
O acidente que matou Alexandre Ferreira Penteado e deixou Leonardo Ramalho Moraes com sequelas graves aconteceu em 11 de maio de 2022, na Rodovia Luiz de Queiroz (SP-304), na altura do km 130. Alexandre tinha 16 anos; Leonardo estava prestes a completar 15.
No carro, quatro adolescentes voltavam de uma peneira de futebol em Nova Odessa quando foram surpreendidos por um caminhão que atravessou o canteiro central da rodovia e atingiu a lateral do veículo em que estavam. O impacto foi causado, segundo a perícia, pelo estouro do pneu dianteiro esquerdo do caminhão, que fez o motorista perder o controle da direção.
Alexandre morreu no local. Leonardo foi socorrido em estado grave e sobreviveu, mas carrega até hoje as marcas físicas e emocionais do acidente. Os outros dois ocupantes também sobreviveram. O motorista e o copiloto do caminhão foram submetidos ao teste do bafômetro, que deu negativo. O veículo foi liberado e guinchado por uma empresa particular.

Segundo a Polícia Civil, o caminhão, pertencente a uma empresa de construção, apresentava más condições no pneu e outras irregularidades. Entre as infrações, constam a condução com equipamentos obrigatórios ineficientes ou fora dos padrões estabelecidos pelo Contran.
A mãe de Alexandre, Jaider Ferreira dos Santos, convive há mais de três anos com a dor da perda. “É muito triste, muito angustiante. Vivo um dia após o outro esperando que a justiça seja feita. O que fizeram com a gente, dinheiro nenhum paga. Se fosse para escolher entre o dinheiro e meu filho, é óbvio que escolheria meu filho aqui comigo.”

Ela afirma que o motorista não prestou socorro e retornou ao local acompanhado por quatro advogados da empresa. “Ele fugiu. Quando voltou, estava com quatro advogados da transportadora. Um deles, inclusive, estava alterado, nervoso, chegou a romper a fita de isolamento. Eles não prestaram nenhum tipo de ajuda.”
Alexandre começou a jogar futebol aos cinco anos. A mãe relembra, com emoção, a frase que ouvia com frequência: “eu vou ser jogador de futebol, já falei pra você. Ninguém tira isso da minha cabeça. Vou viajar o mundo e levar você junto.”

Até hoje, o processo judicial contra a transportadora não avançou. A família nunca foi chamada para audiência. “A justiça é muito lenta. Isso só aumenta nossa dor e o sentimento de impunidade”, afirma Jaider.
Leonardo, sobrevivente do acidente e melhor amigo de Alexandre, estava sentado ao lado dele no momento da colisão. Segundo relato da mãe, Letícia Aparecida Ramalho Moraes, o filho contou que Alexandre estava abaixado, abraçado com ele, segurando uma mochila e uma meia, quando o caminhão surgiu. “O Léo ouviu os meninos gritarem ‘Ai, meu Deus’. Quando olhou para o lado, o Ale ainda estava de cabeça baixa. Foi quando tudo se apagou”, conta.
As sequelas físicas de Leonardo foram graves. Ele quebrou o osso da púbis e a bacia. Fragmentos dos ossos saíram pela uretra, e ele ficou 16 horas sem urinar por conta da coagulação interna. “Ele correu risco de vida. A hemorragia podia atingir o baço. Se sangrasse, ele não sobreviveria”, explica a mãe.

Letícia relata que a empresa responsável nunca entrou em contato com a família. “Meu filho ficou meses em recuperação, internado, sem conseguir andar. Teve que tomar banho de leito, passou da cama para a cadeira de rodas. A fratura era tão grave que não podiam nem mexer nele no início. Mesmo assim, a empresa nunca ofereceu nenhum tipo de apoio, nem sequer uma ligação.”
Além da dor física, Leonardo passou a enfrentar um sofrimento psicológico intenso. Um ano após o acidente, tentou suicídio. “O Ale jogava bola com ele, estudava com ele. O Leonardo teve que parar de estudar, foi internado em casa, não queria mais viver. Perdeu o melhor amigo e teve os sonhos interrompidos.”
Letícia também teve a vida virada do avesso. Precisou deixar o trabalho para cuidar do filho em tempo integral. “Virei enfermeira dele. Dei banho, cuidei quando ele voltou a andar, vigiei o tempo todo por causa das medicações. Ele teve parada respiratória. O médico disse que não sabe como sobreviveu.”

Hoje, Leonardo faz acompanhamento psiquiátrico e psicológico. Tem uma perna mais curta, sente dores constantes e não pode mais jogar futebol. “Esse acidente levou uma vida, tirou um filho e destruiu o sonho do meu menino. Como disse a mãe do Ale, dinheiro nenhum paga. Mas eles precisam ser responsabilizados. A empresa foi negligente. Se sabiam das condições do caminhão, assumiram o risco.”
“Estou me segurando para não chorar. Nada vai trazer o tempo de volta. Mas eu quero justiça. Meu filho sobreviveu por milagre. A dor é diária. Eles têm que pagar pelo que fizeram”, comenta Letícia.