Quando chegou a Cosmópolis para recomeçar a vida longe da família e da rotina que mantinha em São Paulo, Gabriel Mota, 31 anos, não imaginava que iniciaria também um capítulo decisivo de sua trajetória. Apaixonado por automobilismo desde a infância, ele conta que o fascínio pelas pistas sempre o acompanhou. “Desde que eu nasci, meu pai conta que quando começava Fórmula Indy eu parava tudo e ficava assistindo quietinho”, relembra. “Eu só dormia quando ele me dava uma volta de carro. Era algo que já estava comigo.”
Sem referências familiares no esporte, Gabriel encontrou no Kartódromo Internacional San Marino, em Paulínia, o espaço para tentar transformar a paixão em prática. Chegou ao local pela proximidade com Cosmópolis e com a vontade de experimentar. “Eu vim na cara e na coragem, não conhecia ninguém. Era só eu mesmo, tentando aprender”, conta.

A primeira oportunidade
A virada ocorreu em uma corrida casual, quando disputou posição com um piloto muito mais experiente. Após a prova, uma conversa indicou o caminho. “Ele me perguntou se eu participava de algum campeonato. Disse que não. Aí me passou o contato do Takuma, organizador da FKart. E foi aí que eu entrei no campeonato.”
O FKart San Marino Race é o principal torneio de kart rental do kartódromo, organizado pelo grupo Force Kart Racing. Com categorias por peso e experiência, reúne pilotos de diferentes cidades e funciona como porta de entrada para iniciantes — embora, na Beginner, onde Gabriel corre, muitos competidores tenham anos de prática.
Desafios que quase colocaram fim ao sonho
A primeira temporada serviu como aprendizado, mas também quase resultou na desistência. A mudança de pneu — agora mais duro e exigente — prejudicou sua adaptação. “O principal obstáculo foi a falta de experiência. Eu não tava conseguindo evoluir. No fim do ano passado eu pensei: ‘isso não é pra mim’. Eu ia desistir.”
Foi fora da pista que o incentivo decisivo surgiu. A empresa onde trabalha percebeu na dedicação ao esporte a mesma entrega que Gabriel demonstra no dia a dia. André Garcia, gestor e patrocinador, relata: “Ele saía daqui de ônibus, carregando peso na mochila porque precisava do lastro da categoria. Quando percebemos essa dedicação pensamos: por que não apoiar?”
O primeiro gesto foi um capacete entregue como presente pelos cinco anos de empresa. O impacto foi imediato. “Eu falei: agora animei de novo. Eu vou ter que honrar esse presente”, diz Gabriel. O apoio cresceu, virou patrocínio e possibilitou treinos extras — fundamentais para sua evolução.

A construção do título
Mais preparado, Gabriel voltou ao campeonato em 2025 com outra postura. Com calendário de fevereiro a novembro, o torneio exige regularidade. Ele venceu apenas uma etapa, mas acumulou pódios suficientes para seguir entre os melhores. Ao chegar à final, tinha 60 pontos de vantagem.
“Quando chegou na corrida decisiva, fui com calma. Larguei em quarto, cheguei em quarto. Teve um momento que quase toquei em outro piloto, mas falei: deixa eu ir com calma. E funcionou.” O título coroou um ciclo de amadurecimento no esporte e na vida.
Patrocínio que mudou trajetórias
O apoio interno não só viabilizou a participação, como reforçou a cultura da empresa. “O esporte que ele pratica tem tudo a ver com alta performance, foco e disciplina — exatamente o que buscamos aqui dentro”, afirma André. “O Gabriel virou inspiração interna antes mesmo de virar campeão.”
O patrocínio foi renovado para 2026, e a empresa agora busca parceiros para que ele avance para a próxima categoria, mais competitiva e com maior demanda técnica. “É só o começo de um sonho. Queremos levar o Gabriel mais longe e apoiar outros talentos no futuro.”

“Nunca é tarde para começar”
Competindo desde os 29 anos, Gabriel acredita que a idade não deve ser vista como barreira. “Tem gente que corre aqui com 40, 50 anos. Quando vemos um ídolo começando aos cinco anos, parece que temos que seguir a mesma vida. Não precisa. Não existe um caminho só. Começa do jeito que der. O resultado vem.”
Entre mudança de cidade, solidão longe da família, dificuldades de adaptação e uma rotina intensa de treinos e trabalho, Gabriel transformou incerteza em coragem. Agora, segue para 2026 com uma meta clara: subir de categoria e continuar acelerando o próprio destino.





