O Sindicato dos Comerciários de São Paulo pretende iniciar nos próximos dias negociação com indústrias farmacêuticas para adquirir vacinas contra a Covid-19. O objetivo é imunizar os funcionários do comércio e supermercados.
A entidade conseguiu uma liminar na Justiça que permite que já compre os imunizantes, sem que tenha que entregar as doses para o SUS (Sistema Único de Saúde). Por se tratar de uma liminar, cabe recurso da decisão.
A liminar, concedida ao sindicato pelo juiz Paulo Alberto Sarno, da 5ª Vara Cível Federal de São Paulo, estende a vacinação aos familiares dos funcionários.
De acordo com a lei aprovada em março, entidades da iniciativa privada poderão adquirir vacinas, desde que essas tenham registro ou autorização temporária da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), após o término da vacinação de grupos prioritários. Além disso, 50% das doses deverão ser doadas ao SUS. Um projeto de lei que amplia a possibilidade de compra de imunizante por empresas está parado desde abril no Senado.
“Essas pessoas que trabalham em supermercados, por exemplo, normalmente moram em comunidades carentes, são obrigadas a usar o transporte público e têm uma vulnerabilidade à Covid-19 muito grande. Já que o governo não faz, o sindicato se viu na obrigação de buscar alternativas para priorizar uma categoria que está se dedicando desde o começo”, afirma Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo.
A ideia é priorizar os funcionários dos supermercados e comércio com maior possibilidade de contaminação, que inclui aqueles que lidam diretamente com o público e utilizam transporte público.
O sindicato já tem o aval de redes de supermercados e ainda conduz conversas com algumas multinacionais, mas considera como certo o apoio financeiro para a compra das vacinas e abriu o canal para negociação com as farmacêuticas. O Instituto Butantan também será procurado para negociação.
“Tenho certeza absoluta de que o tema do pagamento é o mais fácil de resolver. O mais difícil é conseguir que as farmacêuticas vendam para nós”, diz.
Concomitantemente, a entidade não descarta a possibilidade de conseguir doação de vacinas. “Nós tivemos uma conversa com o maior sindicato nos EUA, que possui uma relação próxima com o governo. Nós mandamos uma carta ao presidente Joe Biden solicitando a doação de vacinas para os nossos trabalhadores. Caso ocorra a doação, não precisaremos nem de patrocínio e nem de farmacêutica.”
Para as duas doses da vacina, se considerados em um primeiro momento os funcionários que devem ser priorizados por estarem na linha de frente, o sindicato estima que serão necessárias 600 mil doses. No total, o órgão representa 500 mil pessoas.
“Tem muitos trabalhadores do comércio que estão em home office, em áreas administrativas mais protegidas e que não pegam transporte público. Iniciaremos o processo com uma quantidade razoável. Temos que tomar uma decisão equilibrada, porque tudo o que queremos muito, não conseguimos nada. A minha preferência é dar uma opção à atividade que está com problema e aos poucos ampliar”, ressalta.
O processo de imunização no país ocorre a passos lentos.
Na capital paulista, onde a liminar tem validade, até sexta-feira (21) haviam sido aplicadas 4.421.106 doses, sendo 2.959.748 da primeira dose e 1.461.358 da segunda. Os dados são da Secretaria Municipal de Saúde.
A Apas (Associação Paulista de Supermercados) entende que a vacinação dos trabalhadores das atividades consideradas essenciais para a sociedade deveria ser prioritária.
A entidade também esclarece que este assunto está sendo conduzido nacionalmente pela Abras (Associação Brasileira de Supermercados). A reportagem não conseguiu contado com a Abras para comentar o assunto.