Conheça o drama vivido por Dona Marli Fabiano, de 70 anos, que está internada há dois meses no Hospital Municipal “Dr. Waldemar Tebaldi” de Americana, com graves feridas pelo corpo e uma escara sacral, que cabe um punho, em estado de necrose no final da coluna.
Marli foi hospitalizada no dia 13 de julho deste ano com o quadro de infecção urinária. O filho, Rafael Luis da Costa, de 37 anos, denuncia que as feridas foram ocasionadas e agravadas dentro da unidade hospitalar. “É a minha mãe que está numa cama ‘apodrecendo viva’ por falta de um cuidado necessário que qualquer cidadão tem de ter. Até quando isso?”, desabafa e questiona. Segundo ele, há “falta de materiais necessários para o curativo” como “gase, ataduras, pomada (hidrogel) e lençóis de cama”.
Rafael registou um boletim de ocorrência relatando falha no atendimento. “Mesmo a minha mãe em estado de fezes, o lençol chega a demorar mais de quatro horas pra ser trocado, segundo a liberação do material pela lavanderia”, denuncia. Dentro do hospital, Dona Marli teve de amputar um dedo do pé e perdeu os tendões de um dos pés “por erro de curativos”, diz Rafael.
“Os tendões estavam expostos e uma enfermeira-chefe do centro cirúrgico, que fez a debridação (procedimento para a retirada do tecido necrosado) do pé da minha mãe, quando foi fazer a segunda, relatou: ‘está errado, não era pra eu voltar aqui e fazer novamente porque não estão fazendo corretamente como eu deixei designado o curativo. Pelo uso incorreto do hidrogel mataram o tendão da sua mãe e ela nunca mais vai ter os movimentos dos dedos do pé’”, relata.
Uma das enfermeiras, quando questionada no dia 29 de julho sobre o segundo curativo do dia que estava prescrito, teria dito “não é um curativo a mais do dia que vai resolver um corpo apodrecendo”. Com o nome e sobrenome da funcionária, Rafael abriu uma queixa interna, mas disse que não lhe passaram o número do protocolo.
Ele ainda comenta que, a mãe chegou a ficar 29 horas e 20 minutos sem trocar os curativos. Outra questão levantada é que a idosa ficou quase 24 horas deitada em cima de um colchão inflável murcho. “O hospital providenciou e não encheu. Quando encheu, foi uma das assistente de ala. Ameaçaram de mandá-la embora porque não podia se aproximar da paciente. A única pessoa que teve humanidade de encher”.
ALTA MÉDICA
O filho diz que está desesperado. De acordo com ele, a administração do HM junto com a Unidade de Atendimento Domiciliar (UAD) do município querem dar alta médica.
“Eles querem liberá-la a todo custo pela UAD o quanto antes. Tive de levar gaze, faixa e pomada hidrogel de casa, pois não tinha. A UAD veio aqui (no hospital) hoje (quarta-feira). Eles querem e vão dar alta mesmo se tiverem de entrar na Justiça. Agora me diz: tem condições? Isto é condição de alta?”, questiona.
Atualmente, o HM é gerido pela Santa Casa de Misericórdia de Chavantes, através de gestão compartilhada com a Prefeitura de Americana. A UAD é formada por equipes médicas que realizam atendimento aos pacientes acamados. Porém, Rafael comenta que não tem a estrutura necessária, nem os equipamentos médicos em casa para cuidar da mãe.
MINISTÉRIO PÚBLICO
Rafael disse que vai procurar o Ministério Público do Idoso na tarde desta quinta-feira (13). Ele ligou na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Americana e foi encaminhado para atendimento entre às 13h30 e 17h com o promotor de Justiça Clóvis Cardoso de Siqueira.
O OUTRO LADO
A Santa Casa de Misericórdia de Chavantes (SCMC), instituição responsável pela administração do Hospital Municipal “Dr. Waldemar Tebaldi”, por meio de gestão compartilhada com a Prefeitura de Americana (SP), informa que:
A paciente Marli Fabiano, 70 anos, deu entrada no pronto atendimento do Hospital Municipal de Americana no dia 13/07/2023, por hipoglicemia e Infecção do Trato Urinário (ITU). A paciente ingressou no HM com o diagnóstico prévio de síndrome de Raynaud, doença que já havia provocado lesões ulceradas em extremidades e amputações.
Associado a este quadro, a paciente tem diabetes tipo II e anemia hipocrômica e microcítica. E durante a internação, um exame laboratorial detectou a existência de talassemia. Diante desse quadro, foi internada para tratamento da ITU com antibióticos.
Uma avaliação, realizada pela equipe de cirurgia vascular, apontou que a paciente apresentava necrose seca do segundo pododáctilo (dedo do pé) direito, com a necessidade de desbridamento (remoção do tecido necrosado), e escaras por pressão.
A paciente seguiu sob os cuidados da clínica médica e apresentou outras avaliações da cirurgia vascular com lesão de ambos os pés e mão direita (indicador), com orientação de curativo e desbridamentos conforme necessidade. Foram realizados curativos durante toda a internação, com solicitação de avaliação de estomaterapeuta e melhora das lesões ulcerosas.
Após a melhora clínica, e depois de inúmeras reuniões de esclarecimento, a equipe multidisciplinar sugeriu aos familiares a opção pelo encaminhamento via Unidade de Atendimento Domiciliar (UAD). Naquele momento, a maioria dos responsáveis pela paciente (exceto um filho), estava de acordo com a conduta médica.
A SCMC ressalta que, neste e em outros casos similares, sempre busca os melhores desfechos clínicos considerando o bem-estar geral do paciente.
Segue também as informações da coordenadora da Unidade de Atendimento Domiciliar (UAD), Silvana Alves Teixeira:
A UAD recebeu a solicitação, proveniente do serviço social do Hospital Municipal, para avaliação da Sra. Marli Fabiano, 70 anos, internada desde o dia 13/07/2023. A equipe foi recebida, no HM, pelo filho da paciente, que no momento estava a acompanhando.
A paciente encontra-se consciente, orientada, contactuante, fazendo uso de sonda naso-enteral e sonda vesical de demora que, segundo a médica responsável, estes dispositivos serão retirados, portanto, os cuidados necessários a esta paciente se resumem à higiene pessoal e realização de curativos nas lesões. Esse trabalho de orientação e acompanhamento de cuidadores, do paciente e de lesões é um dos principais trabalhos realizados pela UAD, portanto, a referida paciente se enquadra no plano de trabalho desenvolvido pela unidade.
No momento do diálogo e orientação com o filho, ele relatou à equipe da UAD problemas sociais, como o retorno dele ao trabalho, a falta de cuidadores e, até mesmo, a insegurança em relação à falta de recursos para o cuidado necessário com a mãe. Ele foi orientado a respeito dos materiais que serão disponibilizados pela unidade para a realização dos curativos e também que existiam outras unidades, como o CRAS que poderia também auxiliar em todo o processo.