segunda-feira, 7 julho 2025
SONHOS PERDIDOS

‘Só quem perde é quem sente’; mães buscam justiça após acidente fatal na Rodovia Luiz de Queiroz

Família ainda espera respostas da empresa responsável por acidente
Por
Nicoly Maia
Mesmo após três anos famílias buscam justiça pelos seus filhos | Foto: Pedro Lucas/TV TODODIA

O acidente que matou Alexandre Ferreira Penteado e deixou Leonardo Ramalho Moraes com sequelas graves aconteceu em 11 de maio de 2022, na Rodovia Luiz de Queiroz (SP-304), na altura do km 130. Alexandre tinha 16 anos; Leonardo estava prestes a completar 15.

No carro, quatro adolescentes voltavam de uma peneira de futebol em Nova Odessa quando foram surpreendidos por um caminhão que atravessou o canteiro central da rodovia e atingiu a lateral do veículo em que estavam. O impacto foi causado, segundo a perícia, pelo estouro do pneu dianteiro esquerdo do caminhão, que fez o motorista perder o controle da direção.

Alexandre morreu no local. Leonardo foi socorrido em estado grave e sobreviveu, mas carrega até hoje as marcas físicas e emocionais do acidente. Os outros dois ocupantes também sobreviveram. O motorista e o copiloto do caminhão foram submetidos ao teste do bafômetro, que deu negativo. O veículo foi liberado e guinchado por uma empresa particular.

Veículo que voltava com os jovens ficou completamente destruído | Foto: Arquivo pessoal

Segundo a Polícia Civil, o caminhão, pertencente a uma empresa de construção, apresentava más condições no pneu e outras irregularidades. Entre as infrações, constam a condução com equipamentos obrigatórios ineficientes ou fora dos padrões estabelecidos pelo Contran.

A mãe de Alexandre, Jaider Ferreira dos Santos, convive há mais de três anos com a dor da perda. “É muito triste, muito angustiante. Vivo um dia após o outro esperando que a justiça seja feita. O que fizeram com a gente, dinheiro nenhum paga. Se fosse para escolher entre o dinheiro e meu filho, é óbvio que escolheria meu filho aqui comigo.”

De acordo com familiares, o motorista e a empresa não prestaram socorro | Foto: Arquivo Pessoal

Ela afirma que o motorista não prestou socorro e retornou ao local acompanhado por quatro advogados da empresa. “Ele fugiu. Quando voltou, estava com quatro advogados da transportadora. Um deles, inclusive, estava alterado, nervoso, chegou a romper a fita de isolamento. Eles não prestaram nenhum tipo de ajuda.”

Alexandre começou a jogar futebol aos cinco anos. A mãe relembra, com emoção, a frase que ouvia com frequência: “eu vou ser jogador de futebol, já falei pra você. Ninguém tira isso da minha cabeça. Vou viajar o mundo e levar você junto.”

Mãe de Alexandre, Jaider, se emociona ao lembrar dos sonhos do jovem | Foto: Pedro Lucas

Até hoje, o processo judicial contra a transportadora não avançou. A família nunca foi chamada para audiência. “A justiça é muito lenta. Isso só aumenta nossa dor e o sentimento de impunidade”, afirma Jaider.

Leonardo, sobrevivente do acidente e melhor amigo de Alexandre, estava sentado ao lado dele no momento da colisão. Segundo relato da mãe, Letícia Aparecida Ramalho Moraes, o filho contou que Alexandre estava abaixado, abraçado com ele, segurando uma mochila e uma meia, quando o caminhão surgiu. “O Léo ouviu os meninos gritarem ‘Ai, meu Deus’. Quando olhou para o lado, o Ale ainda estava de cabeça baixa. Foi quando tudo se apagou”, conta.

As sequelas físicas de Leonardo foram graves. Ele quebrou o osso da púbis e a bacia. Fragmentos dos ossos saíram pela uretra, e ele ficou 16 horas sem urinar por conta da coagulação interna. “Ele correu risco de vida. A hemorragia podia atingir o baço. Se sangrasse, ele não sobreviveria”, explica a mãe.

As sequelas físicas de Leonardo foram graves | Foto: Arquivo pessoal

Letícia relata que a empresa responsável nunca entrou em contato com a família. “Meu filho ficou meses em recuperação, internado, sem conseguir andar. Teve que tomar banho de leito, passou da cama para a cadeira de rodas. A fratura era tão grave que não podiam nem mexer nele no início. Mesmo assim, a empresa nunca ofereceu nenhum tipo de apoio, nem sequer uma ligação.”

Além da dor física, Leonardo passou a enfrentar um sofrimento psicológico intenso. Um ano após o acidente, tentou suicídio. “O Ale jogava bola com ele, estudava com ele. O Leonardo teve que parar de estudar, foi internado em casa, não queria mais viver. Perdeu o melhor amigo e teve os sonhos interrompidos.”

Letícia também teve a vida virada do avesso. Precisou deixar o trabalho para cuidar do filho em tempo integral. “Virei enfermeira dele. Dei banho, cuidei quando ele voltou a andar, vigiei o tempo todo por causa das medicações. Ele teve parada respiratória. O médico disse que não sabe como sobreviveu.”

Leticia ainda buscas respostas sobre o acidente de 2022 | Foto: Pedro Lucas

Hoje, Leonardo faz acompanhamento psiquiátrico e psicológico. Tem uma perna mais curta, sente dores constantes e não pode mais jogar futebol. “Esse acidente levou uma vida, tirou um filho e destruiu o sonho do meu menino. Como disse a mãe do Ale, dinheiro nenhum paga. Mas eles precisam ser responsabilizados. A empresa foi negligente. Se sabiam das condições do caminhão, assumiram o risco.”

“Estou me segurando para não chorar. Nada vai trazer o tempo de volta. Mas eu quero justiça. Meu filho sobreviveu por milagre. A dor é diária. Eles têm que pagar pelo que fizeram”, comenta Letícia.

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