sexta-feira, 19 abril 2024

Músico cria violão para pessoas com paralisia

Reinaldo Amorim Casteluzzo nasceu em Petrolina (PE), numa região de rara beleza natural, próxima do Rio São Francisco, mas vivia numa situação de pobreza e dificuldade. Aos cinco anos ganhou um violão de presente da mãe, para ser compartilhado com os dois irmãos. Deslanchou. Seguiu carreira de músico, aprendendo o violão clássico. O irmão se tornou luthier.
Na década de 1980, Reinaldo começou a dar aulas e percebeu que não havia instrumentos adaptados mundialmente, escolas especializadas ou métodos dirigidos a pessoas com deficiência. Nessa época, dava aulas em um conservatório. Notou que alguns alunos tinham mutilações, deficiências congênitas, não tinham mobilidade nas falanges. No entanto, tinham em comum o fato de amar a música.
Ele então decidiu que faria algo para incluí-los nesse universo. Ingressou no mestrado na FCM (Faculdade de Ciências Médicas) da Unicamp. Orientado pelo pediatra Roberto Teixeira Mendes, avaliou o uso de um violão adaptado por crianças com paralisia cerebral. O violão foi criado por Reinaldo com o nome de “violão terapêutico”.
Reinaldo fez, então, uma intervenção com 22 jovens da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Arthur Nogueira, atendidos pelo HC (Hospital de Clínicas) da Unicamp e lhes apresentou um violão que pode ser tocado com apenas uma mão.
Acompanhado de uma psicóloga, de uma assistente social e de uma professora de música, aplicou um questionário aos pacientes. Noventa dias depois, o questionário foi reaplicado. Os resultados surpreenderam. Todos os alunos com paralisia cerebral conseguiram tocar e uma grande mudança se operou neles: no visual, no bem-estar e na qualidade de vida.
Reinaldo criou o violão terapêutico de 12 cordas com base teórica que segue as notas fundamentais da música e que foi trabalhado na luthieria para permanecer com a mesma estética do tradicional, mas exercendo a função de três violões. “O nosso (violão), inédito no mundo, é afinado de uma forma que dispensa o uso de uma das mãos.” O novo violão é aparentemente formado por três acordes. Porém, o método completo emprega mais de 30. “Gosto tanto do violão que eu não quero ver uma pessoa que não o toque por não ter condições físicas”, disse.

Violão pode ser comercializado
Reinaldo é classicista e foi influenciado por compositores como Francisco Tárrega e Andrés Segovia. Tem 15 CDs gravados e lançou vários métodos de ensino de violão.
Foi duas vezes premiado no Festival de Música Cidade Canção, da TV Cultura do Paraná, graças à sua técnica apurada, construída em 40 anos de estudos. “Mas a minha grande obra mesmo foi o violão que toca com apenas uma mão”, diz.
Ele falou da expectativa de colocar o seu violão no mercado. “Já vendemos mais de 50 violões, porém o custo ainda é alto. Um violão não sai por menos de R$ 2 mil.” O músico crê que pode ter dado o start para a adaptação de instrumentos como o cavaquinho, a viola, a guitarra. “Os alunos sequer sonhavam em tocar violão, por acharem que era impossível. Mas já esperávamos esses resultados porque a música tem o poder de distrair e de acalmar.”

 

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