sábado, 20 abril 2024

Sob sigilo, padre depõe na apuração da igreja

Afastado da Basílica de Americana desde janeiro sob diversas acusações, o padre Pedro Leandro Ricardo foi ouvido ontem, em Limeira, dentro da apuração interna da Igreja Católica aberta para investigar denúncias de crimes de abuso sexual de menores e apropriação indébita de recursos da igreja. O padre nega, mas não fala com a mídia. O depoimento do padre encerrou as oitivas.

O bispo da Diocese de Limeira, Dom Vilson Dias de Oliveira, também é investigado pela Polícia Civil por supostamente ter utilizado recursos da Igreja em benefício particular, além de silenciar sobre os supostos abusos do padre Leandro. Todo o processo foi conduzido por dois padres canonistas e segue em sigilo, sob orientação canônica. O processo será enviado nas próximas semanas ao Vaticano, de acordo com a Diocese de Limeira.

Padre Leandro foi afastado de suas funções à frente da Basílica Santo Antônio de Pádua em janeiro, após o início das investigações pela polícia, que correm em segredo de justiça nos municípios de Limeira, Araras e Americana. Já Dom Vilson, que teria acobertado os atos do padre, continua trabalhando normalmente como bispo diocesano de Limeira. Ambos negam os crimes.

Sete menores, com idades entre 11 e 17 anos, teriam sido identificados como supostas vítimas de crimes sexuais imputados ao padre Leandro nas cidades de Araras e Americana, entre os anos de 2008 e 2015, segundo denúncia da advogada Talitha Camargo da Fonseca, que representa 15 supostas vítimas. Todos os menores apontados pela advogada – cujas identidades são mantidas em sigilo – teriam sido submetidos a contato físico com o religioso.

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Na quinta-feira, os pais de um menor, que teria sido assediado sexualmente em 2015 em Americana, prestaram depoimento no âmbito da investigação instaurada pela Igreja para apurar as denúncias contra o religioso. A oitiva durou quase duas horas e meia.

Outras três testemunhas – dois homens e uma mulher – que seriam vítimas de suposta perseguição do padre também foram ouvidas por cerca de uma hora. Os denunciantes falaram a portas fechadas na Paróquia São João Bosco, na Vila Santa Catarina, em Americana. Nenhum deles quis falar com a Imprensa após as audiências. Mais pessoas, vítimas ou testemunhas de atos do padre, prestaram depoimentos durante a semana em Leme e em Araras.

AÇÃO

De acordo com a advogada, o “modus operandi” do padre Leandro seria sempre o mesmo. “O abusador tem que ter confiança da vítima. Para ter confiança, ele precisa ter proximidade. No caso, o padre tinha proximidade com a comunidade dele, pessoas de 11 a 17 anos que eram acólitos (coroinhas)”, declarou.

Segundo ela, o padre se aproximava dos menores como uma figura paterna e, às vezes, como amigo. “(Ele) Tentava ser o melhor amigo, substituía o pai”, acusa. Quando não aceitavam as investidas e rejeitavam os avanços do padre, os jovens eram supostamente segregados, segundo a advogada. “Sempre ocorre a negativa deles (vítimas), que são expulsos ou processados. Ou seja, além de sofrer a violação da dignidade sexual, ainda sofrem a violação como pessoa. Do tipo assim: você não é mais bem quisto na minha igreja”, afirmou a advogada.

Nem todas as vítimas de crimes sexuais foram chamadas a depor pela Polícia, segundo a advogada. “Por onde ele passou, tem vítima e é isso que a gente vai tentar provar, tanto na Justiça canônica (da igreja) quanto na Justiça comum, para que ele seja processado”.

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