Levantamento da reportagem em supermercados de Americana e Santa Bárbara aponta que produto sagrado na mesa de quase todo brasileiro subiu 28% nos últimos 12 meses
Assim como outros produtos da cesta de consumo tradicional dos brasileiros, o café tem apresentado preço mais amargo nos últimos meses. É o que aponta o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que registrou em outubro alta de 4,34% no preço do produto, atingindo aumento de 34,53% se considerados os últimos 12 meses. Levantamento feito pelo TODODIA em supermercados de Americana e Santa Bárbara d’Oeste sobre o preço do pacote de 500 gramas de café moído mostra que o produto varia entre R$ 11,89 e R$ 49,90 – caso das opções classificadas como “gourmet”. O preço médio do produto é de R$ 17,89, aproximadamente R$ 4 (ou 28%) mais caro do que em outubro do ano passado.
A auxiliar de confecção Silvana Maria Nascimento, de Americana, comenta que ela e o marido consomem, aproximadamente, 1 quilo de pó de café por semana. “O café que estou acostumada a comprar, atualmente, está R$ 18. Faço de duas a três vezes por dia e, pela manhã, um pouco a mais para que o meu marido e eu possamos levar para o trabalho”, comenta Silvana. “Até tentei trocar de marca, mas não me acostumo. O jeito é diminuir a quantidade de café e tentar fazer apenas o que vamos tomar. Antes, fazíamos um pouquinho a mais, sobrava na garrafa e acabávamos jogando fora. Hoje em dia isso não acontece”, diz.
A dona de casa Mara Cristina Oliveira, de Santa Bárbara d’Oeste, também sentiu o aumento do preço, mas diz que deixou de comprar outros itens para manter a bebida na mesa da família. “Em casa começamos o dia com o pãozinho e o café. Não conseguiria ficar sem ou ter de tomar outra coisa. Sei que o dia começa depois das minhas duas xícaras de café”, explica.
Ela diz que passou a fazer pesquisa de preço em supermercados para definir onde fazer as comprar com base no valor do produto. “A variação entre um mercado e outra é muito pequena, mas consegui encontrar em dois lugares preços diferentes em quase R$ 2”.
Apesar de Silvana e Mara procurarem meios para não tirar o café da rotina, uma pesquisa feita pela Abic (Associação Brasileira da Indústriado Café) concluiu que o consumo interno do grão caiu 14% entre outubro e novembro deste ano. Segundo a associação, o aumento do preço da saca do produto cru chegou a 130%, o que representa 70% do custo de produção para as indústrias do setor.
Já aqueles quem prefere tomar o cafezinho fora de casa têm encontrado pouca variação no preço. “Temos praticado o mesmo preço de antes da pandemia e não fizemos nenhuma modificação no cardápio por causa do aumento do produto”, comenta Eliete Bregadioli, funcionária de uma cafeteria de Santa Bárbara d’Oeste.
Ela explica que a frequência de clientes diminuiu, mas apenas durante o período de isolamento social e, com o relaxamento dos protocolos, o estabelecimento, localizado no Centro da cidade, voltou a registrar crescimento no número de frequentadores. “É um produto que faz sucesso entre os brasileiros, então quem gosta não deixa de tomar”.
Para o pesquisador e especialista em mercado do café, Renato Garcia Ribeiro, do Cepea (Centro de Pesquisa Econômica Aplicada) da Esalq/USP, o impacto da crise hídrica e dificuldades de loígistica são os principais fatores para o aumento no preço do produto.
“O café tem bienalidade de produção, um ano de produção alta e outro baixa, uma vez que o galho demora para crescer. Portanto, o café colhido em 2021 começou a ser produzido no segundo semestre de 2020, ano de bienalidade baixa. A seca também tem atrapalhado a safra de 2022. Além disso, há a crise logística que dificulta os embarques do produto”.
Ele explica que o café comumente consumido no Brasil é uma mistura do arábica e do canilon e que, é possível que haja uma queda na qualidade do produto para manter preços mais acessíveis.
“Não necessariamente todos os produtores estão lucrando com os preços altos do café. O produtor acabou vendendo muito de forma antecipada, uma avaliação de bebida do café e houve dificuldade de obter o padrão do que foi acordado. Além de que muito produtor perdeu a lavoura inteira e vai ter que replantar”.