Reinaldo Amorim Casteluzzo nasceu em Petrolina (PE), numa região de rara beleza natural, próxima do Rio São Francisco, mas vivia numa situação de pobreza e dificuldade. Aos cinco anos ganhou um violão de presente da mãe, para ser compartilhado com os dois irmãos. Deslanchou. Seguiu carreira de músico, aprendendo o violão clássico. O irmão se tornou luthier.
Na década de 1980, Reinaldo começou a dar aulas e percebeu que não havia instrumentos adaptados mundialmente, escolas especializadas ou métodos dirigidos a pessoas com deficiência. Nessa época, dava aulas em um conservatório. Notou que alguns alunos tinham mutilações, deficiências congênitas, não tinham mobilidade nas falanges. No entanto, tinham em comum o fato de amar a música.
Ele então decidiu que faria algo para incluí-los nesse universo. Ingressou no mestrado na FCM (Faculdade de Ciências Médicas) da Unicamp. Orientado pelo pediatra Roberto Teixeira Mendes, avaliou o uso de um violão adaptado por crianças com paralisia cerebral. O violão foi criado por Reinaldo com o nome de “violão terapêutico”.
Reinaldo fez, então, uma intervenção com 22 jovens da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Arthur Nogueira, atendidos pelo HC (Hospital de Clínicas) da Unicamp e lhes apresentou um violão que pode ser tocado com apenas uma mão.
Acompanhado de uma psicóloga, de uma assistente social e de uma professora de música, aplicou um questionário aos pacientes. Noventa dias depois, o questionário foi reaplicado. Os resultados surpreenderam. Todos os alunos com paralisia cerebral conseguiram tocar e uma grande mudança se operou neles: no visual, no bem-estar e na qualidade de vida.
Reinaldo criou o violão terapêutico de 12 cordas com base teórica que segue as notas fundamentais da música e que foi trabalhado na luthieria para permanecer com a mesma estética do tradicional, mas exercendo a função de três violões. “O nosso (violão), inédito no mundo, é afinado de uma forma que dispensa o uso de uma das mãos.” O novo violão é aparentemente formado por três acordes. Porém, o método completo emprega mais de 30. “Gosto tanto do violão que eu não quero ver uma pessoa que não o toque por não ter condições físicas”, disse.
Violão pode ser comercializado
Reinaldo é classicista e foi influenciado por compositores como Francisco Tárrega e Andrés Segovia. Tem 15 CDs gravados e lançou vários métodos de ensino de violão.
Foi duas vezes premiado no Festival de Música Cidade Canção, da TV Cultura do Paraná, graças à sua técnica apurada, construída em 40 anos de estudos. “Mas a minha grande obra mesmo foi o violão que toca com apenas uma mão”, diz.
Ele falou da expectativa de colocar o seu violão no mercado. “Já vendemos mais de 50 violões, porém o custo ainda é alto. Um violão não sai por menos de R$ 2 mil.” O músico crê que pode ter dado o start para a adaptação de instrumentos como o cavaquinho, a viola, a guitarra. “Os alunos sequer sonhavam em tocar violão, por acharem que era impossível. Mas já esperávamos esses resultados porque a música tem o poder de distrair e de acalmar.”