terça-feira, 23 abril 2024

Região no divã: busca por apoio psicológico cresce com pandemia

Uma pesquisa da Associação Brasileira de Psiquiatria mostrou um aumento, entre março e novembro de 2020, de até 25% nos atendimentos psiquiátricos e de 82,9% no agravamento dos sintomas de seus pacientes
 

CVV | Serviço gratuito oferece apoio emocional e prevenção ao suicídio pelo fone 188 (Foto: Divulgação)

O impacto psicológico e emocional da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) tem feito a procura por atendimentos psicológicos crescer em todo o país. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Psiquiatria mostrou um aumento, entre março e novembro de 2020, de até 25% nos atendimentos psiquiátricos e de 82,9% no agravamento dos sintomas de seus pacientes.

No ano passado, segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, houve 576,6 mil concessões de auxílio-doença e aposentadorias por invalidez devido a transtornos mentais e comportamentais, número 26% maior que o registrado em 2019 e os mais altos da série histórica, iniciada em 2006.

De acordo com a psicóloga Regina Bueno, de Santa Bárbara d’Oeste, com a chegada da pandemia, o número de pessoas que procuraram por atendimento aumentou significativamente em seu consultório.

E a tendência, segundo ela, é esse aumento permanecer. “Com o prolongamento e agravamento da situação no nosso país, acredito que a demanda vai continuar em alta nos próximos anos”, afirmou.

Além do aumento da frequência e da quantidade de atendimentos, a profissional também apontou uma piora no quadro geral de seus pacientes. “Os que apresentavam adoecimento mental antes da pandemia ficaram ainda mais vulneráveis”, disse.

TRANSTORNOS

Segundo ela, os transtornos mais comuns são a somatização, episódios de pânico, depressivos e de ansiedade. “Pude observar um grande aumento no atendimento a integrantes enlutados da família, que necessitam de um suporte emocional para lidar com a dor da perda. A falta de vacina e tratamento eficaz para o Covid-19 foram os maiores gatilhos para os transtornos acima citados”, lamentou.

“Estamos vivendo em um sofrimento coletivo. A ausência da vida escolar pelos alunos, a impossibilidade de estarmos juntos da família e amigos, o trabalho que acabou por invadir nossas casas, tudo isso piorou as relações e intensificou problemas preexistentes, como vemos no aumento de casos de violência doméstica”, concluiu.

A psicóloga Jady Cristina Ferreira, de Americana, também relatou que seus pacientes têm apresentado mais sentimentos negativos do que no período anterior à pandemia.

“O medo parece mais constante e todos os sentimentos mais aflorados. O número de procura para apoio psicológico tem aumentado muito e tende a aumentar ainda mais. A pandemia está sendo um grande desafio”, contou.

A profissional também chegou a trabalhar, há três anos, no projeto Napse (Núcleo de Atendimento Psicológico em Situações Extremas), que acontecia às terças-feiras na Rodoviária de Americana e possibilitava atendimento para situações de crise psicológica, mas o projeto foi descontinuado por conta da pandemia e por “dificuldades particulares”, afirmou.

Para lidar com as frustrações, ambas as psicólogas são enfáticas em dizer que a procura por ajuda profissional é essencial para um tratamento bem-sucedido.

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