
Mais de 700 mil pessoas morrem por ano devido ao suicídio, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o que representa uma a cada 100 mortes registradas no planeta. No Brasil, são mais de 15 mil casos anuais, uma média de 42 suicídios por dia. Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio é a quarta causa de morte mais comum, atrás de acidentes de trânsito, tuberculose e violência interpessoal.
Prevenção
O suicídio, entretanto, pode ser prevenido em boa parte dos casos. Estudar e discutir o tema é essencial, pois a prevenção só é possível quando a população, profissionais de saúde, jornalistas e governantes têm informações adequadas para agir.
Sinais de alerta nos jovens
A psicóloga Aline Fávaro alerta que mudanças de comportamento e sinais emocionais podem indicar risco. Ela explica que ficar isolado, perder interesse em atividades antes prazerosas, alterações de humor e comportamentos autodestrutivos são sinais que devem chamar atenção. “É essencial que familiares e amigos percebam essas mudanças e conversem com a pessoa de forma acolhedora”.
A faixa etária entre 15 e 29 anos é particularmente vulnerável devido às intensas transformações dessa fase. Segundo Aline. “O jovem ainda está formando sua identidade, e a pressão por resultados, conflitos familiares e desafios sociais podem gerar sentimentos de inadequação e desesperança. A escuta atenta e a aproximação familiar são fundamentais nesse momento.”
Pressão
Ela acrescenta que a pressão por desempenho tem início cada vez mais cedo, afetando inclusive crianças. “Hoje em dia as crianças têm uma agenda executiva. Elas têm a escola e, depois, compromissos um seguido do outro. Essa ideia de performance já na infância e na adolescência traz muito sofrimento. Esses fatores combinados têm relação com o aumento dos números de suicídio e tentativas nessa faixa etária.”
Atenção aos sinais
Aline também destaca a importância de buscar profissionais de saúde adequados e capacitados para o tratamento. “É sempre importante a gente pensar que esses sofrimentos, esses sinais de sofrimento, não podem ser ignorados. Eu escuto muito isso: ‘quem vai cometer suicídio não fala, a pessoa vai lá e faz’. Isso não é verdade. Tem pessoas que falam e fazem, e tem pessoas que não falam e também fazem. Não existe regra. Muitas pessoas, quando falam sobre os pensamentos ou sobre as tentativas de suicídio, estão pedindo ajuda. Por isso, é fundamental não ignorar esses sinais. As escolas, principalmente, onde crianças e adolescentes passam muito tempo, devem perceber os sinais, escutar, acolher, orientar e buscar profissionais capacitados.”
Ela ressalta que não é possível apontar um único fator como causa do suicídio, que pode estar relacionado a depressão em agravamento, trauma, término de relacionamento ou dificuldades financeiras. “Nem toda pessoa que comete suicídio estava depressiva. É importante rever o que é a depressão, pois muitas vezes, no senso comum, acredita-se que a pessoa deprimida está sempre triste e isolada. Mas há quem cumpra suas atividades, se relacione, converse normalmente e ainda assim esteja em sofrimento, sem se sentir bem, valorizada ou querida.”
Segundo Aline, o suicídio não está restrito à depressão, mas a fatores como dor emocional profunda, angústia e principalmente desesperança. “Essa sensação de não enxergar solução ou outro caminho está muito presente nos casos de suicídio e tentativa. Pode ser um trauma impactante, uma experiência com consequências prolongadas ou uma dor intensa que leva a esse sentimento de desesperança.”
Escuta qualificada como prevenção
O CVV (Centro de Valorização da Vida), fundado em 1962 em São Paulo, é uma associação civil sem fins lucrativos e filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública Federal desde 1973. A instituição oferece apoio emocional e prevenção do suicídio gratuitamente, com total sigilo e anonimato, por telefone (188), chat, e-mail e atendimento presencial. Hoje, o CVV realiza mais de 2,7 milhões de atendimentos por ano, com cerca de 3.300 voluntários espalhados por 20 estados e o Distrito Federal.
Segundo Silvana Calheiros, voluntária do CVV, a escuta humanizada pode salvar vidas, afirmando que “a conversa pode transformar vidas. Quando a pessoa está sufocada por estresse, ansiedade ou depressão, desabafar proporciona alívio e ajuda a pensar em soluções, prevenindo que chegue ao ponto de tentar contra a própria vida.”
Ela reforça que o CVV oferece atendimento sigiloso e gratuito 24 horas por dia pelo telefone 188, chat e e-mail, em todo o Brasil. A instituição possui mais de 60 anos de atuação e preserva o anonimato e a dignidade de quem procura ajuda.
A psicóloga Aline reforça que o diálogo com profissionais ou pessoas de confiança ajuda a reorganizar os pensamentos e reduzir a chance de ações extrema. “Quando a pessoa consegue expressar sua angústia, mesmo que seja por pouco tempo, ela sente alívio emocional e pode buscar soluções para seus problemas.”
Papel da sociedade e das campanhas de conscientização
Silvana e Aline concordam que a prevenção envolve toda a sociedade. Silvana afirma que “é importante que todos fiquem atentos ao que está ao redor e estejam disponíveis para ouvir. Muitas vezes, a pessoa não precisa de conselhos, mas de acolhimento e compreensão.”
Aline complementa que campanhas como o Setembro Amarelo ajudam a conscientizar sobre a importância do diálogo e do cuidado emocional, reforçando que “mostrar à sociedade que falar sobre suicídio salva vidas é essencial. “Precisamos de atenção coletiva, escolas, empresas e famílias envolvidas, promovendo espaços de diálogo e cuidado emocional.”
Voluntariado e engajamento
O CVV oferece oportunidades para quem deseja ser voluntário. “O voluntário passa por um curso preparatório de dois a dois meses e meio, aprende a ouvir e acolher e, após essa formação, é bem-vindo para integrar a rede de apoio. Quem ajuda, ganha tanto quanto quem recebe a ajuda”, relata Silvana.
Ela ainda reforça a filosofia da instituição, “não deixar a dor acumular é como evitar que um copo transborde. Falar, compartilhar sentimentos e procurar apoio pode salvar vidas.”
Para mais informações ou para se voluntariar, basta acessar cvv.org.br ou ligar para 188.





