
Francisco de Toledo, historiador piracicabano radicado em Sumaré há quase 50 anos, recebeu a equipe de reportagem da TV TODODIA em sua casa para bater um papo sobre os 157 anos do município, comemorados no dia 26 de julho.
Toledo, que há quase cinco décadas pesquisa a história local, é fundador do Instituto Pró-Memória, entidade criada há cerca de 15 anos para preservar e divulgar o passado sumareense.
Entre os temas abordados, vale destacar o crescimento vertiginoso da cidade nas últimas décadas e os desafios para a integração dos diversos territórios, de forma que Sumaré crie uma identidade enquanto comunidade.
O surgimento de Sumaré está diretamente ligado à chegada da ferrovia. Segundo o historiador, o município começou a se formar ao redor da Estação Rebouças, inaugurada em 1872 e batizada em homenagem ao engenheiro negro André Rebouças, responsável pela obra.
Antes dos trilhos, por volta de 1750, a área era coberta por mata fechada e percorrida apenas por caminhos que conectavam Campinas, Piracicaba, Santa Bárbara e outros povoados. Com a implantação da estrada de ferro, surgiram as primeiras casas, uma igreja, pequenos comércios e atividades agrícolas, formando o vilarejo que mais tarde daria origem ao município.
‘REBOUÇAS’
O nome “Rebouças” permaneceu até 1945, quando foi necessário alterá-lo. Na época, já existia uma cidade homônima no Paraná, e a legislação não permitia duas localidades com o mesmo nome. Assim, passou-se a chamar Estação de Sumaré — denominação que acabaria batizando todo o município. Sumaré é o nome de uma orquídea muito comum na região.
A importância da ferrovia foi decisiva para o desenvolvimento local. Por ela circulavam passageiros, cargas agrícolas e mercadorias que abasteciam a economia da área. “Era fácil perceber no mapa a relevância da estação. Todo o crescimento estava ligado a ela”, explica Toledo. Dezenas de fazendas de café utilizavam os trilhos para exportar sua produção.
O ritmo de expansão foi lento até meados do século 20. Até 1930, a população somava cerca de 5 mil habitantes. A partir de 1940, no entanto, o cenário começou a mudar. Outro marco importante foi a construção da Rodovia Anhanguera, que fortaleceu a ligação entre a capital paulista e o interior, estimulando o progresso das cidades ao longo de seu trajeto.
INDUSTRIALIZAÇÃO
O principal motor da transformação, porém, foi a chegada das indústrias. A multinacional 3M foi pioneira, instalando-se em 1946. Na década seguinte, novas empresas se estabeleceram às margens da Anhanguera, atraindo trabalhadores de diversas regiões do país.
Esse processo deu início a um intenso movimento migratório. “As rádios anunciavam que Sumaré precisava de mão de obra, que havia emprego. Ao mesmo tempo, a agricultura, principalmente o café, entrou em decadência. Muitas pessoas deixaram suas terras em busca de trabalho”, relata o historiador.
O impacto foi imediato. Na época da emancipação política de Campinas, em 1953, a população girava em torno de 6 mil habitantes. Em uma década, saltou para 15 mil e depois para 23 mil. Na década seguinte, chegou a 100 mil moradores — um crescimento de 400%.
Francisco destaca que Sumaré experimentou um avanço populacional fora do comum: o número de moradores duplicou em uma década, triplicou na seguinte e quadruplicou em pouco tempo. “O problema é que os governantes não souberam planejar nem acompanhar esse ritmo. A cidade acumulou muitas dificuldades estruturais e sociais”, avalia.
A falta de infraestrutura se refletiu na carência de vagas em escolas, na sobrecarga do sistema de saúde e no aumento da criminalidade. “Sumaré virou um caos. O município atravessou duas ou três décadas muito difíceis”, relembra.
Apesar das dificuldades, o historiador observa que a cidade tem buscado soluções nas últimas décadas, com investimentos em educação, saúde e políticas sociais. “Ainda enfrenta muitos desafios, mas precisa resgatar sua história para planejar o futuro”, defende Toledo.