Político experiente, o ex-deputado federal e estadual Chico Sardelli (PV) entra firme na briga pela conquista da Prefeitura de Americana. Ele defende parcerias junto à União e ao Estado para executar obras estruturais e garantir a prestação de serviços públicos humanizados e eficientes.
Recuperação da qualidade da água da Represa de Salto Grande e a construção de parque linear ao longo da Gruta Dainese estão entre os seus planos. Ele fala em resgatar, entre os cidadãos, o orgulho de ser americanense. Confira os principais trechos da entrevista à reportagem.
TODODIA – A nossa série de reportagens tem o objetivo de mostrar ao leitor a história de vida e os projetos políticos dos pré-candidatos. Apesar da carreira extensa, talvez o Chico Sardelli ainda seja desconhecido de eleitores da nova geração. O senhor fica à vontade para se apresentar.
Chico Sardelli – Nasci em Americana no dia 26 de junho de 1956. Sou filho de Vincenzo Sardelli e de Tereza Pulcini Sardelli, que já se conheciam na Itália. Meu pai veio para cá solteiro à procura de uma vida melhor. Conseguiu um emprego e, por meio de uma carta, pediu minha mãe em casamento. Só que o pai de Tereza, Domenico, determinou que filha só saía da casa dele depois de casada. Foi o que aconteceu. Meus pais se casaram por procuração. Teve uma festa no sítio na Itália onde minha mãe morava. No mesmo dia, meu pai fez a festa aqui com os italianos que viviam em Americana. Depois de 30 dias, ela embarcou no navio e, quando chegou ao Brasil, fizeram outra festa. Aqui eles tiveram a mim, Francisco Antonio, Maria Giovana e Tomazo Aparecido. Cresci dentro de uma estrutura familiar de gente que lutava por uma vida digna. Meu pai trabalhava em serviço pesado, braçal mesmo. De dia, dentro da tecelagem. De noite, era guarda noturno. Nos finais de semana, fazia bico de taxista. Eu nasci e cresci na Rua Professor Francisco de Castro, no bairro Cordenounsi, de onde só saí depois de casado.
E quando o Chico começou a trabalhar? Quantos anos tinha? O que fazia? Por quais empregos passou? Quando abriu seu negócio próprio?
Meu primeiro trabalho foi com 8 anos, virando enchimento de sutiã na confecção dos meus pais, aqui em Americana. Perdi meu pai cedo, em 1973. Ele tinha só 44 anos. Eu tinha de 16 para 17 anos, era o mais velho dos filhos. Minha irmã tinha 15 anos e meu irmão, 9. Minha mãe já era viúva aos 36. Foi uma época muito difícil da nossa vida. Minha mãe foi empregada doméstica e costureira. E costurando ela abriu com meu pai nossa pequena empresa, que mais tarde virou a Confecções Sardelli. Eu assumi a empresa e depois de alguns anos investi na produção industrial. De roupas íntimas para mulheres, ela virou uma malharia. Fomos especializados em camisetas promocionais, chegando a ter aproximadamente 200 funcionárias. Depois veio a época do Colllor, em 92, com a abertura desenfreada da economia para a importação de produtos estrangeiros. Aí veio a ideia de um projeto para a cidade enfrentar a crise. Pensamos em um shopping das fábricas. Nós socializamos em um terreno de 10 mil metros quadrados como um espaço de venda direta do produtor. Americana sempre foi a Princesa Tecelã, a capital do tecido plano, do tecido sintético, e nós começamos a sofrer muito com a influência de produtos asiáticos aqui. Foi em função dessa uma dificuldade que planejamos e inauguramos em 93 o Americana Via Direta.
Além de assumir a empresa da família, o Chico também estudou.
Fiz a pré-escola na Cordenounsi, estudei em escolas tradicionais: Silvino José de Oliveira, Heitor Penteado, Kennedy, João XXIII, o próprio Instituto Salesiano Dom Bosco Depois do falecimento do meu pai, fiz o Tiro de Guerra. Aquela foi uma etapa dura, mas muito importante para a minha vida. Estudar sempre foi uma cobrança muito forte dos meus pais. Com muito esforço, me formei em administração de empresas pelo Instituto de Ciências Sociais de Americana em 79. Tinha vontade e tentei fazer Direito da Unimep em 81, mas não consegui. Trabalhava de 5h às 18h, chegava correndo na faculdade, na segunda aula dormia. Não dava. A situação foi melhorando e segui estudando, sempre focado em gestão. Entre 1983 e 1984, cursei Custos e Produção e Administração na Unicamp, depois Administração Financeira em Roma, e em 1985, fiz um curso de Produção e Comercialização em Los Angeles, nos Estados Unidos.
E qual foi sua motivação para a carreira política? Fale de sua trajetória no poder público.
Meu pai foi minha inspiração. Quando vinha um circo para Americana, qual criança que não tem vontade de ir ao circo? Só que ele não tinha dinheiro para comprar os ingressos para os três filhos. Ele ia ao circo, ajudava a carregar e descarregar caminhão. E assim conseguia os ingressos para a família. Meu pai sempre esteve pronto, não tinha tempo ruim, e são coisas assim que nos motivam a buscar sempre nossos ideais. Meu ideal de vida: tudo é possível desde que a gente tenha força de vontade de arregaçar as mangas e vencer as dificuldades. Pelo exemplo dele, aprendi o valor da luta, a acreditar sempre nos seus ideais, a buscar com insistência seus objetivos. Então, em 89, me tornei por aclamação presidente do Rio Branco. Fizemos nosso planejamento e tivemos o tão sonhado acesso do time à primeira divisão em 1990. Essa foi a primeira projeção pública que tive a nível local. Em 91 deixei o Rio Branco, convidado para ser diretor da Federação Paulista de Futebol. Em 92, veio o primeiro convite a disputar a eleição ao cargo majoritário de Americana com o ex-prefeito Abdo Najar, pai do atual prefeito Omar Najar. Em 98, o grande desafio. Fui convidado a ser candidato a deputado federal. Mas eu não tinha sido nem vereador. Os apoiadores insistiram, acabei sendo candidato, tive 81 mil votos e assumi o mandato por três anos. Nesse meio tempo, tive uma candidatura de prefeito em 2000 e fiquei em segundo lugar. Em 2002, fui candidato à reeleição como deputado federal, tive 102 mil votos e assumi com a morte do deputado federal Paulo Kobayashi. Em 2004, fui outra vez candidato a prefeito de Americana. Já me sentia um cidadão preparado. Passei um mês conhecendo projetos importantes de Curitiba para implantar aqui, por exemplo, buscando iniciativas que que poderiam ser úteis em Americana. Em 2006, fui candidato a deputado estadual pelo PV e fui eleito. Em 2008, me lancei candidato a prefeito também em uma conjunção de um grupo. Em 2010, fui candidato a estadual e novamente eleito. Em 2014 candidato reeleito e em 2018, por dois mil votos, não consegui um novo mandato na Assembleia Legislativa.
Como a vida do Chico Sardelli está estruturada hoje, tanto pessoalmente como politicamente?
Sou casado com Lionela Ravera Sardelli e nosso filho Franco foi nossa maior felicidade. Já nasceu nosso neto Frederico. Sempre gostei muito de conversar: vou ao Mercadão, falo com as pessoas. Quase todos os finais de semanas estou junto com a família: com meus irmãos, meu filho, minha nora Laura e o meu neto Fred. Agora, com a pandemia, estas atividades com as pessoas estão um pouco mais comprometidas, mas continuo gostando de frequentar a padaria do bairro, a banca de jornal, prazeres simples de quem nasceu e mora no interior. E a vida pública segue porque é um sacerdócio. Você se doa, dedica a maior parte do tempo a ela.
De detalhes do projeto para Americana. No que a cidade precisa melhorar? Qual seu principal objetivo como prefeito?
O americanense precisa voltar a ter orgulho de Americana. Meu principal objetivo é resgatar a autoestima do pai de família que, na UBS do bairro, encontre os serviços funcionando. Da mãe que leva o filho para a escola sabendo que ele terá professores motivados. Do trabalhador que, no Centro, possa encontrar um espaço confortável e acolhedor para fazer suas compras. Em geral, Americana tem uma infraestrutura muito boa na questão das escolas, dos postos médicos, da segurança pública. A saúde financeira da cidade está em dia e agora devemos avançar. Essa não será uma tarefa fácil de ser colocada em prática no ano seguinte a uma pandemia mundial responsável pelo achatamento das riquezas de diversas nações. Precisaremos de experiência política e de parcerias junto ao governo estadual e federal para que as ações saiam do papel e se tornem realidade. Chegou a hora da administração municipal entregar serviços humanizados e de qualidade no atendimento às demandas do cidadão.
O senhor falou de “projeto verde” para a cidade. Pode nos dar detalhes?
Nosso projeto verde para Americana inclui dois pontos que considero essenciais. A recuperação da qualidade da água da Represa de Salto Grande água será possível com a criação de consórcio de municípios para que o tratamento de esgoto seja ampliado até o nível terciário, capaz de retirar os nutrientes que servem de alimento para as macrófitas. E o outro grande projeto é a construção do maior parque linear da região ao longo da Gruta Dainese. Vamos acabar com a emissão clandestina de esgoto na gleba e fazer dela um importante polo de turismo e lazer.
O senhor fala em parceria com o Estado e a União. E já foi deputado federal e estadual. Que setores o senhor conseguiu favorecer aqui na cidade, por meio de suas emendas e projetos?
Acredito que o social foi a área para a qual destinei mais recursos durante minha vida pública. Foram R$ 2 milhões para entidades assistenciais. Como deputado estadual, também tive a oportunidade de ajudar a infraestrutura urbana, trazendo recursos para recapeamento, sinalização e obras viárias. Na área da saúde, conquistei com meu trabalho o primeiro tomógrafo da cidade. Além disso, intermediei a vinda de R$ 2,6 milhões para as obras do novo pronto-socorro do Hospital Municipal. E ajudei na ampliação do número de leitos para UTI em toda a região. São muitas emendas. Consegui verbas para reforma do Mercadão e para adequações no aeroporto. Na educação, trouxemos para cidades da região unidades da Univesp, a universidade virtual paulista. Atuei junto ao governo estadual e consegui investimentos para programas habitacionais populares. Enfim, é uma vida de trabalho por Americana. E não fiz mais do que minha obrigação. Aqui tive meus votos, fui eleito. Aqui nasci, cresci e constituí minha família. Esta cidade é a minha vida.