sexta-feira, 5 dezembro 2025
IMBRÓGLIO

‘Ninguém vai colocar a faca no meu pescoço’, diz Piovezan após empresa de transporte sugerir rescisão do contrato em Santa Bárbara

Concessionária afirma operar com tarifas defasadas há anos; prefeitura rebate acusação
Por
Felipe Gomes e Airan Prada
A declaração é mais um desdobramento da crise entre a prefeitura e a concessionária, intensificada nesta semana. Foto: Arquivo/TV TODODIA e Reprodução/Nova Via

O atrito entre a Prefeitura de Santa Bárbara d’Oeste e a Nova Via, concessionária responsável pelo transporte público municipal, ganhou um novo capítulo nesta quinta-feira (4). Questionado pela TV TODODIA sobre o tema, o prefeito Rafael Piovezan (PL) subiu o tom contra a empresa, que ingressou na Justiça pedindo uma ação indenizatória e citando uma possível rescisão contratual.

Em coletiva durante a abertura do Natal das Árvores, que integra as comemorações dos 207 anos da cidade, o chefe do Executivo rebateu as alegações da concessionária e afirmou que não aceitaria ficar “com a faca no pescoço” diante do pedido de indenização por um suposto déficit decorrente da falta de reajustes tarifários entre agosto de 2018 e maio de 2022.

A declaração é mais um desdobramento da crise entre a prefeitura e a concessionária, intensificada nesta semana. Na segunda-feira (1°), o serviço foi parcialmente paralisado em razão dos litígios entre ambos. Dois dias depois, a Justiça acatou uma liminar da administração municipal determinando a normalização das linhas.

Dividida
A Nova Via Transportes, responsável pela operação desde 2021, alega, na ação, desequilíbrio econômico-financeiro no contrato de concessão.

No documento ao qual a TV TODODIA teve acesso, a empresa sustenta que a falta de reajustes teria provocado prejuízos e pede que o município seja condenado a ressarcir o déficit.

Prefeitura contesta críticas da Nova Via. Foto: Reprodução/TV TODODIA

“Há anos o município réu não vem cumprindo com sua obrigação legal e contratual de conceder os reajustes e revisões tarifários, causando patente desequilíbrio econômico-financeiro na concessão, o que enseja o direito de recebimento de indenização pela autora, bem como a rescisão do contrato de concessão”, afirma a petição.

A empresa aponta que já não possui condições financeiras de manter o sistema sem recomposição econômica e solicita que a Justiça reconheça o desequilíbrio, determine o pagamento dos prejuízos e avalie a possibilidade de rescisão caso o município não adote medidas de correção.

Queixas
Ainda conforme o processo, “os valores foram muito aquém do necessário para arcar com os custos da operação do serviço público disponibilizado à população durante toda a execução do contrato”. A empresa alega que o déficit será comprovado por meio de perícia econômica, que deverá observar as regras de revisão trienal e os reajustes previstos na fórmula paramétrica do contrato.

A Nova Via também argumenta que as tarifas fixadas ao longo dos anos ficaram abaixo do necessário para cobrir custos de operação, investimentos e a sustentabilidade do serviço. A concessão tem origem na Licitação nº 05/2010, vencida pela Sertran, que iniciou a operação em dezembro de 2013 com tarifa de R$ 2,43.

Empresa atende moradores de Santa Bárbara há cerca de quatro anos. Foto: Luiz Ariel/TV TODODIA

Em 2021, a Sertran transferiu o contrato nº 108/2013 à Nova Via. O documento prevê reajustes anuais e revisões periódicas, além da obrigação legal de manter o equilíbrio econômico-financeiro, amparada pela Constituição e por leis federais de concessões e mobilidade urbana.

A empresa sustenta que o município descumpriu esses mecanismos mesmo diante do aumento de custos com combustíveis, mão de obra, manutenção e renovação da frota.

Valores ao longo dos anos
A evolução tarifária apresentada no processo indica períodos sem reajuste:

  • R$ 2,43 em 2013.
  • R$ 3,30 em 2015.
  • R$ 3,60 em 2016.
  • R$ 3,80 em 2017.
  • R$ 4,00 em 2018.
  • R$ 4,40 em 2019.
  • R$ 4,85 em 2021.
  • R$ 5,90 apenas em 2025.

Para a concessionária, o congelamento entre 2021 e 2025 agravou o desequilíbrio e violou regras editalícias. A Nova Via afirma ter apresentado estudos técnicos ao município e solicitado o pagamento do déficit relativo a 2018–2020, mas não obteve resposta.

A empresa relata que a suposta omissão municipal configura violação contratual, afronta princípios constitucionais e caracteriza enriquecimento ilícito, já que o serviço teria sido prestado com tarifa insuficiente para cobrir os custos.

O que diz a Nova Via
A Nova Via e o advogado que a representa foram procurados pela reportagem, mas não responderam até o fechamento desta edição.

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