O Movimento Salve a Boyes realizou nesta segunda-feira (25), em Piracicaba, um encontro sobre as projeções de estudos e ideias construídas coletivamente com profissionais como arquitetos, historiadores e moradores para o futuro da área de cerca de 33 mil metros quadrados onde funcionava a antiga fábrica têxtil da Boyes, na Rua Antônio Corrêa Barbosa, perto da Ponte Pênsil.
Diálogo é necessário
Segundo os voluntários, há propostas interessantes a serem apresentadas e que, para isso, é preciso diálogo com o poder público e privado. “Há estudos com projetos que podem ser desenvolvidos, estamos dispostos a dialogar com os empresários e principalmente com o poder público para a afirmação do uso público da área e a possibilidade da parceria entre público e privado”, afirmou o historiador e voluntário do movimento, Pablo Carajol.
Os voluntários do Movimento Salve a Boyes querem apresentar, nesta solicitação de diálogo, alternativas para garantir a preservação e valorização histórica, ambiental e cultural do lugar. A arquiteta Bartira Mendes, enfatizou a importância da preservação e a valorização histórica do patrimônio industrial que aconteceu na cidade, ela lembrou que a fábrica teve iniciativas revolucionárias para a época, como o acolhimento de mulheres no trabalho e uma creche no local para os filhos das funcionárias.

Projetos rentáveis
O artista visual Paulo José Keffer Franco Netto, o Pazé, também faz parte da comissão técnica, formada há cerca de três meses, para estudarem projetos que tenham rentabilidade aos proprietários, mas que preservem as características da orla do rio e dos patrimônios da Rua do Porto e todo o Rio Piracicaba. Ele foi o responsável pelo levantamento histórico de toda a área que comporta a orla.
Desenvolvimento em locais adequados
Com a proposta privada de construção habitacional e verticalização da área, a arquiteta e urbanista Camila Leibholz comentou que devem acontecer para o desenvolvimento das cidades, porém, devem ocorrer em locais adequados. “É preciso preservar a abertura e o respiro do entorno do rio. Dependendo do tratamento dado, um rio pode ser um espaço de acolhimento ou segregar”, comentou sobre a possibilidade dos edifícios altos junto às margens isolar o rio do restante da malha urbana.
Até o fechamento da matéria, a Prefeitura de Piracicaba não havia enviado a resposta solicitada pela TV TODODIA sobre o diálogo entre poder público e o movimento. Os voluntários comentaram que fizeram contato, porém, a conversa não foi marcada e ainda não aconteceu com nenhum dos integrantes.
Exemplo vem de Paris
A comissão técnica comparou e trouxe como referência o rio Sena, em Paris, onde foram preservadas margens amplas e livres de edifícios altos, garantindo o visual aberto, verde e democrático. “O local atrai visitantes do mundo inteiro pela sua paisagem urbana e esse equilíbrio entre o verde e o urbano pode fortalecer a relação rio e cidade”, completou Camila.
Boyes
Fundada em 1874 por Luiz de Queiroz como Fábrica de Tecidos Santa Francisca, o complexo foi referência de inovação com maquinário inglês e captação da água do rio para movimentação das turbinas. Após a morte do fundador, a fábrica foi comprada em 1902 por Rodolpho Miranda, que mudou o nome para Arethusina e em 1918, os irmãos Herbert James Singleton Boyes e Alfred Simeon Boyes compraram a fábrica e o nome mudou novamente para Companhia Industrial Agrícola Boyes.
Desativada em 2006, a fábrica de tecidos Boyes é alvo de polêmica sobre o futuro do local. Já foi projeto para shopping, construção de torres residenciais e os ativistas esperam um projeto que preserve a arquitetura, o meio ambiente e a história.
Em 2007 foram adquiridas pelos empresários Jorge Aversa Júnior, Luiz Carlos Furtuoso e Adenir Graciani. Em 2023, criaram o Boulevard Boyes que apresentaram a construção de prédios residenciais de alto padrão. Foi neste ano, que surgiu o Movimento em Defesa da Boyes, com um abaixo-assinado solicitando o cancelamento da iniciativa.