A pandemia do novo coronavírus deixou evidente a falta de estrutura para aulas virtuais nas redes municipais e estadual em São Paulo, mesmo sendo este o Estado mais rico da Federação. E tornou desafiador o ensino a distância.
Desde a interrupção das aulas em 23 de março, milhares de estudantes e professores encontram dificuldades para usar as plataformas digitais.
Para se ter uma noção da problemática, basta citar o exemplo de Sumaré. O Conselho Municipal de Educação, em ata de reunião ordinária de 4 de junho, relatou a falta de acesso de alunos ao sistema de informática e as dificuldades dos professores em acessar a plataforma da rede municipal para postagens de atividades.
“Em algumas escolas, o acesso de alunos às atividades disponibilizadas no sistema chega à casa de 10%, o que é um dado preocupante”, cita trecho do relatório publicado.
O que o Conselho de Educação expôs em Sumaré é a realidade no Estado. Faltam computadores nos lares, há limitação de pacote de internet e muitos professores e pais de alunos não têm familiaridade com o uso da tecnologia para aprendizagem. Muitos professores estão usando seus próprios celulares para criar grupos de WhatsApp para dar aulas online.
“Os alunos da rede municipal de ensino têm apresentado dificuldades para acessar o conteúdo digital disponibilizado em plataforma própria para postagem de atividades pelos professores. No entanto, as unidades escolares têm se valido de várias estratégias para que estes alunos tenham acesso às atividades”, informou a prefeitura.
Entre as estratégias estão criação de grupos de WhatsApp, para estabelecer uma rotina de estudos, fornecimento de atividades impressas, ampliação de ferramentas de uma plataforma para gestão administrativa nas unidades escolares, para a gestão pedagógica. As escolas também disponibilizaram computadores e internet aos professores.
DIFICULDADES
Professora dos cursos de graduação e pós-graduação e pesquisadora na Unicamp, Maria Márcia Sigrist Malavasi disse que as dificuldades são imensas. “A pandemia chegou e trouxe grandes dificuldades para todos nós, para as famílias e os estudantes.”
Muitos alunos e professores não possuem internet de longo alcance. “É utopia acreditar que as crianças vão ter aulas virtuais”, disse a professora. Diante das dificuldades de acesso, os alunos não fazem a tarefa ou estão se evadindo da escola, porque não conseguem acompanhar as aulas, disse.
A pesquisadora considerou absurda a exigência de aulas, provas e testes online para crianças pequenas e até mesmo adolescentes em época de pandemia. “É quase uma irresponsabilidade fazer isso com pais e adolescentes”, opinou. Acredita que seria mais produtivo que os pais brincassem, pintassem e lessem livros para seus filhos pequenos, por exemplo, porque seria uma forma de transmitir conhecimento.
Assim como alunos têm dificuldade de acesso às tecnologias, os professores também não estão preparados para ensinar os alunos a distância, explicou Maria Márcia. Outro agravante, explica, é que os professores podem ficar abalados emocionalmente, porque têm dificuldades em preparar as aulas estando confinados em casa com seus filhos.
