um projeto viário planejado há décadas. Quando concluída, a via terá 1,1 quilômetro de extensão e 15 metros de largura, ligando a Avenida Nossa Senhora de Fátima à Avenida Bandeirantes, na margem do Córrego Santa Angélica. O investimento total é de R$ 4,6 milhões, parte viabilizada pela Prefeitura e parte por um condomínio residencial como contrapartida.
Apesar de a obra ser apresentada como um desafogo para a mobilidade da região, moradores próximos ao córrego afirmam ter percebido redução na presença de animais silvestres e alterações na vegetação.
“A maior diferença que a gente vê é o prejuízo dado à fauna, à flora, aos animais que aqui vivem. Aqui existem capivaras, tatus, há também criação de gatos no local, mas tem tucanos, tem muitos saruês, aqueles gambazinhos, tem muitos aqui, muitos mesmo. Eu sou morador do bairro, sou uma pessoa consciente, sou defensor dos animais e sou uma das pessoas que não concordam com a derrubada de tantas árvores em prol da construção de uma rua que vai beneficiar a quem?”, afirma Gilberto Bento, morador do bairro e ativista da causa animal.
Reclamações chegaram ao Legislativo
A reclamação dos moradores chegou ao Legislativo. A vereadora Professora Juliana (PT) protocolou requerimento para ter acesso ao processo completo de licenciamento. “Nosso mandato foi procurado por pessoas que vieram pelas redes sociais, pelo WhatsApp, que são moradores do entorno e que se sentiram diretamente afetados, especialmente porque, quando a Prefeitura foi fazer essa obra, não houve em nenhum momento um diálogo direto com esses moradores”, afirmou a parlamentar.

Licenças e compromissos ambientais
A construção da nova avenida em Americana tem respaldo em licenças ambientais emitidas há quase uma década e renovadas neste ano. Em 2015, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) autorizou a intervenção em Área de Preservação Permanente (APP) e a supressão de vegetação nativa para a implantação da Avenida Marginal ao Córrego Santa Angélica e de galerias pluviais.
Em fevereiro de 2025, a Prefeitura firmou um novo Termo de Compromisso de Recuperação Ambiental (TCRA) para atualizar as condições da obra. O documento determina: reflorestamento com 450 mudas de espécies nativas, com manutenção por 24 meses ou até a autossustentação da vegetação; controle ambiental, incluindo remoção de resíduos, supressão de espécies exóticas invasoras, roçagem periódica e criação de aceiros; além de relatórios semestrais detalhando o andamento e as intervenções de manutenção.
Segundo a Prefeitura, essas medidas garantem a compensação ambiental e a regularidade da intervenção, que permanece condicionada ao acompanhamento da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e aos relatórios periódicos previstos no termo.
Prefeitura e mobilidade urbana
O chefe de gabinete, Franco Sardelli, destacou em entrevista à TV TODODIA que o projeto consta do planejamento urbano “há décadas, passando por gestões anteriores”, e afirmou não haver relação com o novo shopping previsto para a região, apesar de parte da população associar a construção da avenida ao empreendimento.
“Aquela obra já está no plano diretor desde 1970, se eu não me engano. É importante destacar que não tem nada a ver com o shopping, são duas coisas diferentes. O shopping, inclusive, nem é uma contrapartida dele; aquilo lá é uma obra da Prefeitura, e uma parte dela é contrapartida de outro empreendimento que fica ali próximo. Eu acho que essa questão de mobilidade é bem clara na região, porque você está desafogando o trânsito tanto da Nossa Senhora de Fátima como da Avenida Bandeirantes. É uma passagem, como se fosse um viaduto. Você desafoga o viaduto Abadeu Elias, porque consegue fazer a travessia de um lado para o outro. Então, assim, é uma questão de trânsito”, afirmou o chefe de gabinete.
Em release divulgado pela Prefeitura, o secretário-adjunto de Trânsito, Marcelo Giongo, afirmou que a avenida deve criar “um novo eixo de ligação entre duas importantes vias, reduzindo tempo de deslocamento e dando mais fluidez à cidade”.
Próximos passos
A conclusão da avenida está prevista para o segundo semestre de 2025. A Secretaria de Meio Ambiente foi questionada pela reportagem, mas, até o fechamento desta edição, não houve resposta. A organização do Americana Shopping também foi procurada por estar sendo associada, por parte da população, à construção da avenida, mas igualmente não respondeu.