Com previsão de chuvas bem abaixo da média histórica nos próximos três meses, o Consórcio PCJ (Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí) já se prepara para enfrentar uma crise hídrica tão severa como a ocorrida entre 2013 e 2015, considerada a pior em um século, quando municípios realizaram rodízio no abastecimento.
O consumo de água também aumentou 20% por causa da pandemia e das altas temperaturas nos dois últimos meses, o que agravou ainda mais a situação.
Americana e Sumaré são duas cidades dependente da quantidade e da qualidade da água dos rios do sistema Cantareira (sistema de represas que abastece a Capital paulista e a região), pois captam água para abastecimento desses mananciais. Mas uma seca severa acaba impactando outros municípios abastecidos por represas, como Nova Odessa e Santa Bárbara, que estão em situação mais confortável.
A situação se agravou a tal ponto que Artur Nogueira já decretou rodízio no abastecimento na sexta-feira.
Dados do Comitê PCJ apontam que a estiagem 2020 tem ocorrido com bastante severidade. Em setembro deste ano, por exemplo, a entrada da água nos reservatórios do Sistema Cantareira foi menor em relação a setembro de 2014. Em 28 de outubro deste ano, o Cantareira estava com 35% acima da cota útil. No mesmo período, em 2014, o sistema estava 16% abaixo da cota útil, com o uso da reserva técnica.
Os efeitos no abastecimento foram potencializados pelo aumento de cerca de 10% no consumo devido a pandemia e mais cerca de 10% devido às constantes altas temperaturas, informou o comitê.
A Câmara Técnica de Monitoramento Hidrológico do Comitê já havia aumentado a vazão do Sistema Cantareira de 12 para 13 metros cúbicos para a região da bacia, com envio de mais água para os rios da região. Isso aliviou, mas não resolveu a situação, porque o abastecimento também depende não apenas da qualidade e quantidade da água nos rios, mas do sistema de abastecimento, formado por captação, distribuição e reservação de água nos municípios.
Para o secretário executivo do Consórcio PCJ, Francisco Carlos Lahóz, a situação deste ano está muito próxima da ocorrida durante a crise hídrica de cinco, seis anos atrás, quando a região também enfrentou uma estiagem bastante acentuada.
O volume de chuvas ficou 25% abaixo da série histórica em outubro, o maior percentual dos últimos três anos – em 2019 o volume ficou 12% abaixo do esperado e, em 2018, 20%.
“Em 2014, o Sistema Cantareira chegou ao volume morto. Em 2020, chegamos agora nesse período de outubro para novembro com o Cantareira na casa dos 35%. Isso tem permitido que os 10 metros cúbicos sejam enviados, que conseguiu manter as vazões nas captações nesses 22 municípios servidos pelo sistema Cantareira. O que nos surpreendeu é que esperávamos chuvas mais significativas em outubro e elas aconteceram na ordem de 65% menor que o esperado”, contou Lahóz.
Diante do cenário preocupante, o consórcio fez um alerta aos municípios para sensibilizar a população sobre o período de estiagem prolongada, para que ela se restrinja ao consumo suficiente de água. A torcida, confessa Lahóz, é que essa chuvas que começaram a cair sobre a região quinta-feira (30) sejam suficientes para equilibrar o clima e garantir o abastecimento.
“Se essa estiagem se prolongar, o próprio Cantareira poderá apresentar alguns problemas e dificuldades para continuar mantendo as vazões para as bacias PCJ”, alertou Lahóz.
O coordenador da Câmara Técnica de Monitoramento Hidrológico dos Comitês PCJ e coordenador regional de Meio Ambiente na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Alexandre Vilella, fez uma série de considerações. Americana, Sumaré e Hortolândia são as três cidades da região abastecidas pelo Cantareira, que dependem que os rios e seus afluentes tenham água em quantidade e qualidade.
Americana é uma das cidades com problemas de abastecimento. A cidade capta água no Rio Piracicaba. Segundo Vilella, Americana tem problemas principalmente por causa do sistema, decorrente de perdas grandes, rede antiga, mas investiu em reservatório, novo captação e barragem de nível, para aumentar o volume de água perto da captação.
“A situação de Americana é daqueles municípios que dependem essencialmente do rio, que tem mantido vazões em condições para abastecer a cidade, mas há essas carências de infraestrutura”, explicou Vilella.
Sumaré capta água no Rio Atibaia e depende das descargas de água do Sistema Cantareira. A cidade enfrenta problemas de qualidade de água no manancial, porque está no final da foz do rio, mas também tem feito investimentos. As dificuldades são as quedas das vazões, o que reduz a qualidade da água, o que dificulta o tratamento.
A cidade também tem problemas pontuais de abastecimento, como Americana. Hortolândia tem sua captação no Rio Jaguari, em Paulínia, e também é dependente da água do Sistema Cantareira.
Nova Odessa adotou um modelo de abastecimento que utiliza represas municipais e tem vantagem de ficar menos suscetível a oscilações de qualidade e lançamentos de esgotos sem tratamento nas cidades a montante, explicou Vilella.
De todas estas cinco cidades, Santa Bárbara é aquela que tem a situação mais confortável, porque capta água de represas e não depende de calha de rio e fica mais tranquila para superação estiagem.
“Reservatórios municipais são uma boa saída, mas é fundamental que tenha um controle de ocupação, de assoreamento dessa represa, de proteção desses mananciais. Então, Nova Odessa tem um pouco essa independência”, explicou Vilela.