sábado, 23 novembro 2024

Operação tem 7 presos por corrupção em Campinas

O Secretário de Assuntos Jurídicos de Campinas, Silvio Bernardin, exonerado ontem, e o diretor presidente do Grupo RAC (Rede Anhanguera de Comunicação), que publica o jornal Correio Popular, Sylvino de Godoy Neto, foram presos ontem na terceira fase da Operação Ouro Verde, que investiga denúncias de desvios de verbas do Hospital Ouro Verde, em Campinas.

Além deles, foram presos também dois ex-diretores da Vitale, a OS (Organização Social) que administrava o hospital, e outras três pessoas, todas acusadas de envolvimento. Segundo a investigação, os valores desviados do Hospital Ouro Verde chegam a R$ 7 milhões.

A operação foi deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do MP (Ministério Público), com apoio do Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia) da PM (Polícia Militar).

Os agentes foram às ruas para cumprir oito mandados de prisão, além de 11 mandados de busca e apreensão. Os mandados foram cumpridos em Campinas, onde dois andares da prefeitura chegaram a ser interditados pelos agentes durante a manhã, além de endereços em São Paulo, Serra Negra e Jundiaí. No total, 78 policiais militares participaram da operação.

PRISÕES
Silvio Bernardin, ex-secretário de Assuntos Jurídicos, estava em Brasília durante o dia, quando a operação foi iniciada, mas acabou preso por volta das 16h, assim que desembarcou no Aeroporto Internacional de Viracopos.

Houve buscas também na Prefeitura de Campinas, na sala de Bernardin, onde foram apreendidos documentos e equipamentos eletrônicos. Ele foi exonerado do cargo pelo prefeito Jonas Donizette (PSB) ainda durante a manhã.

Já o empresário Sylvino de Godoy Neto – dono de um conglomerado de comunicação que inclui os jornais Correio Popular, Notícias Já, Gazeta de Piracicaba e o Instituto Datacorp de pesquisas – foi preso pela manhã em sua casa, em um condomínio de alto padrão, em Campinas.

De acordo com o major da PM Malco Basílio, a esposa do empresário atendeu a equipe e junto com o marido tomaram ciência da operação.

“Ele explicou que passou por uma cirurgia cardíaca na segunda-feira. Chamamos uma ambulância, a equipe fez exames e o levou para o hospital da PUCC para exames complementares. Foi chamado o médico da família, e um vizinho, que é médico também, acompanhou”, disse o major. Até o fechamento desta edição, o empresário permanecia internado.

Na casa dele foram apreendidos R$ 7 mil em dinheiro, 1.850 dólares e 525 euros, além de vários veículos.

Também foram presos ontem Thiago Sampaio de Oliveira Pena, diretor da Vitale; João Carlos da Silva Júnior, pessoa de confiança de Bernardin e que agiria como lobista; Danilo Silveira, dono do laboratório Silveira & Stacheti; Felipe Braz, dono da GreenLav Lavanderia Clínica e Hospitalar; e Alcir Pereira, diretor financeiro da Vitale.

O único mandado de prisão não cumprido ontem, até o fechamento desta reportagem, foi contra Gustavo Katthar de Godoy, filho do diretor presidente do Correio Popular, e que foi contratado pela Vitale para coordenar o Setor de Radiologia do Hospital Ouro Verde.

DESVIO DE DINHEIRO
De acordo com o promotor do Gaeco, Daniel Zulian, essa é a terceira fase da operação, que ainda está longe de acabar. De acordo com ele, está claro nas investigações que houve “um conluio para desviar dinheiro” do hospital.

“Posso assegurar que ao menos três fornecedores no contrato da Vitale só foram contratados por exigência da Administração Pública, através de Silvio Bernardin. A GK Radiologia, o laboratório e a lavanderia só foram contratados por exigência dele”, afirmou.

Ainda segundo o promotor, houve superfaturamento nos valores pagos pelos serviços desses três fornecedores, além de pagamento de vantagem indevida por parte de agentes públicos e diretores da Vitale à época.

“As investigações apontam que todas as pessoas que foram alvos dos mandados de prisão têm envolvimento no esquema. Somadas as três fases da operação, os desvios de dinheiro dos cofres públicos chegam a R$ 7 milhões”, explicou.

Segundo Zulian, a empresa de Gustavo foi contratada pela Vitale após suposta pressão de seu pai, Sylvino Godoy, como forma de garantir apoio do jornal à Administração. Tudo isso teria acontecido com a atuação ativa de Bernardin.

Gustavo Godoy teria sido beneficiado com o esquema de superfaturamento dos serviços. Segundo as investigações, ele cobrava R$ 65 por exame de ressonância magnética, mas o serviço era prestado por outra empresa ao custo de R$ 35.

Além disso, a prefeitura pagava R$ 25 por cada laudo de mamografia, que custaria originalmente R$ 13,50. O valor a mais era dividido entre Gustavo Godoy e os diretores da Vitale, segundo o MP.

PERSEGUIÇÃO
De acordo com o promotor, um dos fatores que levaram à prisão de Sylvino Godoy foram os grampos telefônicos que mostrariam uma suposta perseguição do empresário aos vereadores Pedro Tourinho (PT), Marcelo Silva e Nelson Santini Neto, o Tenente Santini, ambos do PSD.

O MP chamou os parlamentares para explicar o conteúdo dos áudios e liberou cópia a eles. O vereador Marcelo Silva afirmou que já protocolou na Câmara um pedido de abertura de uma Comissão Processante, que pode levar à cassação do mandato do prefeito Jonas Donizette.

“Foi preso o secretário de Assuntos Jurídicos. A investigação deixa claro que foi sempre a mando da Administração Pública, em nome da Administração Pública, isso para a OS ser aprovada no processo. O Silvio se reuniu com Gustavo um mês antes de a Vitale entrar. No mínimo uma conduta omissiva do prefeito. O que cabe a abertura da CP”, disse.

A abertura da CP deve ser colocada em votação na próxima sessão da Câmara. Para que seja instituída é preciso ao menos 17 votos. Se for aprovada, os membros são sorteados e o prazo inicial é de 90 dias.

DEFESAS NEGAM IRREGULARIDADES
Ralph Tórtima Filho, que defende Sylvino de Godoy e seu filho Gustavo, disse que o empresário passou por um procedimento cardíaco, para colocação de um stent (para abertura de artérias obstruídas) na última segunda e estava em recuperação. O advogado disse considerar a prisão “abusiva e autoritária”.

“Não sentiu-se bem e precisou ser encaminhado em regime de urgência e talvez tenha que passar por nova cirurgia. Tudo o que justifica a terceira fase (da operação) já estava dentro da primeira fase. Não há sequer um fato novo que justificasse um pedido de prisão temporária”, falou. Sobre Gustavo Godoy, ele afirmou que o cliente está fora da cidade e deve retornar hoje.

Fabrizio Rosa, advogado que defende Thiago Pena, disse que a prisão é ilegal e vai tomar as providências cabíveis para a liberdade do cliente o mais rápido.

A defesa de João Carlos da Silva Júnior foi procurada, mas a secretária disse que ele estava no Fórum e que ele retornaria o contato, mas isso não ocorreu.

O advogado de Danilo Silveira disse que não poderia falar e que retonaria o contato, mas não o fez. Diego Teixeira Ribeiro, que defende Felipe Braz, disse que ainda não há um posicionamento. “Neste momento não temos informação para passar”, afirmou.

A defesa de Alcir Fernandes Pereira não foi localizada.

Alexandre Cunha, advogado de Bernardin, disse que o cliente esteve sempre à disposição. “Ele vai continuar contribuindo com a Justiça e se concentrar na defesa. Não precisava pedir exoneração, mas pediu porque tem espírito cívico. A inocência dele é algo que não abrimos mão”.

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