quarta-feira, 3 dezembro 2025
ACESSIBILIDADE

Setembro Azul reforça a importância da Libras e da inclusão

'As pessoas pensam que a gente é surda e não tem capacidade, mas a gente tem sim. Nós evoluímos, só precisamos de oportunidade' comenta integrante da Setembro Azul reforça a importância da Libras e da inclusão da comunidade surda
Por
Nicoly Maia

A história de Maria com a Libras (Língua Brasileira de Sinais) começa com um objetivo: melhorar a comunicação. É assim que ela inicia seu relato sobre a trajetória com a Libras, traduzido pela intérprete Maria Regina Mouraes. Além dos gestos com as mãos, a expressão corporal também é essencial para o entendimento.

Logo cedo
Aos seis anos Maria começa a frequentar uma comunidade de surdos para melhorar a sua comunicação, ela relembra que foi um desafio, sabia pouco sobre a língua de sinais. Mas foi exatamente o contato com a comunidade surda que ajudou a se desenvolver. 

“Já fui muito caçoada por ser surda, mas hoje existe um trabalho de empatia para as pessoas deixarem de lado o preconceito. A gente precisa batalhar, amar a si em primeiro lugar, focar no que deseja e deixar de lado coisas preconceituosas para seguir em frente.”

O mês de setembro é marcado por datas importantes para a comunidade surda. Foto: Ana Machado/TV TODODIA

Maternidade 
Maria tem dois filhos ouvintes, um menino e uma menina, de 11 e 7 anos. Ela comenta que eles já sabem Libras. “Eles me ajudam na interpretação quando preciso. Mesmo sendo básicos, já me ajudam muito.”

No caminho da maternidade também encontramos Danielle Cristina Gomes Succi, que tem três filhos ouvintes. Seu marido também é surdo. Quando pais são surdos e filhos ouvintes, essas crianças são chamadas de CODA (Child of Deaf Adults). Elas geralmente crescem bilíngues (Libras e Português) e muitas vezes assumem, desde cedo, o papel de intérpretes informais dos pais.

“Aí nós fomos ensinando Libras básicas para ele. Ele foi crescendo, aprendendo ao me ver sinalizar e também ao ver o pai sinalizar”, relata Danielle.

O diagnóstico
Danielle conta que sua surdez começou ainda na infância: “Quando eu era criança, nasci ouvinte, mas aos seis meses tive uma febre muito alta e uma infecção no ouvido. Escorreu um líquido amarelo, minha mãe percebeu e me levou ao hospital. Foi então que ela descobriu que eu estava começando a perder a audição. Ela ficou muito preocupada, levou-me a vários médicos e fiz tratamento. Cresci, encontrei a comunidade surda e fui aprendendo Libras desde pequenina.”

Ela reconhece que nem sempre houve empatia: “Às vezes as pessoas não tinham empatia comigo, mas eu seguia minha vida e não me importava.”

Acessibilidade 
Maria e Danielle concordam que ainda existe falta de acessibilidade em locais públicos, como consultórios médicos e bancos. A ausência de intérpretes pode gerar consequências graves, como a aplicação de medicação inadequada ou a dificuldade em realizar necessidades básicas em determinados ambientes.

Regina atua como intérprete de Libras desde 2009, motivada por um curso realizado dois anos antes durante a faculdade. Ela lembra que, na época, poucos profissionais dominavam a Libras e que a lei que garantia a presença de intérpretes nas escolas, ainda estava em implementação. “A diretoria de Americana começou a procurar pessoas com conhecimento básico da Libras e me chamou. No início, recusei, pois sabia pouco e tinha receio, mas aceitei após ser convidada a fazer um curso em São Paulo para aprofundar meu conhecimento”, relata.

Regina atua como intérprete de Libras desde 2009. Foto: Ana Machado/TV TODODIA

Desde então, Regina se dedica ao estudo contínuo da Libras, e destaca a importância do contato diário com a comunidade surda para ampliar seu vocabulário e fluência. Ela ressalta que o trabalho de intérprete não é apenas traduzir sinais, mas também promover inclusão e acessibilidade.

Segundo ela, o Dia do Surdo, comemorado em setembro, reforça essa luta. “Antes da Libras ser reconhecida, a comunidade surda sofreu muito. Hoje, o cenário melhorou, mas ainda há lugares sem comunicação. Por isso, cada vez mais precisamos de intérpretes, para garantir acessibilidade e empatia em todos os espaços”, afirma.

Setembro azul
O mês de setembro é marcado por datas importantes para a comunidade surda e para a valorização da acessibilidade no Brasil e no mundo. No dia 23 de setembro celebra-se o Dia Internacional das Línguas de Sinais, instituído pela ONU para reforçar a importância da Libras no processo de inclusão. Já o Dia do Surdo, comemorado em 26 de setembro, foi escolhido por coincidir com a fundação da primeira escola para surdos no país.

Dados na região
A Rede Municipal de Santa Bárbara d’Oeste atende 19 alunos com deficiência auditiva, nove deles com intérprete de Libras em sala de aula. Eles também participam do Atendimento Educacional Especializado (AEE), que garante suporte pedagógico e orienta professores. A cidade promove ações de valorização da comunidade surda, estimada em cerca de 5 mil pessoas.

Em Hortolândia, o Censo IBGE 2022 estima mais de 3 mil moradores com deficiência auditiva. A rede municipal atende 34 alunos, com destaque para a Emef Renato Costa Lima, escola polo para surdos, onde a Libras é ensinada a todas as crianças. A cidade também acompanha famílias CODA, oferece curso de Libras há 14 anos e contratou professores intérpretes por concurso público.

Em Americana, intérpretes de Libras estão presentes nas escolas com alunos surdos, e há estudos para ampliar o serviço em eventos e repartições públicas. O município mantém o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência e realiza campanhas de conscientização, como o Setembro Verde.

De acordo com o Censo IBGE 2022, Campinas possui 3.978 pessoas surdas. A cidade oferece uma rede de serviços voltada à inclusão, autonomia e cidadania desse público. Entre eles estão: o Acessa Libras, plataforma digital disponível 24h; a Central de Interpretação de Libras (CIL); e o Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio, que leva apoio a famílias e previne o isolamento. Também integram a rede o Emprega Bem, que conecta empresas e profissionais com deficiência; o Cartão Bem Acessível; o Programa de Acessibilidade Inclusiva (PAI); e o Guia Digital Caminhos da Inclusão. Há ainda serviços estruturais, como a Coordenadoria Arquitetônica, as Residências Inclusivas, o Centro de Referência da Pessoa com Deficiência (CRPD) e o Centro Dia de Referência, que oferecem suporte contínuo e atendimento integral.

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