Quem passa pela região central de Americana nota que a paisagem está diferente. Não existe mais a imensa cobertura da plataforma de embarque, na estação ferroviária. O prédio histórico – inaugurado em 1912 – continua lá. Atravessou o século, é reconhecido como marco da história local. Mas a mudança no cenário é nítida. Uma situação que incomodou principalmente os americanenses da antiga.
Gente que se acostumou a viver em uma cidade que nunca teve lá muita tradição em preservar o patrimônio. Como o músico Juarez Godoy, por exemplo, que disparou nas redes sociais diversas imagens do trecho sem as velhas telhas metálicas. Para ele, a remoção das peça foi um golpe duro. A indignação do músico ganhou o respaldo de pessoas que compartilharam a postagem. E o assunto virou até tema debatido nesta semana, na reunião periódica dos técnicos do Condepham (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico de Americana), vinculado ao governo municipal.
O telhado foi retirado porque a estrutura começou a ruir, durante as primeiras intervenções de restauro executadas pela Rumo (empresa que explora o transporte de cargas na malha férrea e, graças ao contrato de concessão, é administradora do espaço). Procurada pela reportagem, a direção do Condepham afirmou que espera os laudos técnicos sobre o acidente, e adiantou que a sociedade será devidamente informada sobre que diretrizes serão tomadas.
O contrato firmado com a prefeitura para o restauro do espaço, no caso, prevê o respeito às características arquitetônicas originais. Segundo o que a reportagem apurou, os técnicos do órgão vão acompanhar a reconstrução, garantindo que não vai haver descaracterização.
Na quarta-feira foi informado ao público que todos que a concessionária concluiu os procedimentos burocráticos para executar o restauro completo, a partir de três propostas apresentadas de execução. A Rumo assumiu, ainda em março, os investimentos previstos de R$ 890 mil para as obras. A parceria firmada com a prefeitura é uma contrapartida pela exploração da malha.
PARCERIAS
O próprio prefeito Omar Najar (MDB) já se manifestou,publicamente, que pretende negociar com a concessionária até investimentos na execução de obras viárias sobre a linha (como viadutos).
ALÍVIO
Para o músico Juarez Godoy, as explicações do Condepham foram um alívio. Mas ele afirma que a comunidade vai ficar de olho. “Esperamos o restauro responsável, rigoroso, de um patrimônio que é um dos marcos fundamentais da história da cidade”, afirmou.
Prédio original foi fundado em 1875
A estação ferroviária foi inaugurada em 1875, com o objetivo de escoar a produção agrícola de Santa Bárbara d’Oeste, que ficava a oito quilômetros do imóvel. O projeto de expansão da linha férrea, no caso, optou por um traçado econômico na ligação Campinas-Limeira. Ao redor nasceu e cresceu a vila que se transformaria na cidade de Americana. Muitos imigrantes norte-americanos viviam em sítios da região. Eles modernizaram a produção agrícola local e inauguram os primeiros estabelecimentos industriais. O lugarejo virou distrito de paz em 1904 e se emancipou em 1924. O nome do município manteve a homenagem à colônia.