Pela primeira vez em quase quatro décadas, a população de idosos acima de 60 anos em Americana ultrapassou o número de crianças e adolescentes de até 15 anos. É o que apontam dados da Fundação Seade (Serviço Estadual de Análise de Dados e Estatísticas). O índice de “envelhecimento da população”, calculado pelo órgão estadual, atingiu 101% em 2019 – o que equivale a dizer que, para cada 100 crianças e adolescentes de até 15 anos, há 101 pessoas na melhor idade. Em números absolutos, isso significa dizer que são 38.122 jovens americanenses, contra 38.625 acima dos 60 anos.
Em 1980, quando teve início a série histórica da Fundação Seade, esse índice era de apenas 19,8%. O indicador é calculado com base na estimativa de pessoas com mais de 60 anos, dividida por grupos de 100 jovens com idade entre zero e 14 anos e 11 meses. Na RMC (Região Metropolitana de Campinas) como um todo, essa taxa ficou em 79,9% em 2019, bem próxima do índice estadual, que foi de 78,1%.
O indicador em Americana é o maior entre os principais municípios da região. Santa Bárbara d’Oeste (93,7%) e Nova Odessa (83,8%) são as mais próximas, enquanto Hortolândia (56,55%) e Sumaré (59,6%) as mais distantes. A proporção maior de idosos do que jovens, no Estado de São Paulo, é mais comum em pequenos municípios do interior. Na capital, por exemplo, os pesquisadores do Seade só estimam uma situação semelhante à de Americana a partir de 2027.
FATORES
Para a pesquisadora Tirza Aidar, do Nepo (Núcleo de Estudos de População) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), são dois os principais fatores que impactam no envelhecimento da população: O principal é a rápida queda da fecundidade (número médio de filhos por mulher até o final de sua vida reprodutiva), que o Brasil experimenta nas últimas 6 ou 7 décadas, desde meados dos anos 1960. O segundo é a diminuição mais lenta, porém constante e consistente, da mortalidade precoce. “Diante dos avanços na área da saúde, tais como a prevenção e menor letalidade de doenças infectocontagiosas, crônicas e degenerativas, as gerações que ainda nasciam em grande número nas décadas de 1950 e de 1960, têm maior sobrevida que seus pais e avós, alcançando hoje idades avançadas.
Certamente no município de Americana deve ter experimentado maior queda da fecundidade que os demais da região”, analisa. Segundo Tirza, esse envelhecimento traz desafios para famílias e gestão pública. “Embora a população com 60 anos ou mais esteja cada vez mais ativa e independente, à medida que esse grupo cresce em número e em sobrevida às idades mais avançadas, acima de 80 e 90 anos, os desafios são enormes”, conclui.
WALTER DUARTE