quarta-feira, 1 maio 2024

O primeiro Vestibular Indígena da Unicamp faz história

A Unicamp realizou ontem, o primeiro Vestibular Indígena da Universidade e fez história pelo ineditismo. Apesar disso, a taxa de abstenção foi de 41,96% e pode ser considerado alta. Dos 610 inscritos apenas 354 estudantes compareceram. Os principais problemas foram a confusão de fuso horário entre as cidades e distância para chegar aos locais de prova.

Segundo a Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp), muitos estudantes vieram de longe e demoraram dias para chegar e se confundiram com o fuso e quando chegaram oas locais de prova encontraram os portões fechados.

Em Manaus e São Gabriel da Cachoeira, a prova teve início às 11 horas; em Recife, às 12 horas e em Campinas e Dourados, às 13 horas.
Mesmo com esses problemas, José Alves Freitas Neto, coordenador executivo da Comvest, considerou a abstenção dentro dos parâmetros de outros processos seletivos para indígenas.

Freitas Neto, preferiu ressaltar a importância dessa experiência inédita da Unicamp em selecionar e acolher estudantes indígenas.

“O cenário politico brasileiro e internacional não é simples e diante desse cenário, uma universidade deve buscar respostas que não sejam triviais. O Vestibular Indígena representa isso”, comentou.

“Acolher e ter esses estudantes aqui é ampliar a interlocução da universidade pública e comprometida com o desenvolvimento da sociedade brasileira, como é a Unicamp”, acrescentou o coordenador.

SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA
Na cidade, considerada a mais indígena do Brasil e com o maior número de inscritos para o Vestibular Indígena, a movimentação foi grande.

 
Leonidia Gomes de Campos está entre os candidatos que prestaram o primeiro vestibular indígena da Unicamp

 
Muitos estudantes vieram de longe e demoraram dias para chegar. Jaqueline Lopes, da etnia Baniwa, viajou dois dias em canoa, pelo Rio Negro, até chegar a São Gabriel. Ela mora na comunidade Assunção e chegou à cidade na última sexta-feira.

Para Jaqueline, a vinda da Unicamp para aplicar a prova facilitou muito a vida dos estudantes. “Não teria condições de sair da região para fazer a prova em outro lugar, pois só para chegar da minha comunidade à São Gabriel já demora dois dias”, contou.

Jaqueline fez a prova para tentar uma vaga no curso de Enfermagem e estava acompanhada da prima Rayana Lopes, de 19 anos, que também concorre a uma vaga no em Enfermagem, o curso mais procurado neste Vestibular, com mais de 60 candidatos por vaga.

Ambas, que nunca saíram da cidade e nem conhecem a capital do Estado, Manaus, afirmam que a região necessita bastante de profissionais na área da saúde.

“Escolhi esse curso porque acho importante ajudar outras pessoas e aqui precisamos muito de médicos e enfermeiros”, disse Rayana.

Na cidade, a prova teve a coordenação do professor Kleber Pirota, coordenador de logística da Comvest. De acordo com ele, a presença dos candidatos foi muito boa.

“Foi um sucesso a aplicação do vestibular aqui. Apesar da dificuldade de muitos em chegar. Soubemos que vários deles fizeram uma viagem de muitos dias no Rio Negro, para chegar”, comentou.

PROVA
A prova foi em língua portuguesa e composta de 50 questões de múltipla escolha e uma Redação e durou cinco horas, transcorrendo normalmente nos cinco locais de aplicação, conforme informou a Comvest.

Na opinião do coordenador executivo da Comvest, a prova trouxe a realidade dos estudantes indígenas para as questões e para as propostas de Redação.

Em uma delas, os candidatos foram convidados a escrever sobre uma reportagem que abordava a perda da cultura indígena e o uso de tecnologias por indígenas. Muitas questões também aproximaram os conteúdos do ensino médio da realidade dos candidatos.

Freitas destacou o longo e cuidadoso processo para a elaboração dessa prova. “A prova foi pensada desde o início considerando que a Unicamp seleciona para cursos de graduação e considera a realidade educacional desse público”, disse.

Ao o final do exame, os candidatos elogiaram a prova. Joelma Solano Manoel, da etnia Baré, disse que a prova não estava difícil.

“Não encontrei muita dificuldade porque as questões falavam mais do povo indígena, de como a gente vive. As questões estavam, basicamente, baseadas no que nós vivemos, davam a entender o que passa pelo nosso cotidiano”, disse Joelma.

 
Estudantes depois da prova do primeiro Vestibular Indígena, comentam as questões

 
Para não serem desclassificados, os candidatos precisam acertar, no mínimo, 10 questões de múltipla escolha e obter, no mínimo, cinco pontos na prova de Redação (de um total de 25 pontos). O resultado será divulgado na página da Comvest no dia 29 de janeiro.

 
 

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