quinta-feira, 25 abril 2024

Os prós e contras da suplementação

 Estudos mostram os efeitos sobre o metabolismo cerebral e sobre a produção de neurônios no hipocampo adulto

Suplementação alimentar tem efeitos sobre o metabolismo cerebral e sobre a produção de neurônios no hipocampo adulto (Foto: Divulgação)

Ah que coisa: os mesmos 16 bilhões de neurônios corticais que nos tornam seres flexíveis e capazes, cheios de recursos cognitivos e engenhosidade para enxergar problemas e inventar soluções, nos tornam bichos preguiçosos.

Por definição, as tecnologias que inventamos com tantos neurônios -os sistemas, objetos, processos, métodos que resolvem problemas mais rápido- nos deixam com tempo ocioso. E o que fazemos com tempo ocioso? Uns param para apreciar o dia; outros usam a oportunidade para encontrar ainda mais problemas para resolver; e outros… querem apelar para a tecnologia para poderem não fazer nada, inclusive não ter mais que lidar com os problemas causados pela sua inatividade. Para estes, ciência serve para criar pílulas que substituem os efeitos do exercício.

Eis duas notícias para os preguiçosos, então. Dois estudos, publicados um logo ao lado do outro na revista Cell Metabolism de março, mostram que a suplementação alimentar tem efeitos sobre o metabolismo cerebral e sobre a produção de neurônios no hipocampo adulto, dois tópicos de interesse especial para o envelhecimento saudável, que requer esforços.

O primeiro estudo, realizado por pesquisadores na Noruega, foi feito com pacientes com Parkinson, doença degenerativa causada pela perda de neurônios dopaminérgicos no mesencéfalo, possivelmente através de problemas com a respiração celular desses neurônios.

Como a respiração celular depende de pequenas moléculas chamadas dinucleotídeos de nicotinamida e adenina, ou NAD, os pesquisadores testaram suplementar a dieta dos pacientes durante um mês com uma molécula que o corpo transforma em NAD. O tratamento mudou a atividade cerebral e melhorou o desempenho motor dos pacientes.

DESCOBERTA
Nas páginas seguintes, o estudo feito por pesquisadores na Austrália, Alemanha e China descobriu que uma das proteínas produzidas por camundongos em resposta ao exercício físico na versão roedora da esteira, uma das maneiras comprovadas de aumentar a produção de neurônios novos no hipocampo e a saúde do cérebro em geral, é um transportador do elemento selênio, que compõe algumas enzimas do cérebro. De fato, o grupo descobriu que suplementar a alimentação dos animais com selênio imita os efeitos do exercício sobre a neurogênese no hipocampo adulto.

Como os níveis de tanto selênio quanto NAD declinam no cérebro com a idade, e a deficiência é exacerbada em doenças degenerativas como Parkinson e Alzheimer, suplementação alimentar nesses casos faz perfeito sentido. Mas não é panaceia universal, lamento. Primeiro, porque não é necessária em quem tem dieta variada: o outro nome do NAD é… vitamina B3, presente em carnes, e castanhas-do-pará são uma excelente fonte de selênio.

Segundo, porque a suplementação tem riscos: quem assistiu “House” sabe que o excesso de selênio no corpo é tão tóxico quanto radioatividade.

Mais importante, contudo, é que o cerne da saúde física e mental é a sensação de capacidade e controle, e para isso não há comprimidinho que dê jeito: a satisfação vem mesmo é com o resultado dos nossos esforços. 

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