Um dos debates da 1ª Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial, realizada nesta terça-feira (29) foi a exclusão da contribuição negra na narrativa oficial dos 150 anos da cidade, divulgada pela Prefeitura de Americana. Durante o evento, representantes da comunidade denunciaram a omissão da participação negra na formação de Americana.
Roberto Mendes dos Santos, Presidente do Conselho Municipal da Promoção da Igualdade Racial, destacou que há provas históricas da presença negra desde os primeiros momentos da cidade. Para ele, o apagamento é reflexo de uma “historiografia oficial que invisibiliza quem construiu e desenvolveu Americana”.

A secretária de Assistência Social e Direitos Humanos, Juliani Hellen Munhoz Fernandes, reconheceu o erro e afirmou que uma historiadora chegou a enviar uma carta relatando a participação negra em Americana. O conteúdo, segundo ela, foi posteriormente incluído.
No entanto, a TV TODODIA acessou o site da Prefeitura de Americana e não encontrou o trecho complementar. Na seção “História de Orgulho”, seguem destacadas apenas as origens dos imigrantes norte-americanos, italianos e alemães.

“Os primeiros que chegaram aqui foram os escravizados. Os fundadores só vieram depois que os negros plantaram, construíram. Não existiria essa cidade se não fosse pelos escravizados.” afirmou Benedito Samuel Barbosa, conhecido como Seu Dito Preto, ativista e referência nos movimentos negros da região.
1ª Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial
O evento teve como objetivo reunir lideranças do movimento negro e a população civil de Americana para discutir e projetar políticas públicas voltadas à promoção da equidade racial no município.
Estiveram presentes apenas a vereadora professora Juliana (PT) e o vereador Renan de Angelo (PODE), além da secretária de Assistência Social e Direitos Humanos, Juliani Hellen Munhoz Fernandes.
O prefeito Chico Sardelli e o vice-prefeito não compareceram ao evento, enviando apenas um vídeo institucional, que foi transmitido ao público durante a abertura.

A conferência foi realizada em parceria com o Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPIR) e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV).
Norteada pelos eixos Democracia, Reparação e Justiça Social, a conferência discutiu temas como a ausência do povo negro na historiografia oficial de Americana, a necessidade de políticas públicas efetivas e o combate ao racismo estrutural, inclusive nas escolas e nas religiões de matriz africana.
Participação popular e reivindicações
A conferência também se consolidou como espaço de escuta e proposição. Para o presidente do Conselho Municipal da Promoção da Igualdade Racial, é essencial que as propostas discutidas sejam transformadas em políticas públicas reais, que alcancem a população negra das periferias, muitas vezes esquecida.
Já Marcelo Rezende, coordenador de Igualdade Racial de Campinas, destacou a importância do modelo descentralizado, com pré-conferências nos territórios, que facilitaram o acesso da população e ampliaram a mobilização em torno das pautas.

Além da questão histórica, temas como racismo religioso e discriminação nas escolas também ganharam destaque. A secretária estadual da Unegro, Cristiane da Silva Souza, lamentou os casos de racismo envolvendo crianças em Americana, “Isso é pra ontem. Precisamos de projetos urgentes para combater essa violência.”
A UNEGRO atua na cidade há mais de uma década e é responsável pela Ameriafro, feira cultural que valoriza a literatura, a culinária e as tradições negras e já está em sua quinta edição.
“A gente não quer reparação em dinheiro. A gente quer visibilidade, sair da invisibilidade. Queremos apenas igualdade de direitos.” comentou Seu Dito Preto.